Denise Abarca, Silvana Rocha e Claudia Violante
Da Agência Estado
Acurva de juros futuros empinou com a reação furiosa do mercado à decisão do governo de não elevar a meta formal de superávit primário para este ano e especulações sobre um IGP-10 de maio muito ruim hoje. Os contratos de DI para 2009 e 2010, mais negociados na BM&F, fecharam nas taxas máximas.
A reação furiosa do mercado de juros na sessão regular da BM&F ao fato de que o governo não vai elevar formalmente a meta de superávit primário para este ano, somada às especulações sobre um IGP-10 de maio muito ruim hoje colocou as taxas em níveis ainda mais estratosféricos nesta quarta-feira. O DI janeiro de 2010 (332.003 contratos) fechou na máxima de 14,42%, de 14,2% ontem, e o DI janeiro de 2009 (164.079 contratos) também terminou no patamar mais alto do dia, em 13,12%, ante 13,02% da véspera.
Em menor medida, o julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) apresentada pela União no STF, que acabou sendo suspenso, também teria ajudado a pressionar as taxas. A causa tributária, se perdida, pode gerar perdas estimadas em cerca de R$ 76 bilhões aos cofres públicos.
A forte redução de posições vendidas em taxas de juros foi detonada logo pela manhã, em continuação ao que se tinha visto no after market ontem, com o mercado retomando a percepção de que a Selic poderá ter de subir muito mais para aplacar o ímpeto inflacionário. Segundo cálculos de analistas, a curva a termo precifica alta superior a quatro pontos porcentuais para a Selic em 2008, com o avanço de 0,75 ponto predominando nas apostas para o encontro do Copom de junho.
O economista-chefe da CM Capital Markets, Tony Volpon, afirma que o ciclo aperto monetário pode ser forte, mas não necessariamente com doses mais altas. "Não há razão para acelerar o ritmo para 0,75 ponto. Uma seqüência de 0,50 ponto me parece mais razoável", comentou ele, em entrevista ao AE Broadcast Ao Vivo. Volpon mantém aposta de Selic até o final do ano em "pelo menos" 14,25%. "Seria o mínimo (de alta) a ser feito, já que não se espera ajuda com política fiscal", explicou
fundo soberano. Em relação ao fundo soberano, o mercado ainda não avalia com clareza o impacto que poderá ter sobre o segmento de juros. Em tese, embora não tenha se comprometido formalmente com uma meta maior de economia para o pagamento de juros, o governo teria de manter a disciplina fiscal para gerar o excedente que abastecerá o fundo, permitindo assim a continuidade, na prática, de um superávit acima de 4,5%. Outro impacto positivo seria a ampliação da capacidade produtiva das empresas, o que colabora para reduzir desequilíbrios entre oferta e demanda.
Por outro lado, se a criação do fundo resultar em pressão sobre o dólar, o combate à inflação perde um importante aliado. Outra questão que traz desconforto é a possibilidade de o Tesouro emitir títulos para adquirir recursos à compra de dólares para o fundo. "Até que ponto será usado o excedente e até que ponto o Tesouro terá de emitir? Há limite para isso? Isso não ficou claro", diz um economista.
E a expectativa para o IGP-10 de maio que a FGV informa hoje não é nada boa. As estimativas dos analistas consultados pelo AE Projeções estão no intervalo entre 0,9% e 1,7%, com mediana de 1,49%, mas nas mesas de operação considerava-se que o indicador pode vir perto de 2%. Especulações à parte, o fato é que o mercado tomou uma invertida com o IGP-DI de abril - que subiu 1,12% quando o teto da previsão era 0,98% - e com o IGP-M de 1,36% em abril, ante estimativa de no máximo 1,30%.
O Tesouro Nacional fez ontem resgate antecipado de LTN com vencimento em 1/7/2008. A instituição se propunha a recomprar até 2 milhões de papéis, mas adquiriu apenas 265.278 títulos com taxas mínima de 11,9600% (PU 986.198835) e média de 11,9668% (PU 986.191420). O volume financeiro somou cerca de R$ 262 milhões e a liquidação será no dia 16.
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