Alcides Leite
Há nos bons manuais de economia e, sobretudo, na sabedoria dos agentes econômicos, uma máxima: "Na economia de mercado, os problemas acontecem quando os preços estão fora de lugar".
Esta máxima serve para o salário de um funcionário, para os produtos e serviços vendidos de um pequeno comércio ou grande multinacional e também vale para medir a adequação dos indicadores macroeconômicos de um país em relação à média de seus principais concorrentes e parceiros comerciais. Os indicadores macroeconômicos, portanto, representam, de alguma forma, o preço pago ou recebido, pelo agregado dos agentes econômicos de um determinado país.
O Produto Interno Bruto (PIB), que é o resultado da produção interna de todos os bens e serviços finais, representa o "faturamento" do país, ou seja, o preço médio de sua produção multiplicada pela quantidade produzida. A taxa de desemprego representa o custo pago pelo país ao manter um determinado contingente de trabalhadores na ociosidade. Já a inflação mede o aumento contínuo dos preços num determinado período, ou seja, mede a perda do poder de compra da moeda. O resultado do Balanço de Correntes representa o resultado das trocas internacionais entre o país e o resto do mundo, o que pode ser interpretado como a exportação líquida de riqueza para o exterior. O resultado fiscal do setor público representa a necessidade de financiamento que o aparato estatal necessita para seu funcionamento. A taxa básica real de juros de curto prazo representa o preço do aluguel do dinheiro no país. E assim por diante.
Diante disso, cabe perguntar: na economia brasileira, quais são os preços que estão fora de lugar? Ou que indicadores macroeconômicos destoam da média mundial?
Tomando como referência os últimos dados publicados pela revista "The Economist", verificamos que a média do crescimento do PIB esperado para 2008 é de 1,54% nos países desenvolvidos (Alemanha, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Japão, Inglaterra e Itália) e de 5,73% nos países em desenvolvimento, exceto Brasil (Argentina, Chile, China, Colômbia, Coréia do Sul, Índia, Indonésia, México, Peru, Rússia e Turquia). Para o Brasil, espera-se um crescimento do PIB de 4,5% em 2008. O comportamento dele neste quesito não difere muito da média dos países em desenvolvimento e supera consideravelmente a média dos países desenvolvidos.
Quanto ao comportamento da inflação nos últimos 12 meses, os dados nos mostram que no grupo dos desenvolvidos foi registrada uma inflação média no varejo de 2,93%. E, no grupo dos emergentes (exceto Brasil), foi registrado um crescimento nos preços de 7,4%. A inflação no Brasil, nos últimos 12 meses atingiu 4,7%. Estamos, portanto, em situação bastante razoável neste quesito.
No que diz respeito ao índice de desemprego, os desenvolvidos registraram uma taxa de 6,31%; os emergentes (exceto Brasil) 7,95%; e o Brasil 8,7%. Também neste ponto, a nossa situação não está nada mal.
Relativo ao resultado em conta corrente como proporção do PIB, nos últimos 12 meses, os desenvolvidos apresentaram, em média, déficit de 1,26. Já os emergentes (exceto Brasil) apresentaram superávit de 1,06%. E o Brasil apresentou um déficit de 0,4%. Embora inferior ao resultado dos demais países emergentes, a situação das contas correntes brasileiras ainda não é preocupante.
O resultado fiscal nominal do setor público em relação ao PIB atingiu um déficit médio de 1,74% nos países desenvolvidos; um superávit médio de 0,11% nos emergentes (exceto Brasil); e um déficit de 1,8% no Brasil. Neste ponto, nossos resultados diferem significativamente dos países emergentes, porém se situa próximo daqueles dos países desenvolvidos.
Por fim, quando comparamos a taxa básica real de juros de curto prazo, isto é, a taxa básica de juros de curto prazo descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses, chegamos aos seguintes resultados: 0,84% ao ano nos países desenvolvidos; 0,90% ao ano nos países em desenvolvimento (exceto Brasil); e 6,73% ao ano no Brasil.
A análise comparativa nos mostra que há, de fato, um preço que está totalmente fora de lugar no Brasil. Um ponto totalmente fora da curva. Uma anomalia internacional. Trata-se da taxa real de juros, ou do preço do dinheiro, que no Brasil é cerca de 7 a 8 vezes mais caro que no resto do mundo. Será que todo o mundo está errado e o Brasil certo? Cabe ao Banco Central, órgão responsável pela política monetária no Brasil, responder esta questão.
Alcides Leite Domingues é professor de Mercado Financeiro da Trevisan Escola de Negócios
E-mail: alcides.leite@trevisan. edu.br
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