E.S. Browning, The Wall Street Journal
O mercado acionário americano chegou ao nível mais baixo do ano e parou pouco acima do que é considerado como "mercado urso", com bancos e corretoras novamente puxando a queda, num processo extremamente parecido com o modo como as ações de tecnologia causaram a penúltima fase de baixa das bolsas nos Estados Unidos, no início da década.
A Média Industrial Dow Jones caiu 358,41 pontos, para 11.453.42. Ela está agora 19% abaixo do recorde de outubro e a 122 de uma queda de 20%. Investidores geralmente consideram uma queda de 20% em algum dos principais índices o sinal de que começou uma fase de baixas, ou um mercado urso.
Apesar de as ações de bancos e corretoras terem puxado a queda de ontem - principalmente depois que analistas de Wall Street rebaixaram a avaliação de suas ações, e do ressurgimento dos temores de fim de trimestre, que assombram o mercado desde o ano passado - a queda teve várias outras causas. O petróleo atingiu novo recorde, fechando em alta de 3,8%, a US$ 139,64, depois de passar dos US$ 140 o barril. Empresas como Oracle e a fabricante do BlackBerry, a Research In Motion, divulgaram previsões pessimistas. O dólar caiu. Em reação à turbulência, o ouro subiu US$ 33,10, para US$ 913,10 a onça troy, a maior alta dos últimos 23 anos.
O pessimismo tomou conta do pregão da Bolsa de Nova York. "Não parece existir um elemento estimulante que isso parar e reverter", disse Gordon Charlop, da corretora Rosenblatt Securities. Como muitos traders entrevistados na última hora do pregão de ontem, Charlop disse que teme que a bolsa continue a cair. O declínio de 3,03% na Média Dow Jones foi o segundo maior do ano em porcentagem. O índice já caiu 19% em relação ao pico, de 14.164,53, em outubro. Para chegar ao nível que os investidores consideram o início de um mercado urso, a Média Dow Jones teria de chegar a 11.331,62 pontos ou menos.
Os outros índices também tiveram quedas acentuadas. A Média Dow Jones já caiu 9,4% só em junho e, caso não se recupere hoje ou na segunda-feira, este será o seu pior mês desde 2002. Também será o pior desempenho do índice num mês de junho desde 1930 e o sétimo mês de queda entre os últimos oito. Só em nove dias o índice já acumula queda de 6,9%.
As ações do setor financeiro, desde grandes corretoras de Wall Street até bancos regionais, têm caído desde o início de maio e o declínio se acelerou quando ficou evidente que os problemas com créditos de liquidação duvidosa que assolam os bancos não desaparecerão assim tão cedo. O gráfico de algumas dessas ações lembra o declínio dos papéis de gigantes da tecnologia depois que a bolha da internet estourou.
A ação do Citigroup caiu 6,3% ontem e chegou a cotação mais baixa em 10 anos, enquanto a do Bank of America caiu 6,8% e a do Washington Mutual, 9%. As corretoras também sentiram o bafo do urso, com a ação da Lehman Brothers em queda de 8,4% e a da Merril Lynch caindo 6,8%. A Goldman Sachs, considerada mais sólidas entre as corretoras, caiu 4%.
De certa forma, a queda das ações de bancos lembrou aos investidores do colapso nas ações de tecnologia no mercado urso que começou em 2000, ou o colapso das ações do setor petrolífero depois que o petróleo começou a cair no início dos anos 80. Antes do fim do estouro da bolha da internet, a Cisco Systems já tinha caído 89%, a Dell 71% e a Amazon.com, 92%.
