Por Jeffrey D. Sachs
A reunião de cúpula do G-8 no Japão, neste mês, foi uma dolorosa demonstração do estado lastimável da cooperação mundial. O mundo está numa crise cada vez mais profunda. Os preços dos alimentos decolaram. As cotações do petróleo encontraram os maiores patamares históricos. As principais economias mundiais encaminham-se para a recessão. As negociações sobre as mudanças climáticas andam em círculos. O socorro aos países pobres está estagnado, apesar de anos de promessas de aumentos. Ainda assim, nesta tempestade em formação, foi difícil encontrar um único comprometimento dos líderes mundiais.
O mundo precisa de soluções globais para problemas globais, mas os líderes dos países do G-8 não as apresentaram. Como praticamente todos os líderes políticos que foram ao encontro são altamente impopulares em seus países, poucos mostram qualquer liderança global. São fracos individualmente e ainda mais fracos quando se juntam e exibem ao mundo sua inabilidade para mobilizar ações reais.
Há quatro problemas profundos. O primeiro é a incoerência da liderança dos EUA. Embora estejamos bem além do tempo em que o s EUA sozinhos tinham condições de solucionar problemas globais, o país não tenta nem ao menos encontrar soluções globais conjuntas. A disposição para cooperação global, frágil mesmo no governo Clinton, desapareceu por completo durante a administração Bush.
O segundo problema é a falta de fundos globais. A crise de fome pode ser dominada nos países pobres se eles receberem ajuda para cultivar mais alimentos. As crises do clima e das fontes de energia globais podem ser dominadas se o mundo investir, junto, no desenvolvimento de novas tecnologias energéticas. Doenças como a malária podem ser superadas por meio de investimentos coordenados mundialmente no controle de enfermidades. Os oceanos, florestas tropicais e atmosfera podem ficar seguros por meio de investimentos comuns na proteção ambiental.
Soluções globais não são caras, mas também não são gratuitas. Soluções globais para a pobreza, produção de alimentos e desenvolvimento de novas tecnologias de energia limpa exigirão investimentos anuais em torno a US$ 350 bilhões, o equivalente a 1% do Produto Nacional Bruto (PNB) do mundo rico. Isto, obviamente, é um preço acessível e modesto se comparado aos gastos militares, mas está muito longe da mísera ração que o G-8 leva de fato para a mesa de negociações para resolver desafios prementes como esses. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, fez uma tentativa corajosa para convencer o resto da Europa a honrar os modestos compromissos de socorro do encontro de cúpula do G-8 em 2005, mas foi uma luta dura, que não foi vencida.
O terceiro problema é a desconexão entre o conhecimento científico global e os políticos. Cientistas e engenheiros desenvolveram várias formas eficientes para resolver os desafios atuais, seja de cultivo de alimentos, controle de doenças ou proteção do ambiente. E esses métodos tornaram-se ainda mais eficazes nos últimos anos, com os avanços na tecnologia das comunicações e da informação, que tornam a identificação de soluções globais e sua efetivação mais fáceis do que nunca.
O quarto problema é que o G-8 ignora as próprias instituições internacionais - mais notavelmente a ONU e o Banco Mundial - que representam a maior esperança de adoção de solução globais. Essas instituições, freqüentemente, são privadas de apoio político, recebem fundos insuficientes e, então, são culpadas pelo G-8 quando os problemas globais não são resolvidos. Em vez disso, deveriam receber autoridade e responsabilidades claras para, então, ficarem sujeitas a prestar contas pelo seu desempenho.
O presidente Bush pode estar alheio demais para admitir que seu índice de desaprovação de 70% entre os eleitores dos EUA, historicamente alto, está relacionado ao fato de que seu governo voltou as costas para a comunidade internacional - e, com isso, ficou preso em uma crise econômica e bélica. Os outros líderes do G-8, aparentemente, conseguem ver que a própria impopularidade em seus países está fortemente relacionada à crise dos altos preços dos alimentos e energia e ao clima e economia globais instáveis, que não podem combater sozinhos.
A partir de janeiro de 2009, com um novo presidente nos EUA, os políticos deveriam aproveitar a melhor chance para sua própria sobrevivência e, é claro, para o bem-estar de seus países, revigorando a cooperação global. Deveriam concordar em abordar metas globais comuns, como o combate à pobreza, fome e doenças (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio), além de questões como as mudanças climáticas e a destruição ambiental.
Para atingir esses objetivos, o G-8 deveria fixar cronogramas de ação e acordos transparentes sobre como financiá-los. A medida mais sensata seria acertar que cada país taxasse suas emissões de gás carbônico para reduzir as mudanças climáticas e, então, destinasse uma quantia fixa dos recursos obtidos para a solução de problemas globais. Com os fundos assegurados, o G-8 passaria rapidamente de promessas vazias para políticas de verdade.
Sustentados por um financiamento adequado, os líderes políticos mundiais deveriam voltar-se para a comunidade de especialistas científicos e organizações internacionais para ajudar na adoção de esforços verdadeiramente mundiais. Em vez de considerar a ONU e suas agências como concorrentes ou ameaças à soberania nacional, deveriam reconhecer que trabalhar com estas é, na realidade, a única forma de resolver problemas mundiais e, portanto, a chave para sua própria sobrevivência política.
Esses passos básicos - chegar a um consenso sobre metas globais, mobilizar os fundos necessários para alcançá-las e identificar o conhecimento científico e as organizações necessárias para ajudar a efetivar as soluções - são uma questão de lógica administrativa. Alguns podem ridicularizar esta abordagem como algo impossível na esfera mundial, porque todos os políticos são locais. No entanto, hoje todos os políticos dependem de soluções mundiais para sua própria sobrevivência política. Isso, por si só, poderia tornar as soluções, agora vistas como fora de alcance, habituais no futuro.
O tempo é curto, pois os problemas mundiais acumulam-se rapidamente. O mundo passa pela maior crise econômica em décadas. É hora de dizer aos líderes do G-8: "organizem-se ou nem se incomodem em reunir-se no próximo ano". É muito constrangedor ver homens e mulheres já crescidos reunirem-se para fotos vazias.
Jeffrey D. Sachs é professor de economia e diretor do Instituto Terra da Universidade da Colúmbia. É também assessor especial do secretário-geral da ONU para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. © Project Syndicate/Europe´s World, 2008. www.project-syndicate.org
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