O declínio das commodities não poupou os mercados de câmbio e juros. O estrago maior foi produzido mesmo na Bovespa, mas tirou a dupla câmbio e juro do idílio paradisíaco construído pelo revigoramento da política monetária do Banco Central. O furo das commodities, desde que não provoque uma fuga excessiva de investidores estrangeiros dos ativos brasileiros, ajuda o BC a enquadrar o IPCA na meta. Mas se contaminar a balança comercial num momento de expansão do déficit em transações correntes, a derrocada das matérias-primas suscitará preocupações mais graves.
O petróleo chegou a ser negociado ontem abaixo de US$ 120,00 o barril no mercado futuro da Nymex. Fechou a US$ 121,41, em desvalorização de 2,95%. O índice CRB de 19 commodities caiu ontem 3,38%, mas ainda acumula ganho de 12,06% no ano. A alta experimentada pelo dólar negociado no mercado doméstico de câmbio denunciou a prevalência de saída líquida de capitais do país. Não houve apenas vendas de ações por parte de capital externo depois direcionado para a renda fixa. Em épocas de incertezas e necessidade de honrar perdas em outros mercados, não importa muito se um país é o recordista mundial no pagamento de juros reais. Vale mais a liquidez e a segurança do que a rentabilidade. O dólar fechou com valorização de 0,19%, cotado a R$ 1,5620.
A saída respingou no mercado monetário, sobretudo nas armações do pregão de DI futuro. As projeções de CDI, curtas e longas, passaram o dia em queda, refletindo a nova tendência baixista constatada para o IPCA pela pesquisa Focus do BC. Mas, no final, não resistiram e fecharam com leves avanços. A taxa para a virada do ano evoluiu de 13,71% para 13,74%. O contrato para janeiro de 2010 subiu de 14,77% para 14,78%. Contrato típico de investidor estrangeiro e que por isso reflete o grau de aversão global a risco, o janeiro de 2012 passou de 13,95% para 13,99%.
O Focus mostrou que a nova disposição monetarista do Copom, aliada ao desinflar da bolha de commodities, já tornaram os analistas mais otimistas. O viés já mudou. O prognóstico de IPCA para este ano, após 18 semanas em alta consecutiva, caiu na pesquisa divulgada ontem de 6,58% para 6,54%. A estimativa das cem instituições pesquisadas para o índice referente aos próximos 12 meses cedeu de 5,44% para 5,37%. E as Top 5 (as cinco instituições que mais acertam) já começaram a revisar para baixo a projeção de IPCA para 2009, o ano alvo dos esforços atuais do BC. A média das previsões caiu de 5,07% para 5,04%.
A baixa das commodities desanuvia o clima que hoje cercará a reunião de política monetária de agosto do Federal Reserve (Fed), num momento de recrudescimento da inflação. Divulgado ontem, o núcleo do PCE (índice dos gastos pessoais dos consumidores) subiu 0,3% em junho, acima das expectativas de avanço de 0,1%. O índice anual, após três meses estacionado em 2,2%, subiu agora para 2,3%. O teto da banda informal do Fed é de 2%. Mas, como as commodities refluíram, o Fed poderá hoje manter o juro básico em 2%. Se a decisão não desperta em si maior curiosidade, a direção da taxa a ser indicada pelo comunicado pós-reunião provoca grande ansiedade. Há forte lobby de grandes bancos de investimentos americanos em favor da sinalização de um novo corte no futuro, enquanto a parte responsável do mercado vê a necessidade de indicação de um viés altista de forma a segurar os preços e levantar o dólar.
Ao contrário da divisão que prevalece nos EUA, no Brasil o consenso é de alta da taxa Selic. A maioria dos analistas vê a repetição da dose de 0,75 ponto na próxima reunião do Copom, dia 10 de setembro. Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, haverá em 2009 uma desaceleração importante do PIB comparativamente aos 4,8% previstos para 2008. A consultoria estima 3,5% no ano que vem, sem caracterizar portanto um "vôo de galinha" típico. Vale dizer, ela não trabalha com um freio brusco de crescimento. "O ajuste que o BC tentará fazer será o mais rápido possível, ou seja, subir rápido para poder cair rápido também", diz Vale. Num cenário em que os preços de commodities começaram a ceder, como a MB já alertou em junho, a tarefa do BC fica mais "fácil". A alta da Selic não deve ser desta vez tão intensa como foram os apertos de 2003 e 2005 e, portanto, também não deve trazer uma queda brusca de atividade como naqueles anos. O cenário da MB considera que o BC aumentará novamente a Selic em 0,75 ponto na próxima reunião, reduzindo a dose para 0,5 ponto em outubro, terminando o ano em 14,25%. A taxa deve ficar nesse patamar até meados de 2009, quando o Copom voltaria a promover um ciclo de flexibilização até o juro encerrar o ano em 12,75%.
Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças
luiz.guimaraes@valor.com.br
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