Delfim Netto
O Brasil tem duas vantagens importantes em relação aos demais países emergentes diante das tensões inflacionárias que hoje perturbam a economia mundial. Produz todo o alimento de que precisa e não depende do exterior para o suprimento de energia. Isso coloca nossa economia numa situação bastante melhor do que a que foi preciso enfrentar durante as crises causadas pelo aumento nos preços do petróleo nas décadas de 70 e 80 do século passado, quando o país dependia visceralmente das importações de energia.
O fato de termos conquistado quase que simultaneamente as autonomias alimentar e energética é tranqüilizador porque afasta a ameaça do constrangimento externo que nos sufocou nas outras crises. A atual nos alcança no estado de exportadores líquidos de alimentos e com a auto-suficiência praticamente garantida em termos de abastecimento de petróleo. Acresce que o Brasil desenvolveu nesses últimos anos toda uma tecnologia de ponta que lhe permite o aproveitamento de fontes alternativas de energia como o etanol da cana, com índices de produtividade superiores à maioria das concorrentes no resto do mundo.
Essa garantia da auto-suficiência reduz a dimensão dos problemas causados pelo crescimento da inflação no mundo, mas obviamente não significa que estamos livres de suas conseqüências. Os fatores que produzem esse crescimento acelerado dos preços são de diversa natureza, mas na origem encontra-se a persistente desvalorização do dólar que é a unidade de medida do valor dos produtos transacionados no mercado global. O petróleo é um deles. Domina, em volume, um bom pedaço do comércio mundial e a elevação dos preços do barril é em parte contrapartida da queda do valor do dólar. Além de principal agente da poluição planetária, o petróleo é matéria-prima para produzir quase tudo o que consumimos (ou usamos), desde fertilizantes e outros insumos para a produção dos alimentos ou desde o tomógrafo até a escova de dente.
É claro que os preços das demais matérias primas e dos alimentos também estão subindo em razão da demanda que não pára de crescer sem o correspondente aumento de oferta, em especial nas chamadas economias emergentes. O exemplo mais escandaloso de expansão do consumo é a China (que por sua vez "puxa" um bom pedaço das economias asiáticas) que insiste em crescer no ritmo brasileiro dos anos 70.
Todo esse aumento de consumo que está pressionando os preços não pode ser tomado como um fato econômico (ou social) negativo. Pelo contrário, são centenas de milhões de novos consumidores turbinados pelos milhões de empregos criados nos dez últimos anos de desenvolvimento econômico mundial. Mas há um dado perturbador: o movimento de alta nos preços do petróleo e demais commodities (preferencialmente alimentos) foi apropriado pela pirataria financeira que se esconde nos "hedge funds": procurando "dar a volta por cima" no desarranjo que eles mesmos produziram com a bolha hipotecária, os piratas montaram uma especulação de nível cósmico inflando os preços das commodities, valendo-se dos juros baixos e da alta liquidez proporcionados pelos bancos centrais (não o BC do Brasil) para evitar o necessário ajuste.
A especulação com petróleo e alimentos está acelerando a inflação e reduzindo o ritmo de crescimento do setor real da economia, ou seja, para livrar os prejuízos da crise produzida pelos flibusteiros do sistema financeiro, milhões de trabalhadores vão perder os empregos e não somente no hemisfério norte.
Professor Emérito da FEA/USP. Ex-Ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.
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