Por Alessandra Bellotto, de São Paulo
As pessoas estão vivendo mais e tendo menos filhos. Conclusão, a população está envelhecendo, o que torna o futuro bastante desafiador. Sem um sistema público de previdência que suporte o risco da longevidade, só há uma saída: poupar mais para os anos extras que serão gastos na terceira idade. O alerta, que vale para o mundo todo, está em uma recente publicação da resseguradora suíça Swiss Re. No Brasil, os dados divulgados no início do mês pelo IBGE só reforçam essa necessidade. As projeções do instituto indicam que a população brasileira vai parar de crescer a partir de 2039, por conta do aumento da esperança de vida e da queda da taxa de fecundidade.
Desde o início da década de 40, a expectativa de vida do brasileiro ganhou mais 27,2 anos, passando de 45,5 anos de idade para 72,7 anos em 2008. E vai continuar aumentando, graças aos avanços da medicina e à melhoria na qualidade de vida da população. Em 2050, segundo as projeções do IBGE, a esperança de vida ao nascer será de 81,29 anos. Na outra ponta, a taxa de fecundidade no Brasil, que já foi de 5,3 filhos na década de 70, vem diminuindo ao longo dos últimos anos e hoje já está abaixo do nível de reposição - assim como nos países do G7. Hoje, segundo o IBGE, a taxa estimada para o país é de 1,86 filho por mulher, relação que deve cair para 1,50 entre 2027 e 2028.
De acordo com a publicação da Swiss, esse é um fenômeno mundial. Na Europa, a esperança de vida ao nascer aumentou de 66 anos em 1955 para 74 anos em 2005. O crescimento foi ainda maior nos países em desenvolvimento. Na China, nesse mesmo período, a expectativa de vida pulou de 45 anos para 73 anos. Hoje, é de 82,20 anos.
Esse quadro demógrafo tem impacto direto sobre o sistema público de previdência, destaca o vice-presidente da Swiss Re no Brasil, Henrique Abreu de Oliveira. De um lado, há o crescimento da parcela da população em fase de receber o benefício da aposentadoria. Do outro, o número de jovens que contribuem para a previdência pública vem caindo. Oliveira ressalta ainda que o benefício público tem sido cada vez menor. "Hoje, não há quem consiga se aposentar com 100% do último salário", diz. Ainda segundo ele, estimativas da OCDE apontam que um indivíduo, em muitos países, vai se aposentar com 40% a 60% do último salário, bem abaixo dos 70% da taxa de reposição considerada ideal por especialistas.
Com o sistema público sob pressão, o risco da longevidade é todo do indivíduo. O grande desafio, aponta o executivo, é definir o volume de poupança necessário, até porque ninguém sabe quanto tempo vai viver. A resposta mais lógica, destaca a publicação da Swiss Re, seria economizar mais. Os dados mostram, no entanto, que nos países desenvolvidos, com exceção de França e Alemanha, o percentual do orçamento destinado a formar uma reserva financeira vem diminuindo. Nos Estados Unidos, o percentual passou de 6% no período entre 1991 e 1995 para 3% entre 1996 e 2000, caindo mais um pouco entre 2001 e 2005, para 2%. No Japão, a taxa, que era de 15% entre 1991 e 1995, caiu para 4% de 2001 a 2005.
"As pessoas tendem a subestimar seu tempo de vida e suas necessidades, assim como superestimam sua capacidade de continuarem trabalhando", afirma Oliveira. Além da necessidade de poupança para viver um tempo maior como aposentado, o executivo cita outros dois riscos a serem administrados pelo indivíduo, o de aumento dos gastos com saúde na terceira idade e o de a inflação corroer suas reservas. "Uma das saídas é a previdência complementar", destaca.
Oliveira afirma que as seguradoras têm total condição de lidar com a questão. Não só com produtos tradicionais de acumulação de recursos e compra de renda vitalícia - como os PGBLs e VGBLs no Brasil -, mas também com seguros que incluam assistência de longo prazo para pessoas que perderem a capacidade de realizar as tarefas do dia-a-dia. Há ainda as hipotecas reversas, que permitem levantar uma renda em cima do imóvel. No Brasil, a previdência privada é relativamente nova. "A consciência da necessidade de poupar para o futuro é recente; não há uma geração inteira sequer vivendo da previdência privada."
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