Nem que quisesse o mercado brasileiro passaria ileso às quedas acentuadas das bolsas do mundo inteiro ontem, da Ásia à Europa. As ações da Petrobras e da Vale - as duas vedetes da Bovespa - sucumbiram sem dó. As preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras caíram 3,11% e as PNs série A da Vale, 4,10%. Como os dois papéis juntos representam 27% do Índice Bovespa, foram responsáveis por 45% da perda de ontem do índice, afirma o diretor executivo de renda variável do banco Morgan Stanley, Márcio Rochwerger. O Ibovespa caiu ontem 2,17%, fechando em 67.774 pontos, o menor nível desde 29 de abril, um dia antes de o Brasil receber a primeira promoção à grau de investimento, quando encerrou os negócios em 63.825 pontos. As ordinárias (ON, com voto) das duas companhias também contribuíram para o recuo do índice, que chegou a superar 3%. As ONs da Petrobras caíram 2,96% e as da mineradora, 2,17%. Juntando ordinárias e preferenciais das duas, que têm participação de 33% no Ibovespa, elas responderam por 52% da queda, lembra Rochwerger.
A impressão que se tem é que todas as informações que surgem, tanto interna quanto externamente, são para prejudicar as companhias. A ameaça cada vez mais forte de que haverá um processo de valorização do dólar, por tabela, traz o risco de uma queda importante das commodities, o que levaria a reboque as ações desses setores, incluindo-se aí Petrobras e Vale. Já internamente, a notícia de que a Vale fará uma emissão gigantesca de ações, de US$ 15 bilhões, para fazer frente aos seus investimentos caiu como uma bigorna em cima dos papéis da companhia.
O mercado não sabe quais os termos da emissão, no que esses recursos serão usados e, se for numa aquisição, qual a empresa a brasileira pretende comprar. "Com tantas dúvidas, é natural que as ações caiam", diz o analistas da SLW Corretora Pedro Galdi. Ele afirma, no entanto, que, com relação à uma possível aquisição, o histórico mostra que não há motivos para preocupação. "Com certeza a Vale irá comprar alguém, mas não vai trocar o pé", diz Galdi. "Assim como fez com a Inco, deve ser outra companhia importante para o negócio e em condições favoráveis."
Só nos últimos dois dias, o valor de mercado (quantidade de ações multiplicada pela cotação do papel) da Vale caiu R$ 16 bilhões, chegando a R$ 268,5 bilhões. Como as ações da mineradora estão recuando bastante nos últimos tempos, Galdi acredita que essa emissão de US$ 15 bilhões não deve sair agora e, conseqüentemente, a aquisição também não. Essas quedas no papel criaram uma boa oportunidade de compra para os investidores, uma vez que os fundamentos da companhia, que são muito bons, continuam intactos, afirma o analista. "Neste trimestre, por exemplo, o aumento do minério de ferro, de 65%, e das pelotas, de 86%, devem trazer impactos muito positivos no balanço da Vale, mais do que compensando a queda acentuada que o níquel sofreu desde o seu pico histórico, em meados do ano passado", completa Galdi.
Com o temor de queda das commodities, os investidores estrangeiros estão saindo dos mercados emergentes, grandes produtores desses ativos, e migrando para os países desenvolvidos, que neste momento acenam com a possibilidade de aumento das taxas de juros. Neste mês, até o dia 5, o saldo líquido (diferença entre compras e vendas) de investimento estrangeiro na Bovespa está negativo em R$ 2 bilhões, algo considerável para apenas quatro dias de pregão.
Adicionalmente, como se fosse preciso, os papéis da Petrobras e da Vale ainda sofrem com a aproximação do vencimento de opções (direito de comprar e vender um ativo a um determinado preço em uma data preestabelecida) na próxima segunda-feira, dia 16, e de Ibovespa futuro, negociado na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), na quarta-feira, dia 18. "O mercado mudou muito desde o último vencimento e os investidores estão pressionando o quanto podem para puxar o resultado ao seu favor", diz o gestor de renda variável da Infinity Asset Management, George Sanders. Com as quedas que os papéis tiveram, várias séries dessas opções que estavam em condições de serem exercidas já viraram pó. Para Sanders, assim como aconteceu na alta recente, o mercado agora está exagerando na queda.
Daniele Camba é repórter de Investimentos
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