Francisco Góes e Catherine Vieira, do Rio
Executivos de quatro grandes grupos multinacionais de diferentes setores e países estão confiantes de que as principais economias do planeta, sobretudo Estados Unidos e Europa, começarão a se recuperar entre fins de 2009 e meados de 2010. Apesar acreditarem que a crise financeira será curta, essas empresas, entre as quais a brasileira Odebrecht, a americana Agility Logistics e a indiana HCL, fazem ajustes e adiam novos investimentos. Os projetos em andamento estão mantidos, dizem.
As companhias concordam que a crise financeira oferece oportunidades de compras de ativos a baixos preços. A dificuldade é a escassez de financiamentos para fazer as aquisições. "O problema hoje é que comprar é melhor do que construir. Mas se não se constrói, não se adiciona valor à economia", disse Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht Engenharia e Construção. Ele afirmou que o grupo não interrompeu investimentos, mas tomou a precaução de não começar novos projetos.
O executivo participou ontem, no Rio, da Conferência da Associação Mundial das Agências de Promoção de Investimento (Waipa na sigla em inglês), evento que termina hoje. Em painel que discutiu os fluxos de investimento em um novo cenário econômico mundial, Odebrecht comentou as medidas anunciadas pelos governos para fazer frente à crise e garantir liquidez ao sistema financeiro. "Preocupa o fato de que não vimos medidas para dar liquidez às empresas reais (comércio e indústria). Um dos poucos países em que isso ocorreu foi no Brasil", disse.
Mike Bible, presidente da divisão américas da Agility Logistics, com sede na Califórnia
(EUA), disse que a empresa teve de se ajustar à crise mas mantém boa posição de fluxo de caixa. "O fundamental do negócio não mudou, haverá um recuo de curto prazo e parte dos investimentos planejados para 2009 poderão ficar para 2010", disse Bible nos debates do painel. Ele afirmou que na crise surgem oportunidades de aquisições que as empresas têm de analisar.
Andrea Pal, vice-presidente e gerente global de investimentos da alemã Fraport, empresa de gestão de aeroportos, também falou de ajustes. Disse que dois aeroportos com ênfase em viagens de turismo operados pela companhia, na Bulgária e na Turquia, devem ter reduções de passageiros em 2009, o que pode levar a empresa a não contratar mão-de-obra temporária nesses locais. "Mas não cortamos investimentos e temos 1 bilhão de euros em caixa", disse Andrea.
A executiva afirmou que o Brasil é um dos alvos de interesse do grupo para investimento em mercados emergentes, mas salientou que qualquer decisão de entrar no país depende da privatização dos aeroportos. "Projetos de infra-estrutura em países em desenvolvimento são interessantes para nós, mas o problema é a dificuldade de obter financiamento", disse.
Shami Khorana, presidente da empresa de tecnologia HCL America, também indicou que os mercados emergentes são uma oportunidade para o grupo. "Não adiamos nenhum investimento programado", disse. Ele prevê que no fim de 2009 os EUA já tenham saído da recessão e outras economias começarão a se recuperar, após uma fase de desaceleração.
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