domingo, 8 de junho de 2008

Para professor, "política antiga" de Obama pode ser o que os EUA precisam

Para professor, "política antiga" de Obama pode ser o que os EUA precisam

ÉBANO PIACENTINI
Colaboração para a Folha Online

As propostas do provável candidato democrata Barack Obama para o Heath Care --sistema de saúde dos EUA-- e para a economia são idéias antigas, mas podem ser o que o país precisa para sair da maior crise econômica das últimas décadas.

Esta é a opinião de Thomas Patterson, professor da Universidade de Harvard (Massachusetts) e especialista em eleições e política americana, que concedeu entrevista à Folha Online por telefone.

Craig Lassig/Efe
Barack Obama comemora com a mulher, Michelle, a conquista da nomeação
Barack Obama comemora com a mulher, Michelle, a conquista da nomeação

O recente ataque do senador John McCain a Obama, a quem chamou de um líder "do passado" que deseja fazer um governo baseado em "old politics" (políticas antigas), segundo o professor, é uma estratégia arriscada, pois os EUA precisam de uma intervenção maior do governo na economia para superar a crise que atravessam.

Patterson diz acreditar que o governo dos EUA tem que melhorar o "Health Care" [saúde pública dos EUA], proposta defendida tanto por Obama quanto pela senadora derrotada nas primárias democratas, Hillary Clinton.

"Os Estados Unidos são um das únicas democracias desenvolvidas que não tem um bom sistema de saúde pública, financiado pelo governo", afirmou.

"Saúde pública universal é de fato "old politics", são gastos enormes ao governo, pode significar aumentos de impostos; mas por vezes "old politics" podem ser boas políticas, e os americanos querem ter acesso a uma saúde pública".

O professor diz acreditar que a competitividade dos EUA na economia global também é prejudicada pela questão da saúde.

"As empresas americanas tem que pagar pelos planos de saúde de seus funcionários, o que coloca as companhias em desvantagem em relações a outros países", afirma.

Entretanto, se eleito presidente, Obama, assim como Bill Clinton, pode ter dificuldade de implantar seu plano. "Ele promete o Health Care a todos, e se eleito será difícil realizar esta política. Em 1993, Bill Clinton foi eleito prometendo melhorar o Health Care, mas depois, não o fez, pois não havia dinheiro no governo para isso. Obama pode enfrentar o mesmo problema".

Para Patterson, o único ponto em comum nas políticas de Obama e McCain é que ambos os candidatos falam de inserir na agenda política americana a questão do aquecimento global. Fora isso, eles divergem na maioria dos temas.

"McCain é naturalmente um político a favor do livre-mercado, e esta tem sido a tendência da chamada globalização mundial".

Incógnita

Bill Haber/AP
Senador republicano, John McCain discursa em evento de campanha em Kenner, Los Angeles
Senador republicano, John McCain discursa em evento de campanha em Kenner, Los Angeles

Já para o cientista político Henry Brady, da Universidade de Berkeley (Califórnia), por seu histórico de votações no congresso, McCain é uma incógnita nas questões relativas à economia.

"Ele é um dos legisladores mais flexíveis do Senado e da Casa dos Representantes (deputados)".

Em entrevista por telefone à Folha Online, Brady afirma que McCain, em alguns assuntos, como meio ambiente e aquecimento global, é um republicano "moderado". Mas em outros, como impostos, o republicano mudou sua posição: foi contra a política de cortes de impostos de Bush e depois se tornou a favor.

"É muito difícil saber a sua posição em assuntos econômicos. Em questões sociais é mais claro que ele é conservador, como na questão do aborto, por exemplo".

Obama x McCain

O provável candidato democrata Barack Obama entra nas eleições gerais com uma vantagem declarada: ele é um candidato democrata que enfrentará um Partido Republicano desgastado pelos erros e impopularidade do presidente Bush.

Por outro lado, senador pelo Arizona John McCain fez um discurso afiado e contundente na terça-feira (3), antes mesmo de os democratas Obama e Hillary Clinton se pronunciarem em discursos, na noite de terça, mostrando suas propostas nos principais temas que vêm abordando em sua campanha --economia, política externa, Guerra do Iraque, aquecimento global e fontes energéticas.

O cenário ao fundo de McCain enquanto o republicano discursava falava muito sobre sua nova estratégia contra Obama: um fundo verde com a frase escrita repetidamente: "A leader we can believe in" --"Um líder em quem podemos acreditar".

A frase é uma resposta que busca desqualificar a principal plataforma política de Obama: "Change. We can believe in" --Mudança. Nós podemos acreditar".

McCain afirmou no seu discurso ser o verdadeiro líder em quem se deve acreditar, e que é ele quem tem experiência para promover a "mudança na direção certa", pois a mudança que Obama propõe seria datada, "em direção ao passado".

O republicano fez uma ironia com sua idade e a de Obama, dizendo que apesar de Obama ser muito jovem e ele mais velho, o democrata propõe medidas "ultrapassadas", que falharam nos anos 60 e 70, e que visam o controle de Estado sobre assuntos que "você" --a sociedade civil-- deve ter autonomia para decidir.

"Tenho um pouco mais de idade do que o meu oponente, e saberei não repetir os erros que já foram cometidos no passado", disse.

O que McCain fez em seu discurso foi lançar o debate ideológico entre democratas e republicanos, liberais e conservadores, esquerda e direita.

Conservador

McCain, criticado por ser inexperiente em questões econômicas, assumiu uma posição conservadora, defendendo que o Estado não deve intervir nos rumos da economia e da sociedade em termos gerais. "Ele [Obama] quer dizer a vocês como tudo deve ser feito, quer que o governo seja a solução de todos os problemas", disse. "Estas políticas falharam no passado".

O senador pelo Arizona busca pintar-se de verde, como um político de uma nova espécie, um "conservador verde". Ele afirma ser um "líder do século 21", que defende o mercado, a chamada "livre iniciativa" na economia, e por outro lado defende o papel do Estado para resolver "problemas do novo século", como a questão da auto-suficiência energética, fontes alternativas de energia e o aquecimento global.

McCain buscou demonstrar ainda que é um candidato independente dos lobbies de Washington, um assunto que Obama aborda com freqüência. O senador acusou Obama de criticar lobistas favoráveis aos republicanos e por outro lado calar-se frente aos lobistas que o favorecem e apóiam.

Como justificativa, citou votações no congresso em que votou contra o lobby do petróleo e que Obama, segundo ele, votou a favor.

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