Alex Ribeiro, De Brasília
Estudo divulgado pelo Banco Central, feito pelo economista Pedro Fachada, mostra que o Brasil é um caso raro de país emergente em que os bancos nacionais venceram a batalha competitiva contra as instituições financeiras estrangeiras, lançando mão de cortes de despesas operacionais para manter as altas margens de lucro.
Quando os estrangeiros começaram a entrar com força no país, em 1996, os bancos privados nacionais eram menos eficientes. Suas despesas operacionais equivaliam a 9,6% dos ativos administrados, bem acima dos 6,8% exibidos pelos competidores estrangeiros.
Uma década depois, em 2006, a relação já havia se invertido: as despesas operacionais dos bancos brasileiros representavam 7,6% dos ativos, contra 8,4% dos bancos estrangeiros.
Uma explicação para essa virada é a pressão competitiva dos bancos estrangeiros. Quando o mercado era dominado apenas pelos locais, os bancos brasileiros viviam, como diz Fachada, uma "quite life" - o que pode ser traduzido por "uma vida tranqüila".
Com a ameaça de serem engolidos pelos competidores estrangeiros, os bancos nacionais buscaram maior eficiência. Em particular, reduziram custos com pessoal, que caíram do equivalente a 3,7% dos ativos para metade disso entre 1996 a 2006.
O trabalho, que tem 51 páginas e está disponível na seção de textos para discussão na página do Banco Central na internet, é uma das tentativas mais ambiciosas de investigar as razões do fracasso dos bancos estrangeiros no Brasil, reunindo dados do balanço e apresentando exercícios econométricos.
Estrangeiros entraram também em outros países emergentes e, de acordo com levantamento feito por dois economistas estrangeiros, sua participação nos ativos de 104 países menos desenvolvidos dobrou entre 1995 e 2002, passando de 18% para 33%.
Nos outros países, porém, a regra foi os estrangeiros conquistarem o mercado. No México, Hungria e República Tcheca, por exemplo, eles detêm mais de três quartos dos mercados bancários.
No Brasil, os estrangeiros entraram logo após o Plano Real, quando, para enfrentar uma crise bancária, o governo facilitou as regras para seu ingresso. Nessa leva, o HSBC comprou o antigo banco Bamerindus; a portuguesa Caixa Geral de Depósitos adquiriu o Banco Bandeirantes; e o espanhol BBV adquiriu o Excel, que, por sua vez, havia absorvido o Banco Econômico. Estrangeiros também compraram bancos sólidos, como o Banco Real, adquirido pelo ABN AMRO; e o Banco Geral do Comércio, absorvido pelo espanhol Banco Santander.
A partir de 2000, houve movimento inverso, em que bancos estrangeiros venderam bancos no país ou trocaram suas instituições financeiras por participações minoritárias em bancos brasileiros. Estrangeiros venderam o controle de instituições como o BBV, o Sudameris, o Lloyds TSB, o Banco Fiat, o BankBoston e a Caixa Geral de Depósitos.
Mais recentemente, observou-se a entrada de estrangeiros em alguns nichos de mercado, mas sem representar real ameaça à primazia dos bancos nacionais no mercado de varejo. Exemplos dessa tendência são as aquisições dos bancos Pecunia e Cacique pela instituição francesa Société Générale.
Em boa parte, a saída de bancos estrangeiros está ligada aos baixos lucros, na comparação com os brasileiros.
De 1996 a 2006, o retorno médio sobre os ativos foi de 1,3% entre os estrangeiros, bem menos do que os brasileiros, com uma média de 2,6%.
Os estrangeiros só tiverem retornos mais altos que os brasileiros em 1999 e 2002. Os estrangeiros tinham políticas de proteger, por meio de operações de "hedge", o capital aplicado no Brasil contra desvalorizações do real. Por isso, registraram ganhos com as fortes depreciações cambiais observadas nesses dois anos.
Fachada também fez alguns exercícios econométricos que mostram que o retorno dos bancos está negativamente relacionada ao controle estrangeiro. Ou seja, se tem capital estrangeiro, o retorno é menor. Outros determinantes dos lucros dos bancos são fatores como tamanho, capitalização e eficiência.
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