Washington, 10 de Dezembro de 2008
Quando o presidente eleito Barack Obama falou domingo sobre realinhar a indústria automobilística americana, foi rápido em fazer uma advertência para que não soasse como o líder da França, ou talvez do Japão.
"Não queremos que o governo administre as companhias", Obama disse a Tom Rokaw no "Meet the Press". "Em geral, historicamente o governo não tem cumprido bem esse papel".
Mas o que Obama continuou a descrever foi um resgate financeiro que estaria condicionado à fiscalização federal. Poderia significar que o governo vá impor, ou pelo menos ter uma pesada influência em relação a que tipo de carros as companhias devem fabricar, que padrões ambientais e de quilometragem eles devem satisfazer, assim como que grandes investimentos elas podem fazer - para recriar uma indústria que Obama disse que "realmente funciona".
Harry Truman desapropriou as fábricas de aço em 1952 em vez de permitir que uma greve colocasse em perigo a condução da Guerra da Coréia. Obama pode estar pensando no que Trumam disse a seus funcionários: "O presidente tem o poder de impedir que o país vá para o inferno". (A Suprema Corte pensava diferente e forçou Truman a abrir mão da autoridade.)
O fato de haver agora tão pouco protesto no ar - certamente menos do que Truman ouviu - reflete o desespero do momento. Mas é uma estratégia repleta de riscos. O primeiro, claro, é o que o próprio presidente eleito enfatizou. A história do governo no papel de gerente corporativo é infeliz, razão pela qual o mundo está em um ritmo de privatização que já dura três décadas, transformando ferrovias nacionais, companhias aéreas nacionais e as indústrias voltadas à defesa nacional em empresas privadas.
O segundo risco é de que se o esforço falhar, as montadoras americanas entrarem em colapso ou forem leiloadas em pedaços as concorrentes estrangeiras, os contribuintes podem perder os bilhões que estão para serem gastos.
E o terceiro risco - mal discutido até agora - é que ao tentar salvar as montadoras do país, os Estados Unidos estão vindo contra aquilo que têm defendido há duas décadas. Os EUA têm exigido que os países tratem as companhias americanas em seus territórios da mesma maneira com a qual tratam suas próprias indústrias, um conceito chamado de "tratamento nacional".
Todavia, até agora, não há negociações quanto a ajuda à Toyota, Honda, BMW ou às outras montadoras estrangeiras que construíram fábricas em solo americano, empregaram trabalhadores americanos e conseguiram lucrar ao fazer isso.
"Não vimos nada parecido"
Jeffrey Garten - que estava na Secretaria de Comércio na década de 90 quando o governo tentou em vão preparar as montadoras de Detroit para enfrentar a concorrência mundial - afirmou estar surpreso com a natureza da intervenção que está sendo considerada em Washington. "Eu acho que não vimos nada parecido com isso desde a Segunda Guerra Mundial, quando o governo determinou quais os tipos de tanques que as montadoras poderiam fabricar", afirmou. "E esta medida valia apenas enquanto durasse a guerra - a resolução atual pode ser muito, muito mais duradoura."
No curto prazo os democratas ventilam a idéia de injetar US$ 15 bilhões em empréstimos imediatos para designar um "czar do carro" que, concedendo o dinheiro, poderá requisitar ou vetar grandes transações ou investimentos - essencialmente um conselho diretor de um só homem. A Casa Branca indica que o presidente Bush - que empregou todo o seu período na presidência proclamando que o papel do governo é criar um ambiente que alavanque a livre iniciativa e minimize as regulamentações governamentais - possivelmente assinaria o plano de ajuda.
Os primeiros US$ 15 bilhões e o czar do carro que os supervisionaria, entretanto, seriam apenas o início . "Depois disso, estaremos em águas desconhecidas", disse Malcolm S. Salter, professor emérito da Harvard Business School, que estudou o setor automotivo durante duas décadas e que, até alguns anos atrás, era consultor da General Motors e da Ford. "Pense nisso: Quem no governo federal teria a tremenda percepção necessária para consertar o setor?"
Concordata estruturada
Dependendo do desempenho da recuperação de prazo mais longo do segmento, Washington poderá se tornar um dos principais acionistas nas Três Grandes, fornecendo empréstimos ou, conforme Obama pareceu indicar no domingo, organizando quantias para "uma concordata estruturada" Nesse caso, o governo agregaria os credores, os sindicatos, acionistas e gerenciamento das companhias, distribuindo uma parte do valor alcançado para cada uma. Se essa "elaboração de consenso" parece muito com o papel desempenhado pelo Ministério do Comércio e da Indústria Internacional do Japão nos anos 70 e 80, bem, é isso mesmo.
David E.Sanger
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