ANA PAULA CARDOSO
DO JORNAL DO COMMERCIO
Aeducação financeira, ou a falta dela, é tema recorrente para quem trabalha diretamente com o mercado financeiro. O assunto é preocupação inclusive da Comissão de Valores Mobiliário (CVM) que participa do plano nacional de educação financeira. Um dos objetivos mais revolucionários do projeto é criar a cadeira de educação financeira no currículo do ensino público nacional. O Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização (Coremec) criou o grupo de trabalho a fim de desenvolver e propor a chamada Estratégia Nacional de Educação Financeira.
A meta do Grupo, composto por representantes do Banco Central (BC), da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e da Secretaria de Previdência Complementar, além da autarquia e de outras entidades, é definir uma proposta de política pública voltada para a educação financeira de toda a população, sejam adultos ou crianças. A grande inovação do projeto é a inclusão do programa de aprendizado em finanças na grade curricular do ensino público fundamental e médio. Para isso, a comissão já conta coma aprovação do Ministério da Educação.
Novembro próximo é o prazo para a comissão aprontar a primeira etapa, que é medir o nível de educação financeira do País. A partir do levantamento feito através de pesquisas e da interseção de resultados de pesquisas anteriores, a idéia é ter em mãos, pela primeira vez na história do Brasil, um diagnóstico completo sobre o grau de educação financeira da população brasileira. "Esta etapa é fundamental para, depois de implantadas as ações, mensurarmos a eficácia através de nova pesquisa", informou José Alexandre Vasco, superintendente de proteção e orientação aos investidores da CVM.
Ao conversar com Vasco, percebe-se que ele é um entusiasta da idéia. "A educação financeira é uma verdadeira preocupação mundial de todos os órgãos ligados ao mercado". Engana-se quem pensa que a falta de conhecimento em finanças seja mérito de economias emergentes. Países como Estados Unidos e Reino Unido também buscam o avanço na seara educacional, visando ao melhor controle de gastos e escolha dos produtos financeiros mais adequados pela população. De acordo com levantamento feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, na sigla em inglês), dos 33 países de economia desenvolvida no mundo, apenas 17 já fazem o primeiro passo, que é a pesquisa de diagnóstico.
Neste contexto, chama atenção uma iniciativa da Índia, com o trabalho da ONG Aflatoun, que começou a educar crianças entre 6 e 14 anos. Em uma sociedade dividida por castas, filhos de famílias muito pobres transformaram-se em multiplicadores dentro de suas casas, ensinando seus pais a cuidarem melhor do dinheiro. "Educação financeira se justifica inclusive em países menos favorecidos economicamente. Neles as populações são vítimas potenciais de ofertas predatórias de produtos financeiros", ressaltou Vasco.
do mercado. Para Vasco, superintendente da CVM, não é de hoje que se percebe um movimento do próprio mercado financeiro para difundir informações entre os investidores em potencial. Por isso é crescente o número de corretoras que montam estruturas educativas para clientes em potencial. Projetos de amplitude como o de educar financeiramente a população, são importantes não só para criar um mercado financeiro mais sólido, menos dependente dos investidores estrangeiros, mas também pode evitar os endividados de amanhã.
No momento em que o Brasil vive sua melhor fase de solidez econômica, faz-se a oportunidade para desenvolver de vez a cultura financeira em nossa sociedade. "O projeto Estratégia Nacional de Educação pretende contribuir para gerar uma sociedade com melhor capacidade de escolha dos investimentos e de consumo. Sabemos que isto é para ser estabelecido nas próximas gerações, daqui a 20 ou 30 anos, talvez", completou Vasco.
O Grupo de trabalho do plano de estratégia Nacional de Educação Financeira também é constituído por associações e outras entidades representativas do mercado financeiro que já desenvolvem ações de educação financeira e aderiram, de forma voluntária, à iniciativa, como: Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca); Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid); Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima); Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec); Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F); Bolsa de Valores de São Paulo ( Bovespa); Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI) e Instituto Nacional de Investidores (INI).
Serviço na internet
Para mais informações sobre iniciativas de educação financeira no Brasil e no mundo:
www.portaldoinvestidor.gov.br
Lançado em maio de 2007, este espaço, criado pela CVM, compensa o investidor que ainda seja pouco familiarizado com os termos financeiros e jargões específicos do mundo dos investimentos. Totalmente voltado para o investidor pessoa física, é de fácil navegação e interativo. A facilidade de acesso para deficientes visuais e auditivos é um difrencial. Os vídeos têm descrição em áudio e legendas
www.aflatoun.org
A ONG indiana dedicada a levar educação financeira a crianças. Quem acha que finanças não combinam com sentimentos nobres como solidariedade e fraternidade, vai se surpreender. A missão da ONG que nasceu na Índia e hoje está sediada na Holanda é, simplesmente, equipar as crianças com os conhecimentos e as competências para se tornarem cidadãos economicamente auto-suficientes e lhes conferir poderes para quebrar o ciclo da pobreza. A amplitude do tema exige que se contratem um serviço de tradução urgente. Faz falta a ausência de outras línguas, além do inglês.
www.economist.com/displaystory.cfm?story_id=10958702
Entre neste endereço do jornal americano "The Economist" e leia a matéria sobre educação financeira. O leitor poderá confirmar que, especialmente após a crise dos créditos imobiliário de alto risco dos EUA (subprime), mesmo os países mais poderosos do mundo tornaram-se entusiastas do assunto. Aproveite e navegue por um dos maiores jornais de economia do planeta. Exige conhecimentos em inglês.
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