Por Martin Wolf
É possível para a vasta massa da humanidade desfrutar os padrões de vida dos países de alta renda na atualidade? Esta é, possivelmente, a maior questão que se apresenta à humanidade no século XXI. É a versão atual das dúvidas expressas por Thomas Malthus, há dois séculos, sobre a possibilidade melhorias duradouras nos padrões de vida. Da resposta depende o destino de nossos descendentes. Determinará se este será um mundo de esperança, e não de desespero; de paz, e não de conflito.
Esta - e não a efetividade de suas receitas - é a grande questão levantada pela comissão responsável pelo Relatório de Crescimento discutido na semana passada. Também é o foco do vigoroso novo livro de Jeffrey Sachs, diretor do Earth Institute, da Columbia University.
O desafio é brutal. A renda real mundial per capita poderia subir 4,5 vezes até 2050 e a população global, 40%. Isso significaria um aumento de seis vezes na produção mundial, concentrado no mundo em desenvolvimento. Será que tal aumento é viável? A resposta é "sim" e "não" - sim, porque mudanças nos incentivos, tecnologia e instituições sociais e políticas tornariam factível um resultado benigno; e não, porque a rota na qual estamos é insustentável. O professor Sachs é um profeta otimista da destruição. Ele fica no meio termo, entre aqueles ambientalistas que não vêem solução e aqueles defensores do livre comércio que não vêem problema algum.
Por inclinação pessoal, tendo a ficar muito mais próximo destes últimos do que dos primeiros. Tornou-se evidente, contudo, pelo menos para mim, que o impacto da ação humana no planeta do qual dependemos aumentou em proporções enormes. Tratamos o patrimônio comum da humanidade como se fosse gratuito. Evidentemente, não é.
Sachs enfatiza três objetivos: primeiro, "o fim da pobreza extrema até 2025, assim como a melhora na segurança econômica nos países ricos"; segundo, "estabilização da população mundial em 8 bilhões de pessoas ou menos até 2050, por meio da redução voluntária dos índices de fertilidade"; e, terceiro, "sistemas sustentáveis de energia, terra e recursos que evitem as tendências mais perigosas de mudança climática, extinção de espécies e destruição de ecossistemas". Por fim, para atingir esses fins, recomenda "nova abordagem para a solução de problemas globais, baseada na cooperação entre as nações e no dinamismo e criatividade do setor não-governamental".
Alguns poderiam ver o primeiro dos objetivos acima como o de prosperidade para todos. O controle populacional está relacionado a essa meta, já que as pessoas mais pobres no mundo são oneradas pelos custos de sustentar as famílias mais numerosas. Por fim, apenas administrando o patrimônio comum da humanidade será possível sustentar a melhoria nos padrões de vida.
O conceito mais iluminador no livro é o do "antropoceno" - a era na qual as atividades humanas subjugam o mundo. Peter Vitousek, da Standford University, documentou as formas pelas quais a humanidade se apropriou da generosidade da terra para seu uso próprio: os seres humanos agora exploram 50% do potencial fotossintético terrestre; produziram 25% do dióxido de carbono atualmente na atmosfera; usam 60% das fontes acessíveis que alimentam rios; são responsáveis por 60% da fixação de nitrogênio do mundo; são responsáveis por 20% de todas as plantas invasivas; nos últimos dois milênios extinguiram 25% das espécies de pássaros; e exploraram ou excederam-se na exploração de mais da metade das áreas de pesca do globo.
Goste-se ou não, nós, humanos, estamos no comando agora. Então, o que deveríamos fazer? Em sua resposta, Sachs compartilha o otimismo da maior parte dos americanos: precisamos consertar isso, mas, insiste, apenas podemos fazê-lo juntos. Nessa grande aventura, argumenta, os EUA precisam compartilhar a liderança, mas não podem dar ordens ao resto da humanidade.
Em relação à dinâmica da equiparação do crescimento dos países em desenvolvimento com os desenvolvidos, as idéias de Sachs são próximas às da comissão do Relatório de Crescimento. Mais distintiva é sua recomendação de uma estratégia de investimento de grande impulso, com assistência externa, voltada a tirar as pessoas mais pobres, predominantemente africanos, das armadilhas da pobreza nas quais, a seu ver, elas caíram. Sachs fez notáveis contribuições para nossa compreensão dos obstáculos ao desenvolvimento criados pela geografia, meio ambiente e doenças devastadoras, como a malária. No livro, ele enfatiza como a escassez de água contribui para a pobreza e os conflitos por todo o planeta.
No entanto, sou mais cético do que Sachs sobre a volta a uma estratégia de grande impulso. Em muitos casos falhará. Precisa, entretanto, ser tentada, pois não há alternativa moral tolerável ou confiável. Concordo, também, que são necessários esforços imensos para acelerar o declínio da fertilidade nos países mais pobres do mundo, embora de forma voluntária.
Agora, suponha-se que o crescimento econômico, então, se espalhe por todo o planeta, da forma como desejamos. Pode ser sustentável? Sachs é notavelmente otimista quanto ao aporte de recursos diretos ao crescimento. Sua visão é que os recursos de combustíveis fósseis, energias renováveis e disponibilidade de água fresca poderiam ser suficientes para respaldar uma expansão contínua nos próximos 50 anos. Isso quase certamente exigiria uma transição das tecnologias energéticas baseadas no petróleo para as baseadas no carvão e fontes renováveis. A energia, quase certamente, seria muito mais cara do que no período entre 1985 e 2000, mas não proibitiva.
O desafio, na visão de Sachs é, mais exatamente, tornar o crescimento compatível com a sustentabilidade do patrimônio comum da humanidade: sobrevivência das espécies e, acima de tudo, mudança climática. Contudo, o que talvez seja o mais intrigante é o otimismo que mostra nesta última missão. Embora aceite a idéia de que a mudança climática é uma ameaça enorme, também acredita que pode enfrentá-la a um custo modesto, desde que incentivos adequados sejam instaurados: menos de 1% da renda global.
No geral, Sachs acredita que podemos de fato atingir todas as metas traçadas por ele - eliminação da pobreza em massa, controle populacional e sustentabilidade ambiental - por menos de 2% da renda global. Isso equivale ao crescimento global em aproximadamente seis meses e, como tal, seria certamente um preço barato.
É uma análise, então, que consegue ser ao mesmo tempo tanto pessimista, como otimista. Alguns poderiam não ser tão otimistas quanto ao custo das soluções. É preciso, no entanto, reconhecer a importância dos desafios. Se o crescimento econômico estancasse, os conflitos entre a população mundial correriam o risco de ficarem ingovernáveis. Se as conseqüências ambientais mostrarem-se avassaladoras, os custos do crescimento seriam insuportáveis. Somos os mestres de nosso planeta agora. A grande questão para o século XXI é se também poderemos tornar-nos mestres de nós mesmos.
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