Luiz Sérgio Guimarães
Os juros futuros não abandonaram a firme trajetória de baixa traçada nas três últimas semanas nem num ambiente de tensão forjado na sexta-feira pela decisão política do Senado americano de rejeitar o pacote de Bush de socorro às montadoras. Para um governo já que injetou trilhões no sistema financeiro, US$ 14 bilhões são um trocado que não fará falta a um Tesouro que está se financiando a custo perto de zero. Mesmo assim, os mercados sentiram o golpe, exceto o DI futuro da BM&F. A taxa para janeiro de 2010 recuou de 12,85% para 12,80%. A razão é que a curva futura de juros embute uma perspectiva de corte da Selic ainda bastante tímida e conservadora. Nas projeções de CDI está implícita, para o primeiro semestre do ano, uma redução de um ponto na taxa hoje congelada em 13,75% . É pouco. O economista-chefe da WAY Investimentos, Alexandre Espirito Santo, projeta para 2009 cortes acumulados entre 2 e 2,5 pontos. Esta semana repleta de indicadores relevantes sobre inflação e atividade deve se intensificar a correção de baixa dos juros futuros.
Tesoureiros e gestores concentrarão seu foco na divulgação pelo IBGE da pesquisa mensal de comércio, amanhã, e da relativa ao emprego, na sexta-feira. "Os dados de vendas no comércio e emprego vêm mostrando maior resistência, mas devem passar a refletir os impactos da crise nas próximas divulgações, ainda que em magnitude inferior à desaceleração que já é percebida na indústria. Além disso, os índices de confiança, tanto do empresário quanto do consumidor, devem seguir negativos ainda por algum tempo", diz a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, que prevê queda da Selic já na reunião de 21 de janeiro do Copom. Os indicadores de inflação devem avançar um pouco mais na definição do tamanho do repasse da alta do dólar para os preços. Por enquanto, não se nota "pass through". O IGP-10 será divulgado amanhã e o IPCA-15 na sexta-feira. Na quinta-feira, dois eventos relevantes: a publicação no site do BC da ata da reunião do Copom realizada na semana passada e a última reunião do ano do CMN. Coerente com o esforço governamental destinado a minorar os efeitos da recessão externa sobre o Brasil, o Conselho deverá manter a TJLP em 6,25%.
Alguns analistas consideram que parte importante da ata será dedicada a desfazer a má impressão causada pelo comunicado pós-Copom. Zelosos da credibilidade e da costumeira firmeza ultraconservadora do seu BC, o mercado não gostou da forma titubeante pela qual transmitiu sua decisão. O início da nota foi considerado desastroso: "Tendo a maioria dos membros do Comitê discutido a possibilidade de reduzir a taxa básica de juros já nesta reunião, em ambiente macroeconômico que continua cercado por grande incerteza, o Copom decidiu..." Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, a "sensação que fica da leitura desse comunicado é que o BC tomou uma decisão 'envergonhada', daí a necessidade de justificá-la". No entender do economista, "iniciar um texto sobre uma decisão unânime dizendo que a maioria considerou uma decisão diferente é meio caminho para desacreditar a fortaleza dessa unanimidade". Para Leal, a preservação da palavra "tempestiva" na parte final do comunicado transmite a idéia de que, após superadas as incertezas, o ritmo de baixa da Selic será acentuado. "A trajetória dos juros é de queda e a utilização da palavra 'tempestiva' dá a entender que o movimento não deverá ser suave", observa ele.
Na área cambial, as atenções se voltam para os dados da balança comercial na segundo semana do mês, cuja importância cresceu depois que a primeira notabilizou-se negativamente por exibir o primeiro déficit (US$ 435 milhões) pós-crise, e para a nota do setor externo, no dia 19. O dólar fechou sexta-feira cotado a R$ 2,3660, uma alta de 0,89% que interrompeu seqüência de três pesadas quedas. Na semana, a moeda acumulou desvalorização de 4,55%. O dólar carece de pretexto internos para subir. Os fundos estrangeiros continuam reduzindo suas posições compradas, o governo abastecerá as empresas que não conseguem rolar suas dívidas externas e o BC se mantém especialmente vigilante e ativo: nega swaps cambiais e vende moeda à vista, tudo o que o mercado não quer.
Nos EUA, dados sobre produção industrial e inflação ao consumidor devem confirmar, esta semana, a instalação do ciclo recessivo-deflacionista que deve levar o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed a cortar, amanhã, em sua última reunião do ano, o juro americano pela metade. A expectativa geral é de que os fed funds recuem de 1% para 0,50%.
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