20/06/2008 14:37:34
Delfim NettoO Brasil tem sido um dos países mais beneficiados pela expansão da economia mundial. No fim de 2002, estava com duvidosos “sinais vitais” precariamente sustentados na UTI do FMI. Graças à ciência dos nouveaux économistes, a taxa do crescimento do PIB per capita, entre 1995 e 2002 (depois da estabilização monetária, sem o ajuste fiscal necessário), foi de apenas 0,8% ao ano. A política cambial oportunista executada no primeiro mandato de FHC para controlar a inflação sustentou uma valorização do real, à custa de taxas de juro reais da ordem de 20% ao ano, que produziram um aumento da Dívida Pública Líquida/PIB de 30%, em 1994, para 51%, em 2002, a despeito do fantástico aumento da carga tributária/PIB. Houve ainda uma acumulação de déficits em conta corrente de 186 bilhões de dólares no mesmo período, financiados com apressadas (mas benéficas) privatizações.
As exportações cresciam à taxa de 3,8% ao ano, a dívida externa bruta em dólares a 4,5% e nossas reservas livres, em 2002, eram uns minguados 17 bilhões de dólares. Não é preciso ser um sofisticado economista para intuir que a falência múltipla de órgãos era uma questão de tempo. Pois não é que em 2003 se verifica um misterioso “salto quântico”, que devolveu a saúde ao doente? De 2002 a 2007, as exportações cresceram 22% ao ano, a Dívida Externa Total/Exportação caiu de 350% para 120%, o montante de reservas superou a Dívida Externa Pública e a taxa de crescimento do PIB per capita passou de 0,8% para 2,4%. Esses números parecem pequenos, mas, quando acumulados em 25 anos, fazem a diferença entre um crescimento do PIB per capita de 20% ou de 80%, no período. É claro que ainda estamos longe do crescimento robusto de 1950 a 1984, quando crescemos a 3,7% ao ano e aumentava 150% em cada geração. Não há nada que impeça o Brasil (a não ser os brasileiros) de voltar a crescer a essa taxa, principalmente agora que recebemos um bônus demográfico, com a redução do crescimento da população de 2,7% ao ano (1950-1984) para 1,4% e convergindo para 1,2%. Nosso grande risco é ficarmos velhos sem termos ficado ricos.
Toda a história econômica do Brasil mostra que os dois fatores que abortam o crescimento são: 1. A falta de energia. 2. O déficit não financiável em conta corrente. Quando éramos importantes importadores de petróleo, havia uma relação entre eles, que aparentemente vai sendo superada com a auto-suficiência energética no horizonte próximo. É importante compreender que nossa situação externa é hoje confortável, mas que não avançamos em participação no valor total do comércio mundial, como fizeram a China e a Coréia. Desde 1980-1984 o Brasil representa apenas 1,2% do comércio mundial, enquanto a China e a Coréia correspondem hoje, respectivamente, a 9% e 2,8%. Esses números testemunham as péssimas políticas cambiais idiossincráticas entre 1986 e 1994; a tragédia de 1995 a 1998 com o controle oportunista da taxa de inflação, pela valorização cambial sustentada pela imensa taxa de juro real. O breve interregno de lucidez de 1999 a 2004 e, depois, a volta do uso oportunista da taxa de câmbio com o mesmo expediente da maior taxa de juro real do mundo.
É verdade que melhoramos muito e nos encontramos hoje numa situação mais confortável, quando comparada com os últimos 25 anos. Mas é um grave equívoco pensar que o velho expediente de atrair aplicações em Bolsa e no financiamento do governo, com taxas de juros exorbitantes para valorizar o câmbio e reduzir a taxa de inflação, não vai cobrar o preço, que sempre cobrou no passado, quando a situação externa for menos benigna.
Sextante
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