Bob Davis e Amy Chozick, The Wall Street Journal, de Flint, EUA
O senador Barack Obama esclareceu um pouco mais o seu plano econômico, dizendo que usaria uma boa dose de gastos públicos para impulsionar o crescimento, aproveitaria o código tributário para diminuir a desigualdade econômica crescente nos Estados Unidos e possivelmente reduzir os impostos das empresas.
Em entrevista ao "Wall Street Journal", Obama, de 46 anos, disse que está tentando criar uma política tributária e orçamentária que o ajude a enfrentar dois desafios. O primeiro é a concorrência de países de rápido crescimento, como Índia e China. A outra é que os EUA se tornaram uma economia "só para os vencedores", na qual a maioria dos ganhos do crescimento econômico vai para o bolso dos ricos.
Obama, que é senador do Partido Democrata pelo Estado de Illinois, citou novas pressões econômicas para explicar o que parece ser um retorno à antiga plataforma democrata de interferência governamental e desconfiança das forças do mercado. "A globalização, a tecnologia e a automatização enfraquecem a posição dos trabalhadores", disse, acrescentando que um governo forte é necessário para garantir que a riqueza seja distribuída de maneira mais igualitária. Ele deu entrevista a bordo de seu ônibus de campanha, onde um televisor fino exibia os momentos finais do torneio de golfe U.S. Open.
Obama começa a dar sinais de que apóia a redução dos impostos das empresas ao mesmo tempo em que o Partido Republicano, de situação, o acusa de defender propostas que elevariam esses impostos, como sua promessa de aumentar a tributação sobre os ganhos de capital e aumentar a alíquota para os mais ricos, geralmente usada por empresas pequenas, sem constituição de sociedade.
Ele não quis dizer quanto reduzira os impostos das empresas, mas disse que ele pode ser diminuído em troca de um corte nos incentivos fiscais, o que simplificaria o sistema tributário. Com os atuais buracos na lei, disse, "quanto uma empresa paga em impostos vai depender do seu lobista". Com um "cenário mais justo", os impostos podem ser reduzidos.
Ele ressaltou que a idéia não é adotar a filosofia de cortes de impostos mais amplos, professada pelo senador John McCain, candidato republicano à Presidência. Apesar de McCain ter argumentado que baixar os impostos - especialmente para empresas - impulsiona o crescimento, Obama disse que essa noção é economicamente equivocada. "Nunca vi nenhuma prova de que isso realmente impulsiona o crescimento econômico e a produtividade", disse.
Douglas Holtz-Eakin, economista-chefe da campanha de John McCain, atacou a estratégia de Obama, dizendo que é "uma clássica política industrial que mostra descrença no setor privado". Ele não acredita que Obama cortará os impostos das empresas, ressaltando a falta de detalhes em seus planos. "É como defender gatinhos, cachorrinhos e a luz do sol", disse.
De modo geral, a abordagem econômica de Obama lembra a estratégia de Bill Clinton na campanha de 1992, que também defendeu uma expansão dos gastos com infra-estrutura. Mas esses planos foram esquecidos assim que ele chegou à Casa Branca. O Congresso rejeitou uma proposta de aumento acentuado nos impostos sobre combustíveis, cuja receita poderia ser usada para financiar os investimentos.
Na gestão Clinton, críticos do déficit, como o secretário do Tesouro, Robert Rubin, foram bem-sucedidos em seus argumentos de que diminuir o déficit público teria impacto maior do que aumentar os gastos, porque os mercados reagiriam favoravelmente. A "Rubinomics" se tornou a principal estratégia econômica de Clinton, e muitos sindicalistas que apóiam Obama temem que ele também acabe recorrendo a Rubin.
Obama rejeita essas preocupações. "Eu tenho Bob Rubin numa mão [como assessor] e [o ex-secretário do Trabalho] Bob Reich na outra. Eu tenho uma tendência a ser eclético." Reich, que há muitos anos defende gastos com infra-estrutura para criar empregos e impulsionar a economia, é um favorito dos sindicalistas. Ele também é conhecido por ter brigado várias vezes com Rubin no início do governo Clinton, por causa do direcionamento ideológico tomado pelo governo.
As chances de levar adiante um grande programa de gastos com infra-estrutura são maiores agora do que em 1992, disse o senador Obama, por causa das preocupações recentes com a alta do petróleo. Muitos projetos de energia alternativa - como tecnologia de carvão menos poluente, energia eólica e outros - podem ser classificados como infra-estrutura. "A diferença que vejo é que há um forte reconhecimento por parte da opinião pública de que não podemos continuar nesse caminho em relação ao petróleo", disse ele. Isso significa que "há uma abertura maior para realizar mudanças".
Obama e McCain discordam totalmente nas questões econômicas. O senador republicano promete cortar a alíquota de imposto das empresas de 35% para 25%, manter todos os cortes no imposto de renda de pessoas físicas feitos pelo presidente George Bush e pressionar pela concretização de vários acordos de livre comércio.
Obama propôs várias medidas que aumentariam o imposto de renda para as camadas mais ricas e o reduziria para os contribuintes de classe média e baixa. De acordo com os seus planos, os contribuintes com renda média teriam um aumento de 2,4% na renda depois dos impostos, ou US$ 1.042, segundo uma análise não partidária da ONG Centro de Política Tributária, de Washington. Os americanos que ganham mais de US$ 2,8 milhões por ano, por outro lado, teriam uma redução de 11,6% na renda depois dos impostos.
