São Paulo, 30 de Julho de 2008 - Três meses após o Brasil ter atingido o grau de investimento, a euforia do mercado deu lugar à frustração. Dos 73.516 pontos cravados pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no início de maio, no calor da divulgação de que a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) havia concedido o selo de investimento ao Brasil, o que sobrou é um mercado deteriorado pelas turbulências da economia norte-americana.
No dia 24 de julho, pouco mais de dois meses do Brasil ter atingido o grau de investimento, a Bovespa mergulhou no temido "bear market", o mercado com tendência de baixa, encerrando nos 57.199 pontos. Tecnicamente o "bear market" é atingido quando a Bolsa registra queda de 20% em relação ao último pico de alta. Em maio, mês em que o Brasil conquistou o grau de investimento, o saldo de ingresso de investimentos estrangeiros na Bovespa foi positivo em R$ 532,5 milhões. Em junho, a Bolsa amargou uma saída de R$ 7,415 bilhões e em julho, outra debandada de R$ 7,388 bilhões.
O economista da Tendências Consultoria, Juan Jensen, lembra que o País atingiu o grau de investimento em um momento de cenário externo complicado e que boa parte do ingresso de investimentos estrangeiros já havia sido antecipado pelo mercado. "O ingresso de investimentos estrangeiros foi alto em 2007", lembra.
Para a Austin Ratings, agência de classificação de risco que não concedeu ao Brasil o grau de investimento, não existem surpresas na situação atual. "O mercado está precificando o Brasil como o País tem que ser precificado, como um país emergente", afirma o economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini.
O cenário externo em que o Brasil recebeu o selo de investimento, em plena crise do sistema financeiro norte-americano, inibiu o ingresso de investimentos estrangeiros por aqui. "O Brasil foi pego na contramão do mercado, ainda não deu tempo para sentir os efeitos do grau de investimento. O balanço destes três meses foi nulo, não teve ganho nem prejuízo", diz Agostini.
O diretor-executivo da Fitch Ratings, Rafael Guedes, lembra que a conquista do grau de investimento é uma conseqüência da melhora dos números do Brasil e não um catalizador de eventos. "O grau de investimento é muito mais importante para o investidor da renda fixa do que para o investidor da Bolsa", diz.
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, afirma que enquanto o cenário externo não melhorar, a Bovespa continuará sofrendo com as turbulências nos Estados Unidos. "Enquanto o tempo ficar feio lá fora, a prioridade do investidor estrangeiro vender ativos aqui, onde tem liquidez, e cobrir os rombos lá fora. Tudo o que a Bolsa tinha ganho até maio acabou devolvendo", diz Gonçalves.
A diretora do departamento de rating soberano da S&P, Lisa Schineller, ressalta que os benefícios do grau de investimento são de longo prazo. "Não é uma mudança imediata", afirma.
"Os benefícios dependem da situação política, os investidores precisam confiar nas perspectivas econômicas", diz Lisa.
O Brasil registrou déficit de US$ 17,402 bilhões em conta-corrente no primeiro semestre. O resultado reverteu o superávit de US$ 2,413 bilhões apurado no mesmo semestre de 2007. Apesar de permanecerem elevados, os investimentos estrangeiros diretos (IED), que totalizaram US$ 16,702 bilhões (2,41% do PIB) no semestre, foram insuficientes para cobrir o rombo das contas. "O ritmo de crescimento do investimento estrangeiro direto pode cobrir isso lá na frente", acredita Lisa.
Segundo Lisa, os números da Bovespa e o patamar da taxa básica de juros "não são dos melhores", mas que é louvável "o compromisso do Banco Central de manter a inflação sob controle", avalia.
"Para nós a política monetária do governo brasileiro é compatível com a de um país com grau de investimento que quer reduzir a inflação", afirma.
Ana Cristina Góes
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