Deborah Solomon, The Wall Street Journal
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, não deve usar o saldo do fundo de US$ 700 bilhões para socorrer o setor financeiro no lançamento de novos programas. Ele prefere manter algum dinheiro em reserva e garantir flexibilidade para o governo do presidente eleito Barack Obama.
Paulson disse, em entrevista ao "The Wall Street Journal", que está pensando na melhor maneira de utilizar os US$ 410 bilhões restantes, mas que não tem intenção de usá-los a menos que seja necessário.
"Vou fazer o que é preciso para manter o sistema forte, mas não estou procurando fazer coisas novas a não ser em caso de necessidade, a não ser que faça todo sentido", disse Paulson. "Quero preservar o poder de fogo, a flexibilidade que temos agora e que os que virão depois de nós também terão."
O Congresso americano aprovou o fundo de US$ 700 bilhões em outubro, depois que Paulson e o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, insistiram que uma ampla resposta era necessária para prevenir um colapso econômico.
Paulson recebeu acesso imediato a US$ 350 bilhões, com uma segunda parcela disponível depois que enviasse uma notificação por escrito ao Congresso. Os parlamentares teriam 15 dias para negar tal pedido.
A decisão de Paulson é um sinal de que o governo de George W. Bush não deve atender aos pedidos de alguns no Congresso para que os fundos de socorro sejam usados para ajudar a mitigar as execuções judiciais de casas cujos financiamentos estão em atraso. Essa se mostrou uma questão surpreendentemente espinhosa, provocando conflitos dentro do governo sobre o propósito do fundo e a melhor maneira de ajudar os mutuários. Paulson já descartou o uso do dinheiro para ajudar as montadoras americanas.
Ela também transfere, na prática, a decisão sobre como usar os US$ 350 bilhões restantes para Obama e seu secretário do Tesouro, que ainda tem de ser escolhido. Assessores de Obama não disseram publicamente como usariam os recursos, o que dá um ar de incerteza ao futuro do programa.
No Congresso, hoje, Paulson pode ter uma recepção hostil dos parlamentares quando depuser sobre o pacote, sobre tópicos como o plano do Tesouro de relegar a compra de créditos de alto risco em favor da injeção direta de capital nos bancos. Paulson pretende dizer ao Congresso que o Tesouro não pôde seguir o plano original porque, depois de investir US$ 250 bilhões nos bancos, não tinha recursos suficientes para criar um grande impacto.
"Nós chegamos à conclusão de que um programa de compra de ativos de risco, para ser eficaz, exigiria um comprometimento maciço dos fundos do Tarp", pretende dizer Paulson, de acordo com o texto de seu depoimento, em referência ao Programa de Alívio de Ativos Problemáticos.
Paulson defendeu essa decisão, dizendo que o programa de compra de ações por parte do Tesouro ajudou a estabilizar o setor financeiro e limitou o risco de um futuro colapso de alguma grande instituição financeira. "Nós viramos a página em termos de estabilização do sistema. Não há mais preocupação de que alguma instituição (que possa ter influência) sistêmica vá quebrar."
Ainda assim, Paulson reconhece que abandonar o plano de compra de ativos deixará um problema fundamental sem solução. "Essas instituições ainda estão entupidas com esses ativos. Elas vão precisar dar baixas contábeis, vendê-los ao longo do tempo, assumir perdas", disse.
Se o secretário do Tesouro não pedir que parlamentares liberem a segunda parcela do Tarp, ele pode evitar atrito com o Congresso. Além de criticar a mudança de planos do Tesouro, os legisladores devem tentar acrescentar novas condições para o uso desses fundos, como exigir das empresas participantes que façam novos empréstimos ou não usem o dinheiro para pagar dividendos ou aquisições.
O uso dos US$ 700 bilhões pelo Tesouro mudou desde que Paulson conseguiu do Congresso a autoridade de empregá-lo. Mas muitos congressistas ainda esperam que Paulson use o fundo para ajudar os mutuários sob risco de perder o imóvel.
O Tesouro planejava inicialmente usar a alavancagem que conseguiria com a compra dos empréstimos residenciais e títulos lastreados em hipotecas para encorajar credores a ajudar mutuários com problemas. O Tesouro não pretende mais comprar esses ativos, mas também não tem um plano alternativo para ajudar os devedores de imóveis via Tarp.
O deputado democrata Barney Frank já tinha dito na semana passada que esperava que o Tesouro usasse parte dos US$ 700 bilhões para reduzir as execuções judiciais da casa própria.
Paulson pareceu ter eliminado a possibilidade de engrenar um esforço de larga escala para mitigar as execuções judiciais com o fundo de socorro. Ele argumenta que o dinheiro tem de ser investido e que a maioria desses programas demanda despesas do contribuinte que não darão retorno.
Em vez disso, o governo provavelmente vai se focar em programas já existentes, como um plano para que as hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, atualmente sob controle do governo, ajudem a interromper as execuções judiciais evitáveis.
O plano facultativo, que o governo espera que seja aceito por outras hipotecárias, permitiria que certos tomadores recebessem empréstimos mais baratos, com prestações de no máximo 38% da renda mensal.
Há semanas que cresce a pressão para que o governo adote medidas mais amplas para combater o problemas das execuções judiciais. Sheila Bair, presidente da agência garantidora de depósitos FDIC, que foi indicada pelo atual presidente George W. Bush, já criticou o governo por não adotar medidas suficientes para socorrer os mutuários da casa própria.
Bair vem pressionando por um plano do governo para usar parte dos US$ 700 bilhões na cobertura de prejuízos com empréstimos renegociados que os mutuários deixarem de honrar.
Mas muita gente no governo Bush se opõe a esse plano, alegando que ele incentiva os bancos a executarem judicialmente os mutuários, e dá lucro para investidores que detêm títulos garantidos por esses empréstimos.
Na entrevista, Paulson disse que o Tesouro "gastou um bocado de tempo no programa da FDIC" e está "trabalhando para verificar se podemos criar algo que funcione".
"As execuções judiciais são um grande problema, são um problema econômico", disse Paulson. Mas é complicado encontrar uma solução, disse ele, porque "as questões passam a ser: qual seria o sucesso de programas individualizados, para onde foi dinheiro, se está indo para os bancos ou mutuários e qual é a relação custo-benefício."
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