Sergio Leo, de Brasília
As autoridades monetárias do G-20, o grupo das maiores economias do mundo, agora têm uma instrução explícita dos chefes de Estado para ir além da preocupação com inflação e desempenho fiscal, e monitorar de perto as "bolhas" de valorização de ativos, como imóveis e seus efeitos sobre a estabilidade macroeconômica. Esse ponto, das 47 medidas do plano de ação decidido no fim de semana pelos chefes de Estado do G-20, foi uma das principais decisões do G-20 defendidas pelo governo brasileiro, comentou, ao Valor, o secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, Nélson Barbosa.
O Brasil, que deixa este ano a presidência rotativa do G-20, foi designado com a Coréia e a Inglaterra, para formular uma lista de medidas capaz de concretizar as recomendações feitas pelos chefes de Estado. O governo brasileiro, segundo informou Barbosa, convidará especialistas para decidir as propostas a serem apresentadas pelo país, no início do ano que vem. O G-20 fixou propostas para serem adotadas até 31 de março, o que deve exigir nova reunião de ministros do grupo até essa data, para avaliar o plano de trabalho a ser proposto pelos três países.
"O comunicado final do G-20 foi bom para nós, dentro das possibilidades", comenta Barbosa, para quem o Brasil foi bem-sucedido em aprovar, na declaração final do G-20, medidas defendidas pelo país, como a determinação para que as regras de supervisão no mercado financeiro não sejam "pró-ciclicas" - elaboradas de maneira a exacerbar a expansão econômica em períodos de crescimento e agravar a desaceleração econômica nos momentos de contração da atividade produtiva.
Outro ponto incluído por insistência do país na lista de 47 medidas foi a recomendação de que "autoridades devem monitorar substancial mudanças nos preços de ativos, e suas implicações para o sistema macroeconômico e financeiro". Para Barbosa, essa medida traduz a recomendação de economistas como os detentores do prêmio Nobel de Economia Paul Krugman e Joseph Stiglitz, contra a ação do ex-presidente do FED americano Alan Greenspan, que deixou crescerem "bolhas" especulativas como as da Internet e a imobiliária.
"É uma atividade nova para as autoridades", ressalta Nélson Barbosa. Embora a declaração do G-20 fale apenas em "monitorar", o secretário de Assuntos Econômicos do ministério da Fazenda acredita que essa medida, prevista entre as ações de "médio prazo" levará a decisões para "reverter" processos de valorização muito rápida de ativos financeiros. "Esses processos fazem com que aumentem os valores de certos ativos quando tudo vai bem, o que favorece o ambiente macroeconômico; mas quando as coisas vão mal, acontece o que estamos vendo agora", comentou o economista, lembrando a crise financeira iniciada com o estouro da bolha imobiliária nos EUA.
Entre os pontos aprovados por pressão do Brasil e que receberão atenção especial do governo para regulamentação está a determinação, em curto prazo, para que os órgãos internacionais de fiscalização criem maneiras de avaliar os preços de produtos financeiros complexos, comuns nos mercados de hedge. "Não basta dar transparência, com a divulgação das operações; é preciso padronizar a avaliação de risco", defende.
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