Carlos Alberto Sardenberg
Isto aconteceu no Japão, na longa recessão dos anos 90: a taxa de juros foi a zero, de modo que deixar o dinheiro aplicado no banco era perder dinheiro. Nessa situação, estava claro que o consumidor estaria propenso a comprar alguma coisa - um carro, uma casa, qualquer coisa - que valesse mais a pena que perder dinheiro no banco.
Errado. Nem assim os japoneses gastavam. Paralisados por uma profunda crise de confiança, eles continuavam poupando, mesmo quando o governo devolvia imposto de renda. E se o consumo não dava sinais de vida, como sair da recessão?
Nesse momento, muitos economistas chegaram a uma curiosa sugestão: a saída era encher helicópteros de dinheiro e espalhar pelo país. Com dinheiro caído do céu, certamente os japoneses iriam às compras.
Esse problema nunca ocorreu nos EUA, nem mesmo nos períodos de recessão dos anos 80 e 90. É verdade que foram curtos momentos de recessão, mas o consumidor americano continuou gastando e, com freqüência, gastando mais do que ganhava. Entrava com gosto no cartão de crédito e nos carnês, estimulado por taxas de juros baixas.
Foi assim que as famílias americanas chegaram ao endividamento equivalente a 140% de sua renda, situação do momento. Faz tempo que se diz que em algum momento os americanos precisarão começar a poupar e saldar sua dívida com o resto do mundo. Isso mesmo, com o resto do mundo, pois os bancos centrais de todos os países compram títulos do Tesouro dos EUA, financiando assim os gastos do império.
Certamente não fazem isso por caridade. É por interesse. Trata-se de financiar o maior consumidor do mundo para poder continuar vendendo para ele mesmo.
Esse equilíbrio foi rompido pela crise financeira, que encolheu o crédito e aumentou os juros. Vai daí, foi o primeiro pensamento, chegou a hora de o consumidor americano finalmente aderir à poupança e viver de acordo com suas posses.
Agora, não! - gritaram todos. Essa virtude está fora de hora. Como a falta de crédito levou a economia à recessão - temendo-se uma depressão -, agora mesmo é que o consumidor precisa ir ao shopping.
Como o mundo todo está ou em recessão ou em desaceleração, a receita acabou sendo a mesma para todos os governos: tentar de todos os modos injetar recursos no sistema de crédito, forçar quedas dos juros e devolver dinheiro aos consumidores via redução de impostos.
É também o que fez o governo brasileiro com o pacote de bondades da semana passada. Mas talvez já não funcione.
Nos EUA, por exemplo, muitos analistas estão convencidos de que não vai funcionar. Desconfiam que, recebendo dinheiro do governo, via devolução de Imposto de Renda (IR), por exemplo, os consumidores estarão mais dispostos a guardá-lo. Isso porque já estão muito endividados e, sobretudo, porque temem o que a crise lhes possa trazer. Só no mês passado foram eliminados mais de 530 mil empregos, o que é uma ameaça e tanto.
Ora, como as empresas também estão limitando investimentos - ou porque não têm caixa nem crédito ou porque, tendo dinheiro, não têm confiança -, alguém precisa gastar para movimentar.
Quem?
Adivinhou! O governo. Essa é a base maior dos pacotes que estão saindo pelo mundo afora. É o princípio do programa de estímulo do presidente eleito Barack Obama, que promete investimentos em obras de infra-estrutura tão amplos quanto os da década de 50 (quando o governo americano patrocinou a construção da rede rodoviária que corta o país todo). Obama também prometeu gastos em energia verde e para pôr internet de banda larga em todas as escolas públicas do país.
Repararam? Gastos em obras e investimentos, não em custeio. A mesma coisa que anunciou o governo chinês: um monte de dinheiro público para estradas, ferrovias e também para meio ambiente e novas tecnologias. Tudo funcionando, feitos esses gastos, resulta numa economia mais competitiva, com mais produtividade.
A questão é saber se há dinheiro para isso. A China tem. Há anos o governo é superavitário nas contas públicas e nas contas externas. O governo arrecada com impostos o equivalente a 21% do PIB e gasta 20%. Pode, portanto, aumentar o gasto no equivalente a 5% do PIB. Não será difícil financiar isso, pois a dívida pública é de confortáveis 18% do PIB.
E o Brasil? Os três níveis de governo arrecadam e gastam algo como 37% do PIB. A dívida líquida do setor público é de 38%. A dívida bruta, 60%. Ou seja, aqui o governo não pode aumentar os gastos porque já gasta demais, arrecada demais, deve demais.
Por isso, aliás, a redução do IR, anunciada pelo governo na quinta-feira, foi tão pequena. Para quem ganha R$ 1.800/mês, a economia será de R$ 27 mensais, ou 1,5% da renda.
E o pior: o governo federal quase não gasta em infra-estrutura. De janeiro a outubro deste ano, os gastos totais foram de R$ 230 bilhões, assim divididos: Previdência, R$ 160 bilhões; custeio e programas sociais, R$ 106 bilhões; pessoal, R$ 102 bilhões; e em obras, R$ 20 bilhões, com PAC e tudo.
Esse foi o maior pecado do governo Lula. Pegou uma onda favorável, a arrecadação foi lá em cima e o presidente gastou a maior parte do ganho em Previdência, custeio e pessoal, neste caso elevando o número de funcionários e aumentando seus salários. Ainda agora, já com a crise aqui dentro, o Congresso aprovou um pacote de aumentos para dezenas de milhares funcionários, a serem aplicados ao longo dos próximos dois anos.
Uma última observação: o governo americano está muito mais endividado e vai aumentar os seus gastos. Só que o mundo todo está comprando os títulos do Tesouro dos EUA e, assim, financiando o déficit deles. Por quê? Confiança. O mundo todo acha que, se o capitalismo acabar, o último lugar será nos EUA. Logo, o risco de calote é zero.
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