Em apenas quatro pregões, as apostas contra o dólar e a favor do real feitas por investidores estrangeiros na BM&F se reduziram à metade. As posições "vendidas" líquidas nos segmentos de dólar futuro e cupom cambial, carregadas pelo capital externo, caíram de US$ 8,53 bilhões no dia 29 de julho para US$ 4,58 bilhões na segunda-feira, última posição oficialmente conhecidas. Ou seja, os fundos estrangeiros estão desmontando posições ao frenético ritmo de US$ 1 bilhão por dia. Por que a queda se tais operações costumam render o maior juro real do mundo, de 8,74% (diferença entre o swap de 360 dias a 14,58% e a expectativa de IPCA Focus 12 meses à frente, de 5,37%), além da variação cambial?
O carry trade dólar versus real está sendo desarmado aceleradamente por duas razões. A primeira é que a perspectiva de desaquecimento econômico global, ao promover a valorização internacional do dólar (mesmo que a prioridade antiinflação do Federal Reserve não seja muito clara), derruba as commodities nas bolsas de derivativos de Chicago, Nova York e Londres. E os hedge funds posicionados em Brasil precisam sair desse carry trade lucrativo para cobrir prejuízos nessas outras praças. Ontem o barril de petróleo negociado na Nymex caiu 1,84%, para US$ 119,17. O índice CRB, que acompanha os preços das 19 principais commodities energéticas, agrícolas e metálicas, recuou ontem 0,89%. A segunda é que, como o real já se apreciou muito e continuamente nos últimos cinco anos, qualquer mudança externa é capaz de provocar a desvalorização da moeda nacional. E se o real cair mais de 1,1% num mês, a variação anula completamente o ganho financeiro da operação externa "vendida" em dólar. Só a alta de 0,76% experimentada ontem pelo dólar, cotado a R$ 1,5740, já foi capaz de atormentar a vida do hedge fund "vendido" na BM&F.
Nem o BC brasileiro, considerado o mais conservador do mundo, consegue assegurar uma rentabilidade vantajosa e sem risco ao investidor externo em face do cenário externo incerto. De sua parte, o Fed deixou faz tempo de se comprometer com o futuro. A decisão tomada ontem de manter o juro básico em 2% - taxa nominal que não cobre o núcleo da inflação anual medido por qualquer dos índices mais relevantes - foi anunciada por comunicado que, na opinião da maioria dos analistas, equilibra os pratos da balança de riscos entre atividade e inflação. A nota pós-Fomc (Federal Open Market Committee, o Copom deles) não sai de cima do muro ao, dele, ver riscos elevados tanto para o crescimento econômico quanto para a evolução da inflação. "A sinalização de que o balanço de riscos está equilibrado sugere que mudanças na política monetária dos EUA não são iminentes", diz a consultoria LCA. Ela continua a projetar a manutenção da fed funds rate em 2% pelo restante deste ano e no primeiro semestre de 2009, "num contexto de diluição de pressões inflacionárias e crescimento anêmico".
Mas a questão não é pacífica. O economista-chefe da UP Trend, Jason Vieira, leu no comunicado ênfase maior na necessidade de combater a inflação. "Os riscos de uma maior pressão de preços no futuro mostra que um movimento de alta nos juros americanos num futuro próximo é totalmente factível", alerta. O Fomc se reunirá mais três vezes até o fim do ano. E o mercado secundário de treasuries não descarta que, em pelo menos uma delas, ele venha a aumentar a taxa para 2,25%, fortalecendo ainda mais o dólar.
Mesmo com o dólar replicando aqui dentro as condições de valorização encontradas lá fora, o mercado futuro de juros da BM&F abandonou o movimento de alta visto na véspera. As taxas caíram porque não havia como trilharem outro caminho diante do IPC FIPE fechado de julho. O índice caiu a 0,45%, metade do registrado em junho (0,92%) e aquém das expectativas. Começaram a ser divulgados os índices capazes de comprovar a hipótese, a menos cotada entre os economistas de bancos, segundo a qual o repique recente da inflação foi motivado muito mais pelo choque de alimentos do que por demanda supostamente hiperaquecida. E é este o monstro feroz que sofre o ataque impiedoso do Copom, já que os alimentos se locomovem em função de demanda e especulação globais, nada a ver com o BC brasileiro. Quem tá certo, o BC ou o Fed?
A queda dos DIs foi acentuada ontem, sobretudo os mais longos. O contrato para janeiro de 2010, o mais negociado, caiu de 14,78% para 14,70%. A taxa para janeiro de 2011 tombou de 14,38% para 14,23%. E o CDI previsto para janeiro de 2012 recuou de 13,99% para 13,83%.
Luiz Sérgio Guimarães
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