Luiz Sérgio Guimarães
Os mercados globais reagiram com euforia à decisão do Federal Reserve (Fed) de alterar a política monetária dos EUA. Diante da deflação e da recessão, o Fed mudou radicalmente seu foco de atuação. Mais do que fixar uma banda de flutuação do juro básico em nível historicamente baixo - entre zero e 0,25% -, demonstrou agressiva disposição anticrise . "O foco da política daqui em diante será de apoiar o funcionamento do mercado financeiro e estimular a economia através de operações de mercado aberto e outras medidas que sustentem o tamanho do Balanço Social em um nível alto", diz a nota expedida após a reunião. Os analistas entenderam que o Fed inaugurou uma nova linha de frente no ataque à paralisia do crédito: o juro básico, já muito baixo e portanto com eficácia duvidosa, não será mais o principal instrumento de política monetária; será substituído pelo chamado "afrouxamento quantitativo", ou seja, os programas de empréstimos financiados pelo balanço, recursos em carteira e emissão de moeda. E por políticas monetárias alternativas, como a compra de dívidas e ativos imobiliários, a aquisição de papéis públicos de longo prazo e a ampliação de suas linhas emergenciais de crédito a famílias e pequenas empresas.
Ao tirar o juro do centro do palco, o Fed sinaliza que a taxa poderá oscilar entre zero e 0,25% por longo tempo. A prioridade será a normalização do fluxo de liquidez para os mercados e para a economia real. Ao mesmo tempo em que a nova política monetária provocou pesadas quedas nos juros dos títulos do Tesouro americano, desencadeou onda de compra de ativos sujeitos a risco. A taxa do papel de 10 anos do Tesouro cedeu de 2,5186% para 2,2896%. E as bolsas de valores dispararam. A Bovespa fechou com valorização de 4,37% e o Dow Jones de Nova York, de 4,20%. Desvinculando-se dos treasuries, o risco-Brasil recuou 1,97%, para 497 pontos-base por causa do aumento da procura por títulos da dívida externa brasileira.
A radicalização da política monetária foi tomada sob as bençãos dos indicadores do dia. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) caiu 1,7% no mês passado, seguindo deflação de 1% em outubro. O núcleo registrou taxa zero. E as construções de novas unidades habitacionais caíram 18,9% em novembro, após queda de 6,4% em outubro, enquanto os analistas previam baixa de apenas 7%. Outra notícia negativa do dia foi o prejuízo, maior do que esperado, do Goldman Sachs. Sobrevivente do finado sistema americano de banco de investimento, junto com o Morgan Stanley, o Goldman anunciou perda líquida de US$ 2,12 bilhões no quarto trimestre de seu exercício 2008, o que representa uma perda de US$ 4,97 por ação, quando os analistas previam prejuízo de US$ 3,50.
Os outros segmentos do mercado brasileiro também se beneficiaram da decisão do Federal Reserve. Antes de anunciado o resultado do encontro do Fomc, durante o pregão viva-voz, os juros subiram no mercado futuro da BM&F, interrompendo sequência de três semanas de baixa. A taxa do contrato mais negociado, para janeiro de 2010, avançou de 12,78% para 12,83%. Mas, no after-market eletrônico, após as 17h15, os CDIs tombaram em bloco. E o janeiro de 2010 caiu a 12,67%. A taxa para janeiro de 2011 recuou de 13,38% para 13,30%. E a estimada para janeiro de 2012 cedeu de 13,58% para 13, 49%. O movimento de alta do juro durante o pregão viva-voz só se justificaria do ponto de vista da realização de lucros, após um período tão longo em um mesmo viés. Macroeconomicamente, a alta foi desprovida de fundamento, mesmo que se leve em conta que a queda apurada pelo IBGE para as vendas comerciais em outubro, de 0,3%, foi menor que a projetada pelos economistas, de 0,6%. Na verdade, os relatórios de consultorias e bancos estão pintando para 2009 um cenário mais pessimista.
Pelo lado da inflação, também não havia motivo para a interrupção da queda do juro futuro. O IGP-10 relativo a dezembro, ao subir apenas 0,03%, ante alta de 0,73% em novembro, enterra a tese de forte repasse da especulativa alta do dólar para os preços. A porção do índice que mais acusaria o golpe cambial seria o IPA-10 e este mostrou, ao contrário, forte desaceleração, caindo de 0,81% em novembro para -0,22% em dezembro. O mercado de câmbio nem tentou especular ontem e, mesmo antes do Fed, já operava em baixa. O dólar fechou cotado a R$ 2,3720, em desvalorização de 0,71%. O BC fará hoje leilões de linhas de crédito externo, por meio da venda de dólar com cláusula de recompra, por prazos de até 103 dias.
The Most Important Lesson in Trading Psychology
-
*12/24/24 - Albert Einstein famously observed that "We cannot solve our
problems with the same thinking we used when we created them". In other
words,...
Há 2 dias
Nenhum comentário:
Postar um comentário