Ana Paula Grabois
O Produto Interno Bruto (PIB) fechou o primeiro trimestre deste ano com alta de 5,8% em relação a igual período do ano passado, puxado pela demanda interna aquecida. Mesma taxa de crescimento foi apurada para o indicador do acumulado nos últimos 12 meses, na maior expansão para este período desde o início da série histórica. Em relação ao quarto trimestre, houve leve desaceleração no ritmo de crescimento - de 1,6% para 0,7% - embora sobre uma base de comparação já elevada.
A demanda interna - soma do consumo das família, consumo do governo e investimentos - acelerou. Segundo a consultoria Rosenberg e Associados, ela contribuiu com 7,7 pontos da alta de 5,8% acumulada pelo PIB nos 12 meses encerrados em março na comparação com os 12 meses anteriores, enquanto o setor externo (pela queda nas exportações) tirou 1,9 ponto do PIB. Pelos cálculos da consultoria LCA, na comparação trimestral, o mesmo indicador também acelera. No primeiro trimestre de 2008 em relação ao mesmo período de 2007, a demanda interna aumentou 8,4% e ficou acima do crescimento já forte de 2007, de 7%.
Mesmo com a demanda doméstica em alta, os dados das contas trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem mostram menor descompasso entre o consumo das famílias e a capacidade produtiva da indústria nacional. Se no quarto trimestre de 2007, as famílias consumiram 8,6% a mais do que em mesmo período do ano anterior e a indústria de transformação produziu apenas 4,0% mais, no primeiro trimestre de 2008 a indústria de transformação, após a maturação de investimentos, elevou sua oferta em 7,3%, para uma alta de 6,6% no consumo das famílias.
No acumulado de quatro trimestres, o ajuste entre a oferta e da demanda também fica claro. Nos quatro trimestres encerrados em março de 2007 (em relação aos quatro trimestres anteriores), a produção da indústria de transformação havia crescido apenas 2,1%, menos da metade do ritmo da demanda, que foi de 4,9%. Nos quatro trimestres encerrados em março passado (também em relação aos quatro anteriores), a produção da indústria de transformação cresceu 6%, acompanhando a alta de 6,7% no consumo das famílias.
Para o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, houve redução do chamado "hiato do produto", a diferença entre a variação do PIB e a capacidade de crescimento do país levando em conta oferta interna, importações e demanda, o que ajuda a diminuir pressões inflacionárias. "O hiato do produto caiu muito e está próximo de zero, o que é importante para a política monetária do Banco Central", disse Borges.
Na demanda interna, o destaque mais positivo foram os investimentos das empresas, há 17 trimestres seguidos em crescimento, desde o primeiro trimestre de 2004. No primeiro trimestre, a taxa de investimento em relação ao PIB ficou em 18,3%, a maior desde o ano 2000 na comparação entre os primeiros trimestres. Desta vez, a construção civil, que representa cerca de 40% do investimento total, teve uma maior participação na alta de 15,2% do investimento no trimestre quando comparado a igual período do ano passado.
"Além da importação e da produção interna de máquinas e equipamentos, nesse trimestre, a construção deu um empurrãozinho maior", disse a gerente das Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis. O setor da construção cresceu 8,8% sobre o primeiro trimestre de 2007, maior taxa desde o segundo trimestre de 2004.
Os fatores para maior expansão foram o forte aumento do crédito imobiliário e das obras públicas, fomentadas em parte pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e pelas eleições municipais. Roberto Olinto, gerente das Contas Nacionais do IBGE, destaca que o aumento da renda real do trabalhador também influenciou ao estimular o chamado consumo formiguinha, caracterizado por pequenas obras e reformas residenciais. "O investimento maior sinaliza uma aceleração da capacidade de crescimento da economia no futuro", disse o economista Caio Prates, do Grupo de Conjuntura da UFRJ.
Bráulio Borges, da LCA, prevê que a alta do investimento vai recuar um pouco ao longo do ano como reflexo da atual política monetária e da estimativa de redução da demanda interna, mas ressalta que boa parte do investimento que está em curso tem um tempo maior de maturação, pois é ligado à infra-estrutura. "Tem uma parte do investimento que é autônoma, que olha cinco ou seis anos para frente, como o complexo hidrelétrico do rio Madeira. O empresário não vai parar esses investimentos."
Ele estima que a taxa de investimento alcance outro recorde em 2008 e chegue a 19%, pois a perspectiva é de que o PIB desacelere mais do que o investimento até o fim do ano. Pelo lado da oferta, o destaque também foi a construção civil. "Em 2008, a construção deve crescer mais do que o PIB, ao contrário do ano passado", prevê Caio Prates. Na indústria de transformação, também em forte alta, os segmentos de máquinas e equipamentos, automobilístico, material elétrico e metalurgia foram os que mais contribuíram para a elevação.
A agropecuária apresentou crescimento de 2,4% no primeiro trimestre de 2008 sobre igual período do ano anterior. No mesmo comparativo, o setor de serviços cresceu 5%, com destaque para os segmentos de intermediação financeira e seguros (15,2%), puxado pela maior oferta de crédito. Os serviços de informação registraram elevada taxa de expansão, de 9,5%, devido principalmente ao bom desempenho da telefonia móvel. O comércio atacadista e varejista, favorecido pela renda e crédito em expansão, obteve crescimento de 7,7%.
Na comparação com o último trimestre de 2007, a desaceleração do ritmo de crescimento do PIB (para 0,7% depois do 1,6% da virada no terceiro para o quarto trimestre do passado), foi puxada pela agropecuária (menos 3,5%) e pelo menor crescimento dos serviços (1% de alta depois de ter crescido 1,5% no quarto trimestre). A indústria cresceu acima do PIB: 1,6%.
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