Altamiro Silva Júnior, de São Paulo
Após seis meses de negociação, o Banco do Brasil anunciou ontem a compra do banco paulista Nossa Caixa por R$ 5,386 bilhões, que serão pagos em 18 parcelas em dinheiro a partir de março de 2009. Com a aquisição, o BB passa a ser o banco com maior número de agências no Estado de São Paulo, recupera a liderança no país na gestão de recursos de terceiros, mas ainda perde em ativos para o banco resultante da fusão do Itaú com o Unibanco, que criou o maior banco do país.
Em 200 anos, a Nossa Caixa foi a primeira aquisição do banco (os bancos do Estado do Piauí e de Santa Catarina foram incorporados ao BB). O processo de integração vai ser uma experiência nova e desafiadora para a instituição, disse o presidente do BB Antonio Francisco de Lima Neto ao Valor. Bradesco e Itaú já passaram por inúmeras integrações do tipo, após comprarem várias outras instituições. O BB, diz ele, sai dessa operação em pé de igualdade para competir com as instituições privadas pelo cada vez mais concentrado e competitivo mercado brasileiro. Foi o próprio BB quem decidiu procurar, em maio, o governo paulista e propor a aquisição.
O BB não descarta novas aquisições para recuperar a liderança entre os bancos brasileiros, segundo Lima Neto, "mas não a qualquer preço e só o que fizer sentido estratégico". Perguntado sobre a compra do Banco Votorantim, ele afirmou ser "mera especulação".
A aquisição vai gerar ganhos de sinergia para o BB que podem chegar a R$ 4 bilhões no prazo de cinco anos. Esse dinheiro virá da receita com a venda de produtos pouco explorados no banco paulista, como cartões de crédito e mesmo operações de empréstimos. O governo paulista se comprometeu a manter o BB como agente financeiro do Estado por 5 anos. Já o BB se comprometeu a manter os depósitos judiciais nas condições atuais até 2017.
"A Nossa Caixa é um banco muito líquido e conservador", disse Aldo Mendes, vice-presidente do BB. O potencial para expansão das operações de crédito é grande, diz ele. Um dos indicadores que mostram isso é a relação dos empréstimos com os depósitos de menor custo (depósitos à vista, poupança e depósitos judiciais), de apenas 38% no banco paulista (e de 135% nos dois bancos públicos juntos). No Bradesco, esse mesmo indicador é de 254% e no Itaú com o Unibanco, de 372%.
O BB tinha presença fraca no Estado de São Paulo, considerando seu tamanho no Brasil. Ocupava a quarta posição na região. Segundo Lima Neto, uma dos motivadores da aquisição é justamente aumentar a presença na região, a mais rica do país. O BB será o líder em agências, com 1,324 mil pontos, seguido pelo Itaú com Unibanco (1,240 mil) e Santander com o Banco Real (1,204 mil). Por conta de uma presença menor no Estado, poucas agências devem ser fechadas. O BB fala em menos de 30, todas em cidades pequenas (com cerca de 10 mil habitantes) que não comportariam duas agências. Lima Neto fala que as demissões "não serão fator de estresse" nessa operação.
O BB comprou 71% do capital da Nossa Caixa e no início de 2009 fará oferta pública para comprar o restante das ações, que estão com os acionistas minoritários, e fechar o capital do banco paulista, que será incorporado ao BB. O valor será o mesmo preço pago ao governo paulista. Na aquisição, cada ação saiu a R$ 70,63. Assim, 100% do banco saem por R$ 7,56 bilhões. Nesse primeiro momento, a Nossa Caixa vira uma subsidiária integral do BB. Em 12 meses, será integrada. O nome Nossa Caixa vai desaparecer em 2010. A operação tem que ser aprovada pelo Banco Central e pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.
O valor da compra foi de 2,4 vezes o patrimônio do banco paulista, média semelhante a de outros negócios recentes no sistema financeiro. O dinheiro será pago com caixa do próprio BB em 18 parcelas de R$ 300 milhões corrigidas pela Selic. A aquisição vai gerar um crédito fiscal de R$ 1,8 bilhão, amortizado em cinco anos. Trazido a valor presente, o benefício ficaria na casa de R$ 1 bilhão (resultante do ágio pago na aquisição).
Após a aquisição, Ricardo Flores, vice-presidente do BB, disse que a próxima etapa é negociar com os sócios da Nossa Caixa nas operações de seguro e capitalização (a seguradora espanhola Mapfre e a Icatu Hartford). Segundo ele, só a partir de agora é que vai ser definido o que será feito. A Mapfre, que tem joint venture com o banco paulista para a venda de seguros de vida e previdência, voltou a afirmar ontem que tem interesse em manter a sociedade, "referência nacional como parceria público-privada". Lima Neto afirma que o BB será agora o "maior balcão" para a venda de seguros no país. "O próximo passo é renegociar com os parceiros para o redesenho dessas operações", disse ele.
A Nossa Caixa tem 5,7 milhões de clientes e é o sétimo maior banco brasileiro em depósitos e o terceiro maior banco público nacional. Com a aquisição, os depósitos do BB crescem 15% (para R$ 264 bilhões), o número de funcionários aumenta 16% (103 mil) e os ativos crescem 12% (para R$ 512,4 bilhões). Mesmo assim, o banco perde para Itaú e Unibanco, que terão R$ 575 bilhões em ativos.
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