O candidato democrata divulgou uma série de planos de gastos em larga escala num discurso anteontem em Flint, cidade que tem sido um símbolo do declínio econômico dos EUA desde o lançamento do documentário "Roger & Eu", de Michael Moore, em 1989. Apesar de Obama já ter apresentado essas propostas antes, ele as reuniu pela primeira vez no que chama de "agenda para a competitividade".
No coração da proposta de Obama está o seu plano de gastar US$ 15 bilhões por ano durante dez anos em tecnologia de combustíveis. Esse plano seria financiado por outra proposta dele, de criar um limite para as emissões de gases poluentes através de um mercado de permissões para poluir. Obama leiloaria essas permissões para grandes produtores de dióxido de carbono, como geradoras de eletricidade, e calcula que as vendas renderiam uns US$ 100 bilhões por ano. A maior parte desses recursos serviria para financiar desconto para os clientes das distribuidoras de eletricidade, disse.
Ele também quer criar um "banco de reinvestimento em infra-estrutura" que financiaria gastos de US$ 60 bilhões para criar linhas ferroviárias de alta velocidade, realizar melhorias na rede de distribuição elétrica e levar adiante outros projetos durante dez anos. Ele pretende ainda dobrar os gastos com pesquisa básica, subsidiar o investimento em conexões de internet rápida e oferecer US$ 4 mil por ano em créditos educacionais para universitários que se comprometerem a trabalhar no público.
"Captar uma parte do crescimento econômico da nação", disse Obama na entrevista, "e investir novamente em coisas que precisamos fazer, como ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvi-mento e corrigir a nossa política energética, então aí é que vamos aumentar a produtividade."
McCain defende o mínimo possível de gastos públicos e pinta seu oponente como um esquerdista que aumentará os impostos, gastará mais e empurrará o país para o déficit. Ele apóia a criação de um mercado de permissões para poluir, que seria usado para financiar novas tecnologias energéticas, mas Holtz-Eakin diz que a escala seria muito menor que a do plano de Obama. Ele disse também que "um fundo para tecnologia 'verde' é uma tolice total. O Vale do Silício tem pilhas de dinheiro voltado para tecnologia limpa".
Obama defendeu durante a entrevista uma intervenção de larga escala no mercado energético, afirmando que, apesar de os fundos de capital de risco estarem investindo pesado em tecnologia, há um buraco nesses financiamentos que deve ser preenchido pelo governo. Ele diz que esse buraco pode ser descrito como um apoio ao "estágio intermediário" entre inovação e comercialização. "Você tem esse momento em que as coisas ainda não decolaram e são muito arriscadas", disse Obama.
No governo Clinton, o Departamento do Comércio criou um programa mais amplo de tecnologia comercial cujo objetivo era financiar projetos num estágio parecido. Mas ele nunca financiou nada além de projetos de escala relativamente pequena, por causa de conflitos com o Congresso, na época dominado pelos republicanos, sobre se o governo estava desperdiçando dinheiro em projetos que deveriam ser financiados pelo setor privado.
Obama comparou sua proposta a um fundo de risco, com o governo buscando investidores para contribuir. Ele elogiou um projeto da CIA que ajuda a financiar tecnologias consideradas importantes pela agência mas que não contam com capital de longo prazo.
Obama compara com freqüência o esforço no setor energético com o projeto do presidente John Kennedy para mandar o homem à Lua, durante os anos 60. Mas o histórico de empregar dinheiro público para gerar grandes inovações tecnológicas é irregular. Os poucos projetos que deram certo geralmente eram pequenos e voltados para metas limitadas.
Com o presidente Jimmy Carter, nos anos 70, os EUA fracassaram na tentativa de criar uma indústria de combustíveis sintéticos. (McCain tem alardeado que Obama representaria "o segundo mandato de Jimmy Carter".) Os planos para construir reatores nucleares de uso comercial que produziriam mais combustível do que consomem também fracassou, e 50 anos de investimento público em reatores comerciais de hidrogênio ainda não geraram os avanços necessários.
Mais recentemente, o governo Clinton, a pedido do então vice-presidente Al Gore, gastou uma fortuna com um projeto conjunto com as três maiores montadoras americanas - Ford, GM e Chrysler - para construir um carro de alta tecnologia para a família, cujo consumo seria três vezes menor que o de um veículo convencional. O carro nunca foi construído e o governo Bush acabou com o projeto. Gore acabou anunciando seu apoio a Obama num comício anteontem em Detroit.
Obama também propõe eliminar a tributação dos ganhos de capital de empresas iniciantes, apesar de apoiar um aumento da alíquota geral sobre esses ganhos. Ele não definiu exatamente o que quer dizer com "iniciante". Ele não acha que os advogados tributaristas simplesmente criariam empresas "iniciantes" para outras que já existem só para conseguir mais um desconto nos impostos?
"Sempre tem gente interessada em enganar o sistema, e obviamente uma das coisas que você tem que fazer com a política tributária é ser bem preciso com as definições para que elas não sejam distorcidas demais", disse. Mas ele argumenta que "as empresas que estão começando deveriam poder acumular capital, reinvestir os lucros, quando houver, até o momento em que se estabilizem".
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