Gílson Geraldino Silva Jr
Passadas as eleições municipais, parte das atenções nacionais ainda estão voltadas para o desenrolar da maior crise financeira internacional de todos os tempos, algo de substancial relevância. Flutuações de curto prazo à parte, aspectos mais estruturais, como inovação tecnológica, não devem sair da agenda de países e empresas.
Quando observamos as invenções que moldaram o cotidiano do Século XX nos países desenvolvidos, encontramos coisas que hoje são familiares em todo o mundo, como o aspirador de pó (patenteado em 1901), a máquina de lavar elétrica (1909), o zíper (1914), o supermercado self-service (1916) e o semáforo (1922). E coisas que ainda não usamos, mas que já foram inventadas e patenteadas e que podem vir a fazer parte do nosso cotidiano, como os materiais programáveis (1995). Sem o devido esforço de inovação e os respectivos gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), e sem os mecanismos de apropriabilidade dos resultados destes gastos, talvez não tivéssemos nenhum destes produtos ou processos.
A análise do esforço e da difusão tecnológica nos países em desenvolvimento desde os anos 1990, feita pelo Banco Mundial em seu relatório de 2008, mostra que tecnologia é variável fundamental na sustentabilidade do crescimento e na redução da pobreza. Nos últimos 20 anos, esta variável vem crescendo mais rapidamente nos países de baixa e média renda do que nos de alta renda, permitindo aproximação tecnológica (catch-up) entre estes países, apesar da distância manter-se significativa.
A redução do hiato tecnológico está mais associada à adoção de tecnologias mais antigas, como eletricidade e telefonia fixa, do que à adoção de tecnologias mais modernas, como telefonia móvel, computadores e internet. A adoção de tecnologias mais modernas é limitada pela qualificação da mão de obra. Algumas tecnologias passaram a ser adotadas, ou mais intensamente utilizadas, devido a mudanças regulatórias. Nos países em que o Estado deixou de ser monopolista na oferta de muitos bens e serviços e permitiu a participação de empresas privadas em um ambiente competitivo, a intensidade tecnológica aumentou.
A difusão tecnológica entre os países, porém, é tradicionalmente lenta. E, a despeito de algumas firmas serem mais sofisticadas tecnologicamente, a maioria não é. Além disso, a maior parte das empresas e da população vive em um ambiente de baixa tecnologia, apesar de não raro encontrar nos países de baixa e média renda cidades tecnologicamente muito sofisticadas e empresas operando em escala mundial.
O último Relatório sobre a Competitividade Global recentemente divulgado pelo Fórum Econômico Mundial considerou em sua análise as instituições dos países, inovação, infra-estrutura, sofisticação dos negócios, tamanho do mercado, eficiência do mercado de trabalho, entre outras variáveis.
Em uma lista de 134 países, o Brasil ficou no 64º lugar. Esta posição o coloca como o último dos Brics - a China ficou com o 33º lugar, a Índia com o 53º e a Rússia com o 54º -; atrás dos três países da América do Norte; da maioria dos países europeus; de várias ex-repúblicas socialistas, como Estônia e República Tcheca; de países do Oriente Médio, como Quatar e Arábia Saudita; e de alguns países da América Latina, como Chile e Porto Rico.
Esta mesma posição deu ao Brasil a melhor colocação entre os membros do Mercosul - o Uruguai ficou com o 78º lugar, a Argentina com o 91º e o Paraguai com o 127º -; e o deixou à frente de alguns vizinhos sul-americanos, como Colômbia, Equador, Venezuela e Bolívia; e de vários países africanos, como Marrocos e Namíbia.
No quesito inovação em particular, a pontuação mínima é 1 e a máxima é 7, no agregado e nos subitens. O Brasil teve nota geral 3,5 no quesito inovação, o que lhe garantiu o 43º lugar neste item. Nos subitens, capacidade de inovar, nota 4 e 27º lugar; qualidade das instituições de pesquisa científica, 4,3 e 43º lugar; gastos das empresas com P&D 3,9 e 31º lugar; cooperação universidade-empresa, 3,6 e 50º lugar; medidas do governo para garantir avanço nos produtos técnicos, 3,4 e 84º lugar; disponibilidade de engenheiros e cientistas 4,4 e 57º lugar; e em patentes o 58º lugar.
Ou seja, no estudo liderado pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil teve notas próximas da média no geral e nos subitens que compõem a avaliação sobre inovação, e classificações baixas - o que faz sentido, pois o inovador líder está sempre muito acima da média.
Estudos recentes feitos por diversas equipes de pesquisadores mostram que, independentemente da metodologia, o Brasil está muito aquém de adquirir um patamar tecnológico elevado, a despeito de esforços nacionais isolados e alguns bem-sucedidos. Logo, o país também se priva de usufruir dos benefícios sócio-econômicos de longo prazo decorrentes do desenvolvimento propiciado pela inovação.
Ter o longo prazo em perspectiva é algo fundamental, particularmente em momentos de turbulência, onde o processo de destruição criadora abre espaço para invenções e reinvenções - desde que haja inovação em relação ao passado pré-crise.
A China está agindo rápido. "O Partido Comunista fez as contas e viu que parte da produção de brinquedos e têxteis era de baixo valor agregado, paga salários muito baixos e é muito poluidora. Então, os incentivos a essas áreas estão desaparecendo, a China quer outro tipo de indústria", disse à Folha de S. Paulo no final de outubro o economista Andy Rothman, macroestrategista para a China do banco de investimentos CLSA, em Xangai. "É a terceira onda de reformas econômicas desde 1978, que começa agora. Haverá alguns setores sacrificados, mas a longo prazo faz sentido".
O Brasil demorou muito para ter certo domínio das técnicas da eletro-metal-mecânica, a tecnologia do início do Século XX. Ainda há deficiências na adoção de tecnologias consolidadas, como microeletrônica, e muito a fazer para nos inserirmos no paradigma que se consolida: bio e nano tecnologias.
Resta saber se o Brasil vai agir rápido para aproveitar as oportunidades de longo prazo geradas por esta crise de curto prazo.
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