O mercado brasileiro vem rateando há praticamente um mês. O Índice Bovespa atingiu sua máxima histórica de 73.516 pontos em 20 de maio, resultado, entre outros motivos, do Brasil ter se tornado grau de investimento por duas grandes agências de classificação de risco. Desde então, as notícias positivas secaram e as negativas vieram aos montes, tanto no fronte internacional quanto no local. Só neste mês, o Ibovespa já acumula queda de 11,61%. Se continuar nessa toada, pasmem, este será o pior mês desde setembro de 2002, quando o índice amargou uma queda de 16,95%. Naquela época, os investidores estavam se pelando de medo que o então candidato à presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, se eleito, rasgasse os contratos. As perdas deste mês já quase aniquilaram os ganhos do ano, que se resumem a míseros 0,44%.
Boa parte dos investidores e até de profissionais de mercado está sem rumo, sem saber qual o destino da bolsa, consequentemente, o que devem fazer. Não sabem se mantêm a calma, seguram as ações que já possuem ou até compram mais, uma vez que esta queda pode ser uma excelente oportunidade de comprar papéis a preços convidativos. Ou se reduzem suas carteiras de ações e voltam para a boa e velha renda fixa, pois o pior ainda está por vir.
Para Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp - um dos cinco maiores fundos de pensão do país e o maior entre as companhias privadas -, as vacas, que já estão magras há quase um ano, quando começou a crise do setor imobiliário americano, ficarão ainda mais esquálidas pelos próximos 6 a 12 meses. O grande motivo desse cenário soturno é que tanto o Brasil quanto os EUA passarão por um processo de aperto monetário para conter o fantasma da inflação que ronda as duas economias. Essa alta dos juros já começou no Brasil. Nos EUA, o comportamento da curva de juros futuros aponta que são unânimes as expectativas de que haverá um aumento dos juros na reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em setembro.
"Em nenhum lugar do mundo, juros em alta são bons para a bolsa, isso aumenta o custo de oportunidade dos investidores aplicarem em ações, o que estimula o fluxo de recursos para a renda fixa", diz Simino. Diferentemente do último aperto monetário no Brasil, entre 2004 e 2005, em que o BC subiu a Selic muito rápido - o que acabou prejudicando bastante a formação bruta de capital fixo -, o BC deve desta vez puxar os juros de forma mais lenta e gradual. Se essa estratégia é positiva por não derrubar a formação bruta de capital, é ruim para a bolsa pois significa que a Selic ficará elevada por mais tempo, lembra o diretor da fundação.
Se o fluxo de recursos internos para a bolsa deve minguar, com o internacional não será muito diferente. A maioria esmagadora dos grandes investidores estrangeiros já está até as tampas de ações brasileiras, especialmente depois do reaquecimento das ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês), a partir de 2004. "Só o ano passado, os estrangeiros ficaram com cerca de R$ 32 bilhões de tudo que foi vendido nos IPOs, por maior que seja o apetite desses investidores por ativos brasileiros, ele deve estar amplamente saciado já", diz Simino.
O conforto dentro desse mar, que parece bem pouco para peixe, são as empresas continuarem robustas, com bons fundamentos e resultados crescentes. Pelas estimativas do diretor da Fundação Cesp, os lucros devem aumentar, em média, entre 15% e 20% este ano, seguindo o comportamento histórico dos últimos anos. Mesmo assim, é importante ficar atento, acompanhando se os balanços dos próximos trimestres confirmam tais expectativas. "Os analistas não estão com projeções de lucros absurdamente otimistas, portanto, não devem ocorrer grandes desilusões."
No frigir dos ovos, toda essa análise significa que o Ibovespa não irá despencar para os 40 mil pontos. No entanto, as projeções de muitas casas de análise de que o índice deve beirar entre os 85 mil e os 95 mil pontos no fim do ano tornam-se sonho de uma noite de verão. "O cenário justifica muito mais esperar que o Ibovespa oscile entre 60 mil e 70 mil pontos, nada muito emocionante", estima Simino. Para quem está fora de bolsa, ele acredita que o melhor é continuar longe. No entanto, para quem já está dentro, a recomendação é ficar, até para não sair amargando prejuízo, mas manter uma exposição reduzida e em papéis de empresas sólidas, sem grandes ousadias.
Daniele Camba é repórter de Investimentos
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