Por Adriana Cotias, de São Paulo
A alta da Selic na semana passada, em proporção maior do que muitos previam, pegou os gestores de renda fixa na mão certa. O aumento de 0,75 ponto percentual imposto pelo Comitê de Política Monetária (Copom) ao juro primário, para 13% ao ano, representou um adicional e tanto nas cotas dos fundos prefixados passivos, que têm o compromisso de aplicar em ativos com rentabilidade definida no momento da compra ou se valem de derivativos na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).
O resultado se observa no desempenho desses fundos em julho. Até o dia 25, as carteiras prefixadas tinham um retorno de 1,86% em comparação ao 0,73% dos referenciados DI ou o 0,50% dos portfólios atrelados a índices de preços. O CDI ficou em 0,87% no período. Os dados são do site financeiro Fortuna.
Tradicionalmente comprados em taxas longas (apostando na queda dos juros no decorrer do tempo), os portfólios prefixados levaram a melhor justamente porque o remédio do juro veio em dose maior do que o 0,50 ponto percentual projetado pela maioria dos analistas. O ajuste teve o efeito de pressionar as taxas das Letras do Tesouro Nacional (LTN, prefixada) e contratos de depósitos interfinanceiros (DI) curtos, ao mesmo tempo em que suavizou os prêmios embutidos nos papéis com prazo acima de dois anos.
"No longo prazo a curva (de juros) está invertida e a alta da Selic só pronunciou essa tendência", diz o economista Marcelo D'Agosto, diretor do Fortuna. Tal comportamento explica-se pela leitura de que a aceleração do aumento do juro de curto prazo surtirá resultado mais rápido no controle dos índices de custo de vida logo adiante. "Ao ser mais conservador, o Banco Central (BC) passou a mensagem de que será vigilante e não deixará a inflação escapar do controle", diz o gestor de Renda fixa da Unibanco Asset Management (UAM) Paulo Certain.
Enquanto as taxas dos DIs com vencimento em 2008 e 2009 subiram para se adaptar à aceleração do ciclo de alta, os contratos de 2010 seguiram a rota contrária. Conforme exemplifica Certain, o DI de janeiro, que chegou a bater 15,48% ao ano, ontem era negociado a 14,91%. O contrato com vencimento em 2012 caiu de 15,2% no início do mês para os atuais 14,29%. Para a UAM, a Selic fecha o ano em 15%, tem mais um ajuste de 0,25 ponto percentual no início de 2009, mas já começa a cair a partir do segundo semestre, virando 2010 a 13,5% ao ano. Se tal previsão se concretizar, vale investir em fundos de renda fixa que tenham prefixados longos, defende.
Em julho, quem possuía esses papéis registrou um lucro contábil na marcação a mercado, explica o operador da SLW Corretora Rogério Adriani Rosa. Isso ocorreu porque a redução das taxas longas vem acompanhada pela alta do preço unitário dos papéis, valorizando, portanto, os ativos que estavam nos portfólios.
O aumento do diferencial de juros locais e externos também elevou a atratividade dos prefixados aos olhos do investidor estrangeiro, resultando em demanda extra, conta Renato Ramos, diretor de Renda fixa , da HSBC Global Asset Managment. Maior procura significa preços mais altos - e taxas em queda. Isso não quer dizer que os prefixados serão uma aposta de lucro certeira, adverte. O cenário para a renda fixa permanece nebuloso, com a inflação mundial de alimentos e a alta das commodities jogando uma sombra sobre o futuro da política monetária brasileira. "Neste momento, talvez seja melhor privilegiar títulos de inflação." As projeções da HSBC são de IPCA em 6,5% neste ano, caindo a 5% em 2009, com a Selic em 14,75% em dezembro próximo, cedendo a 14% no fim de 2009.
Na conta de 2008, os fundos prefixados ainda ficam para trás, com rentabilidade de 4,37%, quando comparados às carteiras que têm os índices de preços como referência, com retorno de 5,84%, ou os DIs, com 5,12%. Todos aquém do CDI, em 6,31%. Isso explica por que os portfólios de renda fixa perderam R$ 16,6 bilhões do patrimônio nos sete primeiros meses do ano - só em julho, as saídas líquida alcançaram R$ 3,1 bilhões. Os multimercados tiveram desempenho pior, perdendo R$ 22,2 bilhões no ano e R$ 2,7 bilhões no mês, até o dia 25.
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