O Citigroup, que já foi o maior banco dos Estados Unidos em valor de mercado, teve queda de 69% em sua cotação frente ao auge, em 2006, e atingiu a cotação mais baixa dos últimos 10 anos. O Washington Mutual, importante banco da área financiamento imobiliário, já caiu 89% em relação ao auge da cotação, em 2003, e atualmente está no nível mais baixo desde 1991. O Merrill Lynch, por sua vez, caiu 66% e fechou na cotação mais baixa desde 2003. A Lehman Brothers já caiu 74%. Mas as ações do setor financeiro ainda não caíram tanto quanto as de internet. A esta altura, o Índice Nasdaq Composto já tinha caído 60%, cerca de 10% mais que a média de declínio das ações financeiras.
Os bancos são o coração de uma economia, com um papel muito mais importante do que as firmas de internet e tecnologia. Enquanto algumas ações de tecnologia foram às alturas mesmo com lucro baixo ou inexistente, os bancos tiveram lá os seus lucros. De todos os dez setores no Índice Standard & Poor's de 500 ações, o financeiro foi o que teve os maiores lucros trimestrais desde 1995, segundo a S&P - uma bonança com poucos precedentes históricos além do desempenho extraordinário do setor petrolífero nos anos 70. No primeiro trimestre de 2007, quando representava cerca de 22% do valor de mercado do índice, o setor financeiro chegou a representar 30% de todos os lucros.
"No geral, não significa que o crescimento econômico deve terminar sendo menor do que seria", disse Marc Stern, diretor de investimento do Bessemer Trust, que administra em Nova York um patrimônio de US$ 50 bilhões oriundo principalmente de famílias ricas. O problema, segundo Stern, é que os bancos e outras instituições financeiras tomaram emprestado demais para criar instrumentos financeiros complexos, como os bônus com garantia de hipotecas, e investir. Agora, com seus balanços sobrecarregados com bilhões em créditos de recebimento duvidoso, eles são forçados a levantar bilhões em dinheiro novo, de investidores com os governos de países do Oriente Médio.
Eles também têm de reduzir o volume de dinheiro que tomam emprestado e a parar de emprestar tão agressivamente. O mais intimidante, eles precisam reconstruir um sistema de financiamento que cresceu rapidamente baseado na idéia de que os bancos poderiam se livrar dos empréstimos transformando-os em títulos e os vendendo a outros investidores. Tantos títulos questionáveis foram criados que muitos investidores estão cautelosos em relação ao sistema, os bancos ainda não têm um substituto.
Agora, como os papéis de empresas de energia dos anos 70 e das ações das empresas de tecnologia dos anos 90, os investimentos financeiros estão em declínio. E, como aconteceu com os grupos outrora dominantes, os investidores temem que a debilidade financeira atual não possa ser remediada tão cedo.
Alguns administradores de recursos compraram ações de instituições financeiras na esperança de que elas tivessem chegado à menor cotação em março. Embora alguns tenham sido chamuscados, eles ainda acreditam que as ações vão chegar ao fundo do poço logo e, depois, subir além dos patamares antigos. Stern diz estar ansioso para comprar papéis de instituições financeiras no futuro, mas não fará isso enquanto elas não caírem ainda mais e só depois que as empresas tenham feito uma reestruturação mais profunda.
Ele lembra que, no pique da atividade, as maiores corretoras estavam usando dinheiro emprestado que representava, em média, 27 vezes o capital deles, patamar que, como ficou provado, era insustentável. Mas há significativas diferenças entre os papéis de instituições financeiras e as ações de empresas de tecnologia. Embora a influência econômica das empresas financeiras, de certa maneira, tenha sido maior do que a das companhias de tecnologia, as ações delas nunca dominaram o mercado da mesma maneira que as das tecnológicas.
As ações do setor financeiro tiveram suas versões do Pets.com, como o colapso do banco hipotecário New Century Financial e intervenção do Fed americano para salvar o banco Bear Stearns. Mas esses papéis nunca subiram às alturas a que chegaram os das empresas de tecnologia. Eles nunca foram sobrevalorizados em termos de lucros reais, muito embora, como no caso da tecnologia, o lucro tenha se tornado suspeito.
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