É cada vez mais claro que o mundo está diante de um processo inflacionário global. Efeito e causa, simultaneamente, de um conjunto de eventos que se combinaram: 1) uma expansão formidável dos países emergentes, estimulada pela demanda criada pelos déficits comerciais dos EUA, que; 2) levou à desvalorização da unidade de conta do comércio internacional (o dólar) e; 3) melhorou ao mesmo tempo a posição externa daqueles países, pelo enorme aumento dos preços internacionais. Tudo bem temperado pela política monetária laxista dos bancos centrais dos países desenvolvidos e da pouca disposição que demonstraram em controlar a imoralidade implícita no sistema financeiro quando movido por incentivos inadequados. A discussão sobre as causas desse movimento é irrelevante. O importante é reconhecer como ele está evoluindo e como afetará cada um dos países.
As tabelas abaixo mostram que o mundo está registrando um pouco menos de crescimento e um pouco mais de inflação, movimento que não poupará nenhum país.
Certamente pode-se discutir tais estimativas. O que não é possível negar é que elas, bem ou mal, representam as expectativas que o "crème de la crème" dos sobreviventes da devastação do mercado financeiro têm hoje (início do segundo semestre de 2008) sobre a economia mundial. E todos sabemos que as "expectativas" têm conseqüências. Como deveria ser evidente tratando-se de um problema planetário, o seu enfrentamento teria maior probabilidade de sucesso se fosse também globalmente coordenado com a implementação de políticas fiscais, monetárias e cambiais que distribuíssem seus custos equanimemente. Políticas monetárias quixotescas, que dão demonstração infantil de "independência" de bancos centrais são aplaudidas pelo sistema financeiro à cata de oportunidades de lucros (hoje minguantes), mas podem impor uma relação custo/benefício muito alta para o setor real da economia do qual dependem o crescimento e o emprego.
Isso está implícito nas "expectativas" sobre o Brasil. Enquanto se espera que os emergentes reduzirão o seu crescimento entre 2008 e 2009 em 0,3% do PIB para reduzir sua taxa de inflação em 2,7%, espera-se que o Brasil reduza 2% do PIB para reduzir em 2% a sua taxa de inflação: um custo nove vezes maior do que deles!
Não se trata, obviamente, de um complô contra o Brasil. É apenas o reconhecimento da péssima qualidade de política de financiamento da nossa dívida pública, iniciada há mais de uma década e que não tivemos coragem de enfrentar até agora.
É diante desse quadro, em que os bancos centrais "free riders" oportunistas estão à espreita, que a nossa política monetária deve ser firme, mas moderada e paciente para responder ao jogo dos outros, sem o que pagaremos custos excessivos. Esse, certamente, não é o comportamento misteriosamente chamado de "tempestivo" pelo nosso Banco Central e com o qual tem tentado assustar o Brasil real da produção e do emprego para fazer a "expectativa inflacionária" retornar apressadamente aos 4,5% no início de 2009.
Todos sabemos que o Banco Central dispõe de apenas um instrumento: a taxa de juro real de curto prazo que, convenientemente manobrada, modificaria a taxa de juro real de longo prazo para controlar a demanda global. Isso já não parece tão fácil ou tão verdadeiro. Mas erra, e muito, quem imagina que a política monetária é impotente. No caso brasileiro, o trágico mecanismo de transmissão que lhe restou é via taxa de câmbio flexível, cuja supervalorização é induzida pelo imenso diferencial da taxa de juro real interna e externa e produzirá graves conseqüências no futuro. O Brasil continua sendo o último peru com farofa disponível, fora do Dia de Ação de Graças, na mesa dos arbitradores financeiros. Isso se aplica fortemente à renda fixa (financiamento da dívida do Tesouro) e ainda à renda variável.
Na última semana de julho de 2008, o "The Economist" mostrou que, mesmo depois dos ajustes vividos pela Bovespa, ela ainda rendia, quando comparada à última semana de 2007, 4,6% em dólares (em sete meses). A tabela ao lado fornece uma comparação com algumas outras bolsas (em dólares).
Haja virtude! É lamentável. mas verdadeiro: o aumento da taxa de inflação no Brasil é principalmente importado e conseqüência do real se recusar a valorizar-se ainda mais rapidamente. O sucesso do controle da inflação desde 2004 foi apoiado na valorização do real mais rápida do que o aumento dos preços internacionais de alimentos. Foi isso que mudou em julho de 2006. A partir daí, o aumento dos preços internacionais dos alimentos foi maior do que a valorização do real e começou a sua pressão sobre a taxa de inflação.
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.
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