segunda-feira, 16 de junho de 2008

Projeções para o PIB de 2009 já caem e variam de 3% a 4,1%

Sergio Lamucci
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano deve beirar os 5%, mas o panorama para 2009, visto de hoje, é bem menos promissor. O aumento dos juros iniciado em abril só deverá bater com força sobre a economia no ano que vem, devido aos efeitos defasados da política monetária. Segundo o relatório Focus, os economistas ouvidos pelo Banco Central (BC) apostam numa expansão de 4% em 2009, mas já há quem acredite numa taxa bem mais baixa, na casa de 3%.

Além do menor ritmo, a composição do crescimento do produto interno no próximo ano será diferente, com perda mais expressiva do investimento - para este indicador, após três anos de crescimento acima de dois dígitos, os economistas projetam alta entre 3,9% e 6,5%, apenas.

O aperto monetário em curso pode produzir algum efeito ainda em 2008, mas um crescimento próximo a 5% parece bastante factível, avalia a economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada, que prevê alta de 4,9%. Ela observa, porém, que o PIB vai começar uma trajetória de desaceleração ainda neste ano. Além de algum impacto dos juros, a inflação vai "comer" parte da renda, afetando o consumo, e a demanda externa será mais fraca, diz ela.

Para 2009, o quadro será mais complicado em termos de atividade econômica, principalmente por causa do efeito do ciclo de alta dos juros. Marcela acredita que a taxa Selic, hoje em 12,25% ao ano, terminará 2008 em 14,25%, só voltando a cair no fim do ano que vem, para 13,5%. Nesse cenário, a Selic média de 2008 ficaria em 12,3% e a de 2009, em 14,1%.

"As nossas projeções indicam um crescimento ainda elevado da demanda interna neste ano e desaceleração em 2009. Isso deve ocorrer no consumo das famílias, no do governo e principalmente no investimento", afirma Marcela. Ela estima que a expansão do investimento caia de 11,4% neste ano para 6,5% no ano que vem, em parte devido à política monetária mais apertada. Além disso, depois de três anos de crescimento forte, o que tem levado a um aumento da capacidade produtiva das empresas, é natural que haja um arrefecimento do ritmo de inversões na economia.

O economista Fernando Rocha, da JGP Gestão de Recursos, traça um cenário parecido ao de Marcela. Ele prevê um crescimento do PIB de 5% neste ano e de 4% no ano que vem, com a demanda doméstica (consumo das famílias, consumo do governo e investimento) perdendo bastante fôlego. Dos 5% previstos para a evolução do PIB este ano, 7,5 pontos percentuais devem vir do mercado interno, diz ele, enquanto o setor externo deve contribuir negativamente com 2,5 pontos, devido à expansão das importações bem superior à das exportações.

Para 2009, Rocha estima que a alta de 4% será formada por 5,3 pontos da demanda doméstica, enquanto o setor externo deverá tirar 1,3 ponto do PIB. A exemplo de Marcela, ele avalia que o investimento será o componente da demanda mais afetado pela política monetária em 2009.


O consumo das famílias também não vai ser ileso desse processo. Marcela estima um crescimento de 5,8% no ano que vem, uma desaceleração em relação aos 7% previstos para 2008. Segundo ela, o crédito deverá avançar a um ritmo modesto, depois de anos de expansão forte. O mesmo vai ocorrer com a massa salarial. Marcela prevê uma alta de 5% neste ano e de 4,7% em 2009 para este indicador.

Há analistas com um cenário bem mais pessimista para o comportamento do PIB em 2009, como o economista-chefe do Morgan Stanley, Marcelo Carvalho. Ele aposta em alta de apenas 3%, com forte desaceleração do investimento e do consumo das famílias. Para Carvalho, o investimento é o componente mais volátil da demanda. O seu ritmo de expansão deve cair de 11,1% neste ano para apenas 3,9% em 2009, estima ele. "O investimento sobe mais em momentos de queda dos juros, e sofre mais quando eles estão em alta", pondera o economista do Morgan Stanley.

Em seu cenário básico, Carvalho considera que o BC vai elevar a Selic para 14,25% no fim do ano. Ele não descarta, porém, uma alta mais forte dos juros, dependendo do comportamento das expectativas de inflação. Os modelos de Carvalho indicam que, se a inflação prevista para os próximos 12 meses, hoje em 4,81%, se estabilizar na casa de 5% até o fim do ano, os juros não precisam subir além de 14%. No entanto, se as expectativas ficarem próximas de 6% será necessário elevar a Selic para 16%. A meta de inflação para este ano e para o próximo, vale lembrar, é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de 2 pontos percentuais, para cima ou para baixo.

O diretor de Economia e Renda fixa da Unibanco Asset Management (UAM), Alexandre Mathias, também tem uma projeção pessimista para o PIB em 2009: 3,25%, com a Selic batendo em 14,5% no fim de 2008. Mathias considera que os juros podem ter que subir ainda mais, o que faria o PIB crescer menos. "A questão é que o cenário para a inflação está muito indefinido", diz ele.

Segundo ele, há uma extrema dificuldade em se prever o comportamento dos preços de alimentos, onde o descompasso entre oferta e demanda continua. Para piorar, as expectativas de inflação começaram a subir com força, o que pode requerer uma ação mais enérgica do BC para fazer o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltar para a trajetória das metas. A sua previsão oficial é de um IPCA de 6% neste ano, mas ele não descarta um indicador entre 6,2% e 6,6%.

A herança estatística é outro fator a conspirar contra o PIB de 2009. O crescimento de 5,4% de 2007 deixou para este ano um "carry over" de 2,5 pontos percentuais, o que significa que, se a economia não crescer nada em relação ao nível atingido no fim do ano passado, o PIB registrará uma expansão de 2,5%. Para 2009, o número será mais baixo. Se a expansão do PIB de 2008 ficar em 5%, como prevê Rocha, a "herança estatística" deve ficar na casa de 1,7 ponto.

O número tende a ser bem mais baixo porque a variação do PIB de um ano é obtida pela comparação da média do crescimento de um ano com a média do ano anterior. Em 2007, a economia foi ganhando força ao longo do tempo, terminando num nível muito mais elevado do que o registrado no começo do ano - ou seja, a média ficou bem abaixo do patamar atingido no fim do ano. Neste ano, porém, a expectativa é de uma alta mais moderada, com o PIB avançando mais lentamente no segundo semestre. Como o patamar do fim de 2008 não ficará tão acima da média do ano, o resultado será uma herança estatística menor para 2009.

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