Alex Ribeiro, da Cidade do Panamá
O mundo terá que conviver com taxas de juros mais altas assim que as economias reagirem aos maciços estímulos fiscais e monetários feitos por países desenvolvidos, disse ontem o professor Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, que ganhou projeção depois que previu a crise financeira atual e seus desdobramentos.
O diagnóstico dominante entre os economistas reunidos ontem em debates do encontro da Federação Latino-Americana de Bancos (Felaban) é que as ações firmes tomadas por economias desenvolvidas e em desenvolvimento são suficientes para evitar uma crise financeira ainda mais profunda.
As discussões, agora, se voltam para a duração e a intensidade da crise financeira sobre a economia real - e sobre as repercussões mais permanentes que ela terá sobre variáveis como contas fiscais, taxas de câmbio e taxas de juros.
Roubini, que se notabilizou nos últimos anos pelo pessimismo que observava a evolução dos mercados financeiros, também tem visão bastante negativa sobre como a economia real irá ser afetada. "Não será a crise de 1929, mas será a crise mais séria desde então", afirmou Roubini, que falou em videoconferência para executivos de bancos. "Não espero recuperação em 2009. A economia só começa a reagir em 2010."
Disse que todos os números que saíram sobre a atividade econômica, tais como emprego, crédito e consumo, são piores que os previstos. Ele espera uma queda adicional entre 20% e 30% no índice S&P500 de Nova York, em virtude da divulgação de resultados corporativos abaixo do esperado. Roubini acha também que perdas de seguradoras e com empréstimos serão fonte de estresse no mercado financeiro.
E a recuperação esperada pela 2010, afirmou, irá ocorrer de forma débil, em parte porque o socorro às economia criará novos desequilíbrios. A projeção, disse, é que a expansão fiscal faça com que o déficit americano fique em US$ 1 trilhão nos próximos dois anos. O custo, segundo ele, virá de políticas não-ortodoxas tanto no campo monetário quanto fiscal, as quais, disse, eram absolutamente necessárias diante de um cenário mais negativo que seria causado por uma depressão.
No campo monetário, os bancos centrais de países tiveram que ir além de corte de juros, e isso terá conseqüências também. "Ficamos presos a uma armadilha monetária, que obrigou os países a lançar mão de outras medidas", disse Marco Fernández, da consultoria Investigación y Desarrollo, do Panamá.
"Será difícil financiar essas dívidas", disse o economista Jorge Suárez-Velez, da Global Plus Management. "Com isso, a taxa de juros de curto prazo vai baixar, mas as de longo prazo ficarão altas". Os déficits públicos também significam, na leitura dos economistas, que o dólar irá voltar a perder valor ante outras moedas.
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