O GRANDE público segue perplexo a respeito das reais proporções do desastre. Por onde tenho andado, de cada 10 pessoas bem informadas, 9 gostariam de acreditar que sua vida e seu negócio passarão incólumes. Torço por isso, todos os dias. Mas sei, também, que se trata de esperança inútil. Preferível seria prepararmo-nos para tempos difíceis. É a única fórmula de abreviar e mitigar os efeitos de propagação da crise no Brasil.
Nosso país foi pego, outra vez, desprevenido, enquanto comemorava o fim da sua própria crise, a dos anos 90. Enquanto o Brasil se aprumava, o mundo vivia a maior farra de crescimento de todos os tempos, também a primeira a tornar planetários tanto os benefícios da expansão da renda mundial como os espasmos sistólicos do ajuste recessivo.
A persistente negação do fim da bonança, no mundo, gerou o outubro negro das Bolsas e dos mercados de commodities. Injeções de liquidez, primeiro por Greenspan e, agora, pelos Tesouros dos EUA, Europa e Japão, prolongarão o tempo de ajuste. No Brasil, a negação produziu uma bolha de valores neste ano.
Mais uma vez, dançamos no escuro, num baile de facas. O "investment grade", dado por algumas agências de risco, nos encheu de esperança (cadê o benefício, agora?). E a riqueza à vista do pré-sal embriagou-nos de felicidade (e se o petróleo cair a US$ 40?). À véspera da tempestade, brincávamos do lado de fora.
Haveria um jeito de tirar proveito da crise? Antes de tudo, devemos defender o regime monetário do real, base da ainda incompleta queda da pobreza no Brasil. Mudou a ênfase da política econômica: juros muito altos e compulsórios exagerados, o que condicionava o câmbio para parecer artificialmente valorizado.
Agora, os tempos recessivos exigem ênfase exportadora. Mas não só por estímulo do câmbio. Este, aliás, não pode sair do seu novo limite atual, já estressado, sob pena de minar a confiança no real. A defesa da moeda está, justamente, numa contenção momentânea da demanda interna, pelos itens de gasto que mais se expandiram nos anos recentes: são, pela ordem, as despesas correntes do governo e o consumo privado das famílias. Estas já começaram a fazer sua parte. Corre-se o risco até de uma retração exagerada, por precaução das pessoas. Portanto é o consumo do governo que deve ser contido, ao contrário do que se propala na mídia, em torno de um suposto resgate da fórmula "keynesiana" de lidar com crises desse feitio. Não é de Keynes, é de anti-Keynes que precisamos.
Talvez quem possa arriscar uma ampliação do déficit de governo sejam os EUA, que emitem moeda de reserva. Não nós. Neste momento, as políticas laxativas do Tesouro e do Fed dos EUA perigam levar o dólar até a zona do descrédito como moeda-lastro das transações mundiais. A receita do recém-Nobel Paul Krugman, de "esquecer o tamanho do déficit e gastar", não só é temerária para o país dele -o que não vem ao caso, neste curto comentário -mas é puro suicídio da estabilidade e da incipiente prosperidade no nosso frágil Brasil.
E como faríamos o truque de sair fortalecidos desta crise? Justamente encarando o desafio de promover o avanço nas reformas, para obter drástica redução do "custo Brasil", além de maior flexibilidade e treinamento da mão-de-obra, e intensa colaboração público-privada. É a confiança do empresário na perspectiva do seu negócio que ampliará as chances de todos. Nem céu, nem inferno. É na crise que se testa a solidez de cada avanço.
PAULO RABELLO DE CASTRO, 59, doutor em economia pela Universidade de Chicago.
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*12/24/24 - Albert Einstein famously observed that "We cannot solve our
problems with the same thinking we used when we created them". In other
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