Brasília, 29 de Julho de 2008 - As transações correntes, um dos principais indicadores das contas externas, apresentaram no primeiro semestre o pior resultado desde o início da série histórica do Banco Central do Brasil (BC), em 1947. Puxadas pelas remessas de lucros e dividendos de empresas com sede no exterior, pela queda do superávit da balança comercial e pelo aumento dos gastos de brasileiros no exterior, o déficit atingiu, em junho, US$ 2,596 bilhões, após registrar superávit de US$ 539 milhões em igual mês do ano passado.
O resultado do mês contribuiu para que o déficit no primeiro semestre chegasse a US$ 17,402 bilhões ou 2,51% do Produto Interno Bruto (PIB). É a primeira queda para o período de seis meses desde 2002, quando o déficit foi a US$ 8,3 bilhões, segundo a nota do Setor Externo, divulgada ontem. O resultado negativo reverteu o superávit de US$ 2,413 bilhões apurado no mesmo semestre de 2007, o equivalente a 0,38% do PIB.
Apesar de permanecerem elevados, os investimentos estrangeiros diretos (IED), que totalizaram US$ 16,702 bilhões (2,41% do PIB) no semestre, foram insuficientes para cobrir o rombo das contas, segundo o relatório da autoridade monetária. A cifra apresentou arrefecimento em relação aos US$ 20,852 bilhões (3,28% do Produto) obtidos em igual período do ano anterior.
O chefe do departamento econômico do Banco Central, Altamir Lopes, afirmou que a tendência é de que o IED compense esta queda no fechamento do ano. Os investimentos estrangeiros diretos devem chegar a US$ 35 bilhões e ultrapassar o déficit em transações correntes previsto em US$ 21 bilhões.
Este comportamento, comentou Lopes, já é observado nos dados dos últimos 12 meses, até junho, quando o IED acumulou US$ 30,4 bilhões, cifra considerada "suficiente" para cobrir o déficit em conta-corrente que atingiu US$ 18 bilhões no mesmo período – equivalente a 1,38% do PIB, abaixo da média histórica de 1,75% do Produto, desde 1947.
Lopes afirmou que o resultado em conta-corrente, apesar de negativo, "não é tão ruim". Segundo ele, no ano passado, quando o indicador ficou superavitário em 0,13% do PIB, o desempenho foi "bem melhor" do que o de países que têm risco semelhante ao Brasil. Citou os exemplos da Índia e México, ambos com déficit de 1,2% e 0,5%, respectivamente.
Apesar da piora das transações correntes, que têm um histórico deficitário, Lopes diz acreditar que houve uma "mudança na estrutura" do rombo do indicador, constituído pela balança comercial, serviços e de transferências unilaterais. "Hoje é mais sustentável." Até então, declara Lopes, o déficit era relacionado ao pagamento do juro da dívida externa, que caiu e "deixou de ser um problema".
Puxado pelo déficit de transações correntes, o balanço de pagamentos do País – que abrange todas as operações financeiras do Brasil com o exterior – apresentou superávit de US$ 19,2 bilhões no semestre, cifra inferior aos R$ 61,6 bilhões apurados em igual período do ano passado.
Para Lopes, o resultado negativo das transações correntes reflete a melhora da atividade econômica, que permite às empresas multinacionais instaladas no Brasil enviar lucros e dividendos às suas sedes no exterior. Tal resultado coincide com a queda do superávit da balança comercial de US$ 20,577 bilhões, entre janeiro e junho de 2007, para US$ 11,349 bilhões até junho deste ano.
Segundo os dados do Banco Central, as remessas de lucros e dividendos praticamente dobraram entre os primeiros semestres de 2007 e de 2008, quando saíram de US$ 9,807 bilhões para US$ 18,993 bilhões. Na comparação mensal, os valores remetidos ao exterior subiram de US$ 1,746 bilhão para US$ 3,396 bilhões, em junho deste ano.
Lopes acredita que haverá uma provável "acomodação" das remessas de receitas de empresas ao exterior a médio prazo. Em junho, até ontem, somavam US$ 2,6 bilhões. A estimativa da autoridade monetária é de que o montante feche o ano em US$ 29 bilhões, acima dos US$ 22,435 bilhões em todo o ano passado. Os setores que mais remetem lucro são os de automóveis, construção civil e financeiro.
Com o dólar baixo em relação à moeda nacional, as viagens de brasileiros ao exterior registraram déficit recorde de US$ 2,635 bilhões no semestre, resultado gerado pelas despesas "inéditas" de US$ 5,534 bilhões e receitas de US$ 2,899 bilhões. A tendência é de que os gastos se mantenham em julho em razão do período de férias. Neste mês, até ontem, o déficit já era de US$ 711 milhões, quase o dobro de todo o mês de junho, de US$ 353 milhões.
Para Lopes, o comércio externo brasileiro tende a voltar a apresentar um ritmo normal, com saldos maiores. Sem mencionar prazo, ele argumenta que as importações tendem a se acomodar no médio prazo, pois as compras de bens de capital devem chegar a um limite. Para ele, as exportações brasileiras ainda apresentam taxa "bastante razoável", de 24%. Mas as importações crescem 51%.
Viviane Monteiro
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