Para ajudar o Banco Central a trazer de volta a inflação para as suas metas, a melhor decisão que o Federal Reserve (Fed) poderia tomar seria a elevação dos juros americanos. Isso não deve acontecer tão cedo, apesar do falcão texano já ter se manifestado. Dos 10 votos dados ontem no Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, o equivalente americano do Copom brasileiro), um, o do presidente da regional de Dallas, Richard Fisher, foi pela alta. Os outros nove mantiveram a taxa em 2%, após sete cortes consecutivos. O principal trecho do comunicado pós-Fomc não deixa dúvida de que, em algum momento, Fisher ganhará adeptos: "Embora os riscos de redução do crescimento persistam, eles parecem ter diminuído bastante, e os riscos de alta da inflação e das expectativas quanto à inflação cresceram". A prioridade é a inflação, não o crescimento. Mas o mercado entende que o alinhamento a Fisher levará tempo. A perspectiva de estabilidade dos fed funds por pelo menos mais duas reuniões provocou euforia nos mercados de risco. A visão dovish de Ben Bernanke e outros oito diretores derrubou o dólar globalmente, o que favorece a especulação com petróleo e commodities - o que é ruim do ponto de vista exclusivo do controle da inflação brasileira.
O dólar caiu aqui quase o mesmo percentual da desvalorização sofrida diante do euro. No Brasil, a perda foi de 0,68%, cotado a R$ 1,5920, menor cotação desde 20 de janeiro de 1999. Uma nova rodada de apreciação cambial só conseguiria produzir efeitos positivos sobre a inflação se fosse muito intensa, capaz de compensar o encarecimento dos importados em moeda externa. Como a taxa de câmbio já está excessivamente apreciada, o mercado não espera grande ajuda dela. A manutenção da taxa americana em 2% até outubro ou dezembro e a preservação pelo Copom (conforme sinalizado ontem) do ritmo de alta de 0,50 ponto da Selic irão ampliar os ganhos das operações de arbitragem entre as taxas de juros. Mas esta perspectiva não está sendo atraente o suficiente para provocar avalanches de dólares no mercado brasileiro. A curva futura de juros já incorpora a alta que será feita na Selic e dificilmente a taxa real embutida no swap de 360 dias conseguirá, no futuro, superar os atuais 8,61%. A conta seria bem diferente se o Fed sinalizasse juro de 3% no fim do ano (quatro altas de 0,25 ponto, a começar na reunião de 5 de agosto). Mas não fará isso dado o predomínio dos pombas.
O Relatório Trimestral de Inflação do BC, divulgado ontem, detecta "riscos domésticos", além dos que vêm de fora. Mesmo assim, os juros subiram no mercado futuro da BM&F por causa exclusivamente do IPCA-15 de junho acima das expectativas. Não subiram mais porque o Relatório não amparava movimento de alta intenso. Para um prognóstico consensual de 0,79%, o indicador acelerou sua arrancada de 0,56% em maio para 0,90% em junho. O contrato mais negociado no DI futuro, para janeiro de 2010, avançou de 14,75% para 14,80%. A taxa prevista para a virada do ano evoluiu de 13,20% para 13,22%.
Repleta de símbolos facilmente decodificáveis, uma frase específica dita pelo diretor Mário Mesquita na entrevista de apresentação do Relatório - "O BC fará o necessário, enquanto for necessário, para manter a trajetória da inflação alinhada com as metas" - segurou a alta do DI futuro. Ela não se limitou a reforçar o código utilizado pela última ata do Copom (publicado no dia 12) para indicar a intenção de manter o ritmo de avanço de 0,50 ponto, ao repetir a expressão "enquanto for necessário" contida na ata. Foi além: os dois "necessários" significam que o ciclo de alta será muito mais longo do que vêm projetando os analistas.
O diretor do BC refutou indiretamente a projeção mediana de cem instituições, colhida pelo boletim Focus, segundo a qual a Selic irá cair em 2009, já que, depois de fechar 2008 em 14,25%, encerraria o ano que vem em 13%. Isso não será possível já que o IPCA esperado para 2009, de 4,7%, está acima da meta central de inflação, de 4,5%. "Quando se tem, constantemente, a inflação acima da meta, o corte de juros não é o mais provável", afirmou Mesquita. O aperto monetário não será intensificado como deseja a parte fundamentalista do mercado. Mas a suposição de que o Copom se alinha ao clima dovish do Fomc voa pelo ar com a sinalização de que o arrocho será longo. O aperto monetário anterior ao atual, iniciado no Copom do dia 15 de setembro de 2004, durou nove reuniões - elevou a Selic de 16% para 19,75% - e a flexibilização começou três reuniões depois. O atual pode não ser mais longo no momento da decolagem, mas sim no de manutenção da velocidade de cruzeiro.
Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças
luiz.guimaraes@valor.com.br
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