PAULO RABELLO DE CASTRO
ENQUANTO os riscos de colapso econômico mundial vão se tornando perceptíveis para todos, nosso governo continua mantendo o mesmo comportamento irregular -às vezes, irrepreensível, às vezes contraditório- que o tem caracterizado desde a aceleração da crise.
Com a aproximação de 2009, não sobrou nada para o lado da marolinha. A decisão do Banco Central de manter os juros não condiz com a gastança projetada do novo Orçamento da União. Ou condiz? O Banco Central sabe que não pode deixar escapar o controle informal que exerce sobre o câmbio. Assim, por via das dúvidas, mantém exageradamente elevada nossa taxa de juros ante as demais. Foi assim desde o começo da gestão Meirelles e não seria diferente agora, senão por uma razão nova: o anúncio de mais disciplina fiscal, para assegurar o valor de nossa moeda durante o ano da crise. Diga-se: o governo Lula não tem se saído mal nos resultados fiscais, mas o herói passivo dessa história de sucesso é o bolso do contribuinte. Seria preciso, agora, aliviar o sofrido setor privado e as famílias.
Lula anunciou recentes vantagens tributárias: pequenas, mas importantes. Teria feito melhor se as tivesse anunciado com um discurso paralelo de contenção do crescimento imoderado do gasto federal. O presidente está aferrado ao discurso de mandar o brasileiro "gastar a qualquer custo" para vencer a crise (que o povo não compra nem de brincadeira). Então, como pode ele defender a prioridade à moderação dos seus próprios gastos correntes?
Motivos não lhe faltariam: tem aí o dispêndio em investimentos do PAC para ser preservado, o que lhe requererá corte no consumo de governo. Mas, politicamente, o governo não se conforma com a pouca sorte de haver visto passar debaixo de sua ponte sua bilionária chance de fazer tudo ao mesmo tempo, gastar e gastar e ainda safar-se com um ciclo monetário virtuoso e juros cadentes. Não mais.
Ao perceber a mudança de vento, a oposição não perdeu tempo. Em São Paulo, o governador José Serra, inteligente e sagaz em tudo o que faz, tirou do armário um projeto de lei estadual para introduzir "contratos de metas" (leia-se, compromisso de gestão pública baseada em bons resultados) em toda a administração do Estado. Não poderia ter sido mais certeiro e oportuno. Para além de pacotes tributários, o que o brasileiro contribuinte e eleitor quer saber é se os poderes públicos estão fazendo sua parte na busca de mais produtividade para combater a crise. Só assim se preservarão empregos.
A estratégia anticrise de 2009 exigirá "comitês de crise" atuantes, que o governo federal poderia implantar desde já. Com o discurso errado, o presidente perdeu o primeiro round. Mas isso não tem nenhuma importância. O que não pode é achar que está abafando apenas por denunciar os pessimistas e largar na arena sua candidata para 2010 quando ainda nem sobrevivemos a 2009. Isso fará mal à sua saúde política, que hoje é invejável.
O governo federal precisará de um time especial para jogar em "campo com chuva", de caras novas, com jeito profissional. E não seria demais pedir uma "agenda de transformação" por meio de reformas arrojadas (não as atuais propostas, minguadas), pois é sempre nas grandes crises que o país avança e melhora.
O presidente pode concluir sua gestão com o mesmo "Vivace" com que a inaugurou em 2003. Manter a esperança na crise é diferente de brigar contra "heranças malditas". Agora o jogo é de decisão. Se não for a campo com o seu melhor time, cederá o placar final ao desafiante, que vem com tudo.
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