Alex Ribeiro, de Brasília
O Tesouro Nacional avalia a possibilidade de fazer uma nova captação no mercado internacional, cumprindo sua estratégia de melhoria do passivo externo indicada em seu plano anual de financiamento. "O momento de voltar ao mercado internacional ficou mais próximo depois da concessão do grau de investimento pela Standard & Poor's", informa o secretário-adjunto do Tesouro, Paulo Valle.
O governo não precisa de dinheiro novo - na realidade, esta fazendo resgates líquidos de dívida. Mas o Tesouro tem interesse de fazer novas captações para reforçar alguns pontos de sua curva internacional de juros. De um lado, estão sendo recomprados títulos com baixa liquidez e que são negociados acima de seu valor de face. São papéis que pagam prêmio no mercado secundário e que, por isso mesmo, permitem que o Tesouro tenha lucros contábeis na sua recompra antecipada.
De outro lado, faz parte da estratégia do Tesouro reforçar dois pontos da sua curva de juros, com prazos de 10 anos e de 30 anos. Hoje, existe um volume de R$ 2 bilhões em títulos soberanos com vencimento em 2017 e de R$ 2,5 bilhões com vencimento em 2037. A avaliação é que, para aumentar ainda mais a liquidez desses papéis, o ideal é que esses volumes sejam aumentados para R$ 3 bilhões.
Na visão do Tesouro, se os volumes de papéis nesses dois vencimentos aumentarem, sua negociação no mercado secundário se tornará mais intensa, reduzindo o prêmio por liquidez. O resultado será o pagamento de juros menores, caso o Tesouro decida voltar a se financiar no mercado internacional. Empresas também pagarão juros menores nas suas captações, já que a curva de juros do Tesouro serve de referência para o setor privado.
Valle disse que a elevação do país a grau de investimento derrubou ainda mais os juros dos papéis brasileiros. "O mercado, na prática, já vinha tratando os títulos brasileiros como grau de investimento, na medida em que os juros caíram para níveis pagos por países bem classificados pelas agências."
Um exemplo: nos últimos meses, os juros dos títulos brasileiros chegaram muito próximos aos pagos pelos papéis do México, que já há alguns anos conquistou o grau de investimento. Na sexta-feira, depois da concessão do grau de investimento, os títulos brasileiros com prazo de 30 anos estavam pagando 5,85% ao ano, abaixo da remuneração dos mexicanos, que pagavam 6,01% no mesmo dia.
Para Valle, o fato de o Brasil pagar menos do que o México reflete os fundamentos favoráveis da economia brasileira, como uma pauta de exportação diversificada, alto volume de reservas internacionais e reduzida dependência da economia americana. A mais recente captação da República aconteceu em junho de 2007, com a reabertura de um papel com vencimento em 2028. Desde então, o Tesouro tem se resguardado, em virtude do ambiente de maior incerteza no mercado internacional. "A estratégia se mostrou acertada", disse. Os prêmios aumentaram, o que tornou o momento mais favorável para fazer resgates de pontos desfavoráveis na curva.
Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em entrevista para a rádio CBN, que o governo poderá vir a aumentar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), hoje em 1,5% sobre o ingresso de capitais estrangeiros dirigidos a renda fixa, caso a concessão de grau de investimento leve a um aumento nesse fluxo. "Já criamos o IOF , de 1,5%, para tentar inibi-lo. Se for preciso, cria-se mais, o Conselho Monetário (Nacional) saberá o momento adequado de discutir isso", disse o presidente. "Acho que temos que ter mecanismos para não misturar o dólar que entra para o setor produtivo, para construir uma fábrica, para gerar um emprego, com o dólar que vem para a especulação."
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