Alex Ribeiro, de Brasília
Para o Banco Central, o problema de falta de liquidez no sistema financeiro está praticamente resolvido e, agora, a prioridade é restabelecer o crédito bancário, sobretudo a empresas. A aposta é que as instituições financeiras públicas, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), possam atuar para puxar a concessão o crédito e operar como fatores estabilizadores das taxas de juros.
Além de restrições na oferta, avalia a autoridade monetária, o recuo no crédito reflete também uma postura mais cautelosa da demanda. Esse é um efeito das notícias sobre a crise internacional na expectativa dos agentes econômicos, que afetou o consumo e a demanda de recursos para novos projetos produtivos.
As medidas tomadas para enfrentar a crise de liquidez, na visão do Banco Central, impediram que o mercado de crédito registrasse uma parada súbita. Mas não foram suficientes para evitar uma desaceleração do crédito, ainda que, na avaliação da autoridade monetária, o recuo tenha sido moderado. Os dados mostram uma queda nas concessões de crédito em outubro, que encolheram 3% ante setembro, sendo 3,5% nos empréstimos a pessoas físicas e 2,8% nas operações com empresas.
O BC, porém, acredita que essa queda não foi tão intensa, caso se tome em consideração que, em setembro, havia ocorrido aumento de 9,9% nas concessões. E, em novembro, há sinais de recuperação. Os dados preliminares, que cobrem até o dia 12, registram avanço de 14,8% nas concessões às pessoas físicas. "As estatísticas mostram uma recuperação mais forte do crédito para as pessoas físicas, mas, para as empresas, a recuperação foi mais lenta", disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em depoimento no Congresso Nacional. No caso de empresas, as concessões avançaram só 1,2%.
O fraco desempenho do crédito a empresas reflete majoritariamente, na visão do BC, problemas na oferta. A crise de liquidez afetou bancos pequenos e médios que atuavam no chamado "middle market", o segmento de crédito para empresas também pequenas e médias. Depois da liberação de altos volumes de compulsórios e da venda de carteiras de crédito a instituições de grande porte, o conjunto de bancos pequenos e médios, salvo uma ou outra exceção, superou a crise de liquidez. Mas eles não voltaram a emprestar às empresas como antes.
Parte mais fraca do sistema financeiro, os bancos pequenos e médios estão preferindo manter dinheiro em caixa para, no balanço do fim de ano, mostrar uma posição mais forte de liquidez, o que permitiria retomar as linhas de crédito. O BC constatou que os bancos que retomaram os empréstimos dirigem recursos ao crédito consignado. Esse tipo de carteira seria vendida com mais facilidade aos grandes bancos em caso de piora da crise.
Meirelles, tem se reunido com empresários, como lideranças da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e representantes das montadoras de veículos.
No crédito interno, a receita defendida é a atuação ainda mais intensa dos bancos públicos. Meirelles disse aos parlamentares que vê com bons olhos a determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que os bancos públicos liderem o mercado. Na sua visão, eles são fundamentais não apenas para restabelecer empréstimos, mas também para balizar juros, quando bancos privados aumentam "spreads".
Para reforçar o caixa dos bancos públicos, na semana passada a diretoria colegiada do BC aprovou circular que faz uma injeção de até R$ 6,2 bilhões no BNDES com recursos dos compulsórios.
A sensação de desconforto entre as pessoas jurídicas é ainda maior porque, com o fechamento do mercado de capitais e do mercado internacional às grandes corporação, cresceu a busca de financiamentos no mercado bancário interno. Assim, mesmo que a oferta seja restabelecida nos patamares anteriores, empresas sofrerão corte de linhas.
No caso dos financiamentos de veículos, as medidas anunciadas, como o aporte de recursos feitos pelo Banco do Brasil em instituições financeiras de montadoras, restabeleceram uma grande parte da oferta de crédito. Um dos problemas agora, segundo Meirelles, é a retração da demanda, já que a crise afetou negativamente as expectativas das famílias.
Para o BC, a retração do índice de confiança do consumidor da FGV é um bom termômetro desse fenômeno. O índice recuou de 112,7 pontos em setembro desse ano para 96,9 pontos, patamar mais baixo desde 2005. A intenção de compra de bens duráveis recuou de 79,5 para 78,8 pontos.
A crise nos bancos pequenos e médios, que tinham forte atuação no segmento de veículos usados, também prejudicou o bom funcionamento do crédito. Sem financiamentos, os consumidores não conseguem vender seus carros para levantar dinheiro e dar entrada em financiamentos de veículos novos.
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