Por Catherine Vieira e Adriana Cotias, do Rio e de São Paulo
Enquanto analistas técnicos e fundamentalistas trocam farpas públicas sobre qual o melhor método de avaliar ações para compor um portfólio, há quem refute as duas escolas. Para o professor do IBMEC-SP, Marco Antônio Leonel Caetano, tanto a interpretação de figuras gráficas com base em preços históricos, como a projeção de valor justo a partir da análise do balanço das empresas têm falhas.
Ao seu ver, os gráficos com médias móveis, índice de força relativa ou as seqüencias de Fibonacci são úteis apenas como observação empírica. "Servem como ilustração de padrão, não como análise", diz. "Essas técnicas foram interessantes no passado como forma de entendimento de tendências mas hoje em dia, com a velocidade das mudanças, não fazem muito sentido." Já a avaliação fundamentalista, diz, tem o seu valor como análise contábil, como um relatório de informação sobre os fluxos e atuações das empresas, mais útil ao gestor da firma do que ao investidor.
Doutor em engenharia pelo Instituto de Tecnologia Aplicada (ITA), ele prefere novos métodos quantitativos usados fora do campo econômico, mas que se desenvolveram mais em previsões do que a área de finanças. Caetano cita técnicas pouco convencionais como algoritmos genéticos, sistemas dinâmicos, filtragem de sinais e redes neurais, que vêm sendo estudados por pesquisadores do Instituto Santa Fé, dos Estados Unidos.
A origem da análise técnica data do século 18, quando um negociador de arroz de Sakata, no Japão, ao observar as cotações de abertura e fechamento, máximas e mínimas ao longo do tempo, passou a identificar certos padrões de comportamento. No ocidente foi Charles Dow, criador do Dow Jones Industrial, que estudou o histórico de índices no início do século 20. Das suas observações, surgiu a chamada "teoria Dow", segundo a qual o mercado se movimenta por tendências, que nada têm de aleatórias. O autor da "teoria da onda", Ralph Nelson Elliott, por sua vez, foi o responsável pela aplicação das razões de Fibonacci (do matemático medieval Leonardo de Pizza), que diz que os ciclos na natureza se repetem seguindo certos padrões matemáticos. Tais seqüências foram aplicadas ao nascimento de galáxias, formas de plantas, reprodução de coelhos e, finalmente, adaptadas ao mercado financeiro.
Desses princípios surgiram identificações gráficas como canal de alta ou de baixa, acumulações, triângulo, bandeira, "ombro-cabeça-ombro", "homem enforcado", "martelo", "estrela da manhã" ou "tempestade à vista". À parte da nomenclatura exótica, o que tais figuras indicam é a média de opiniões de todos os participantes do mercado, é o comportamento da massa, resume Fausto de Arruda Botelho, da Enfoque Informações Financeiras.
Já na análise fundamentalista são observados os números da companhia e os potenciais de geração de lucro dos projetos para estimar o preço justo daquela empresa. Os gestores e investidores que passaram a incorporar essa filosofia costumam se auto-denominar de "value investors", ou seja, investidores que se orientam pelo potencial de criação de valor do ativo. "É difícil alguém que começa 'criado' na análise fundamentalista migrar para os gráficos", diz Ricardo Magalhães, sócio da Argucia. "Uma vez a empresa em que eu trabalhava me inscreveu num curso de análise gráfica", conta. "A técnica tem aspectos interessantes, mas não me convenceu", confessa o gestor.
Os adeptos da análise fundamentalista mais fervorosos costumam também avaliar fatores subjetivos em suas decisões de investimento, como a qualidade e confiabilidade dos administradores da empresa, as regras de governança corporativa e o tratamento dispensado aos acionistas minoritários. Muitos desses gestores são influenciados pelas filosofias de Warren Buffett, que por sua vez foi um discípulo de Benjamin Graham, autor de "O Investidor Inteligente", que vem fazendo sucesso por aqui.
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