Muita especulação marcou a véspera do encerramento de abril nos mercados de câmbio e juros. Os "comprados" em dólar nos pregões de derivativos cambiais da BM&F anabolizaram a influência de alta exercida pela deterioração da conta corrente do balanço de pagamentos, não porque estão sinceramente prevendo uma depreciação cambial danosa à inflação, mas apenas para ganhar dinheiro. Os fundos de investimento nacionais ampliaram na segunda-feira de US$ 3,71 bilhões para US$ 4 bilhões suas posições "compradas" em cupom cambial e dólar futuro. Estes contratos serão liquidados pela taxa oficial de câmbio (a "ptax") de hoje. Como a maior parte da "ptax" do dia é formada no período matinal, o que concentra maior volume de operações, prevê-se mais uma manhã de alta e um período vespertino de queda se o Federal Reserve (Fed) não surpreender e reduzir o juro básico americano em 0,25 ponto, para 2%.
A puxada de preços feita ontem pelos fundos "comprados" foi vigorosa. De manhã, o dólar chegou a ser cotado a R$ 1,7140, em disparada de 1,48%. Fechou mais comportado, mesmo assim com valorização de 0,94%, a R$ 1,7050. A ampliação do déficit em conta corrente não justifica a alta de 2,28% registrada pela moeda em apenas dois dias. Depois do déficit de US$ 4,43 bilhões contabilizado em março, as instituições estão revendo para cima o rombo projetado para o ano, mas isso não significa reversão da tendência principal de apreciação cambial. As maiores remessas líquidas de lucros e dividendos e a ampliação dos gastos com viagens internacionais levaram a LCA Consultores, por exemplo, a rever o déficit em conta corrente dos US$ 16 bilhões estimados anteriormente para US$ 21,5 bilhões. "Esta ampliação do déficit em conta corrente, contudo, não deverá eliminar a tendência de apreciação do real, que deve persistir neste e no próximo ano. Isto porque a perspectiva é de que a entrada de dólares relativos a investimento se mantenha forte, ou até mesmo se intensifique, caso o país receba o investment grade", diz a LCA.
Por causa disso, é razoável esperar que continuem sobrando dólares no mercado doméstico, o que sustenta a expectativa de que o real mantenha sua tendência de apreciação. Poderá haver uma maior volatilidade por conta da redução do excesso de moeda, mas não se espera uma guinada de rota. Mesmo na hipótese de o Fed, após cortar a taxa básica para 2%, sinalizar o encerramento do ciclo de afrouxamento deslanchado em setembro do ano passado. Esta expectativa já fez o dólar se valorizar ontem frente as principais moedas globais, com consequente queda de preço das commodities. A mais especulativa delas, o petróleo, tombou feio. O barril fechou cotado a US$ 115,63 em Nova York, em retrocesso de 2,63%. A expectativa dos analistas é de que o Fed tenderá a conferir prioridade ao combate à inflação, deixando em segundo plano a recuperação da atividade econômica. Indicadores fracos, como os surgidos ontem, não sensibilizam mais o Fed. De acordo com dados do instituto Conference Board, o índice que mede a confiança do consumidor americano recuou de 65,9 em março para 62,3 em abril. E o ritmo de queda dos preços das casas acelerou-se. O indicador que mede esses preços em 20 áreas metropolitanas acusou declínio de 12,7% em fevereiro comparativamente a fevereiro de 2007.
No mercado futuro de juros da BM&F, a especulação altista destinada a valorizar as propostas ao leilão primário de títulos públicos realizado ontem pelo Tesouro Nacional se serviu do IGP-M acima das expectativas para puxar fortemente as projeções de CDI durante a manhã. À tarde, encerrado o leilão, a febre baixou. O IGP-M fechado de abril acusou alta de 0,69%. Embora em desaceleração frente a março, quando subiu 0,74%, o índice freou menos do que o previsto pelos analistas, que apostavam em 0,47%. As instituições invocaram a necessidade de o BC prolongar o ciclo de aperto monetário iniciado este mês como argumento para jogar o contrato c om vencimento em janeiro de 2010 para quase 14% no pregão matinal, ante 13,83% na véspera. Puro delírio especulativo. Estavam na verdade forçando o Tesouro a aumentar a remuneração dos papéis prefixados. Depois do leilão, o janeiro 10 caiu a 13,85%. O Tesouro aceitou o pedido dos bancos e vendeu 800 mil LTNs, no valor de R$ 671,40 milhões. Todas as 1,5 milhões de LFTs oferecidas também foram aceitas, girando R$ 5,152 bilhões. Contratos descasados com os prazos de vencimento das LTNs até caíram. Foi o caso do CDI com vencimento em janeiro de 2012, que cedeu de 13,93% para 13,91%.
Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças
luiz.guimaraes@valor.com.br
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