Joellen Perry, The Wall Street Journal, de Paris
Um dos mais graduados diretores do Banco Central Europeu refutou comentários de que a zona do euro esteja despreparada para lidar com uma crise bancária que atravesse fronteiras e afirmou que as autoridades estão estudando uma recente alta das taxas de juros interbancárias para definir qual a melhor maneira de amenizar uma ressurgente tensão nos mercados financeiros.
Em entrevista ao Wall Street Journal, Christian Noyer, membro do Conselho de Governadores do BCE que também dirige o banco central francês, contestou as críticas de que o sistema da zona do euro - no qual a maior parte das tarefas de supervisão e fiscalização é executada por autoridades nacionais dos 14 países que compartilham a moeda - tornaria difícil lidar com a quebra de um grande banco com operações em mais de um país.
"Eu administrei uma crise enfrentada por um banco grande e internacionalmente ativo, assim como alguns de meus colegas", disse Noyer. "Sabemos como fazer isso." Alguns observadores, entre os quais o Fundo Monetário Internacional, expressaram preocupações quanto ao sistema europeu. Os críticos dizem que uma colcha de retalhos de acordos vagos, não-mandatórios pode complicar a gestão da quebra de um banco e provocar um vácuo de liderança que aumentaria o dano econômico.
Noyer, que chama essas críticas de "acadêmicas", disse que as autoridades estabeleceram linhas claras de responsabilidade no caso de um banco da zona do euro quebrar. "Considerações teóricas (...) são apenas isso: um exercício acadêmico realizado por pessoas que estão muito distantes da realidade", disse. "Temos procedimentos, os testamos e sabemos que eles funcionam."
O diretor do banco central francês ressaltou mesmo assim que há margem para melhoras, dizendo que os padrões de supervisão da zona do euro deveriam ser "harmonizados".
Noyer, um moderado no conselho de 21 membros do BCE, em janeiro supervisionou a rápida resolução de um escândalo de transações fictícias que custou ao Société Générale 4,9 bilhões de euros (US$ 7,8 bilhões). Em fevereiro, o governo alemão comprometeu-se com resgate de 1 bilhão de euros do IKB Deutsche Industriebank AG, que quase quebrou em julho, quando seus investimentos relacionados ao mercado americano de créditos imobiliários de alto risco fizeram água. Noyer é presidente do Banco da França desde 2003 e foi vice-presidente do BCE de 1998, ano de sua criação, até 2002.
Na entrevista, Noyer disse que os dirigentes do BCE estão trabalhando junto com os bancos para entender uma nova alta nas taxas do mercado interbancário da zona do euro. Desde que a crise financeira mundial começou, em agosto, o BCE, assim como outros bancos centrais, aumentou o volume de recursos de longo prazo que injetou nos mercados, numa tentativa de amenizar os temores dos bancos quanto a ter caixa suficiente à disposição. Em março, o banco informou que concederia empréstimos de seis meses pela primeira vez, oferecendo 50 bilhões de euros a instituições da zona do euro.
Mas enquanto as taxas do overnight voltaram à meta do BCE, em torno de 4%, as de mais longo prazo voltaram recentemente a subir bastante. Ontem, uma taxa referencial para empréstimos interbancários de três meses em euros chegou a 4,837%, o nível mais alto desde 18 de dezembro.
Tanto o Federal Reserve, o banco central dos EUA, quanto o Banco da Inglaterra começaram a trocar títulos lastreados por hipotecas por obrigações do governo, num esforço para aumentar a disposição dos bancos de conceder crédito ao tirar papéis difíceis de vender. Algumas taxas interbancárias dos EUA e do Reino Unido continuam elevadas. O BCE, que sempre aceitou títulos hipotecários como garantia em suas operações-padrão de mercado monetário, não modificou suas ferramentas drasticamente desde que a crise começou.
Dizendo que a alta das taxas da zona do euro são uma preocupação, Noyer afirmou que os dirigentes do BCE pretendem primeiro entender o avanço mais recente para então considerar novos meios de lidar com ele. Os "custos de funding (dos bancos europeus) não estão de maneira nenhuma refletidos nesse nível anormal", disse. Ele acrescentou que, embora a causa da recente alta continue obscura, ele acredita que o desejo dos bancos de manter caixa para as próprias necessidades imprevistas, bem como temores quanto ao risco de crédito dos bancos a que emprestam, continuam no centro da tensão.
"Através de nossos contatos próximos ao setor bancário, primeiro estamos no processo de entender precisamente o que motivou as mais recentes ocorrências e vamos então encontrar a maneira apropriada de ajudar o mercado a se mover na direção certa", disse Noyer. "Acho que isso não vai durar, mas não acho que possamos tolerar a continuação dessas tensões."
Temores de que alguns bancos possam não estar divulgando as taxas reais que pagam em empréstimos interbancários levaram representantes da indústria bancária britânica a lançar, semana passada, uma investigação sobre possíveis irregularidades na Libor, a taxa do interbancário de Londres.
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