29 de Julho de 2008 - Quer dizer que o grande projeto de lei para o setor imobiliário foi aprovada no congresso. Ótimas notícias: a Fannie e Freddie tiveram que ser salvas e outra importante cláusula desta lei - um programa especial de empréstimos que busca impedir execuções de hipoteca - ajudará algumas famílias que vivem atualmente sob forte pressão. Assim, é melhor ter esta lei do que nada.
Entretanto, eu espero que ninguém ache que o Congresso já fez tudo, ou mesmo uma grande fração, do precisa ser feito.
Este projeto de lei foi a última medida de uma série de ajustes temporários pensados para o sistema financeiro - tentativas de segurar as coisas com cordas de "bungee jumping" e fitas adesivas - que têm conseguido, pelo menos até agora, nos manter longe de um completo colapso. Todavia, estes ajustes não fizeram nada para resolver as falhas fundamentais do sistema. Na verdade, eles preparam o terreno para desastres futuros ainda maiores - a não ser que eles sejam seguidos por reformas básicas.
Antes de abordar este tema, vamos esclarecer uma coisa: ainda que os objetivos desta lei sejam alcançado satisfatoriamente, evitando uma severa retração de crédito e ajudando alguns donos de imóveis a escapar de uma execução hipotecária, ela não mudará o fato de que as duas bolhas desta década - nos preços do imóveis e na facilitação dos empréstimos - representaram um desastre na vida de milhões de americanos.
Afinal de contas, a nova lei terá um impacto pequeno sobre os números de hipotecas executadas. E ela não faz absolutamente nada por aqueles que não correm o risco de perder seus imóveis, mas estão vendo a maior parte do seu patrimônio líquido, senão todos, indo embora - um golpe especialmente amargo na vida daqueles que se aproximam da aposentadoria, ou aproximavam-se até perceber que poderiam dar-se o luxo de parar de trabalhar.
É tarde demais para evitar esta dor. Porém, nós podemos procurar evitar que novas e maiores crises apareçam no futuro.
A história que desembocou na crise atual está marcada pela maneira como tradicionalmente os bancos - bancos com depósitos garantidos pelo governo e que são obrigados a obedecer certos limites no que se refere aos riscos e à alavancagem financeira que podem assumir - têm sido colocados de lado pelos agentes financeiros que não seguem nenhuma regulamentação. Pessoas como Alan Greespan nos haviam assegurado que isso não era problema: o mercado iria disciplinar os riscos e, de qualquer forma, os fundos dos contribuintes não seriam comprometidos.
Aí sofremos um choque de realidade.
Longe de terem seus riscos disciplinados, as instituições de crédito enlouqueceram. As preocupações acerca da capacidade dos tomadores de empréstimo de saldarem suas dívidas foram deixadas de lado; assim como a discussão sobre a pertinência da alta nos preços no setor imobiliário.
Estas instituições ignoraram os sinais de alerta porque são parte de um sistema centrado no princípio de que alguém sempre sai ganhando. As companhias hipotecárias não se preocuparam com a solvência dos tomadores de empréstimos porque eles rapidamente repassaram os empréstimos feitos, em geral para investidores que não faziam a menor idéia sobre o que estavam adquirindo. Em todo o sistema financeiro, executivos receberam enormes bônus como se fossem grandes lucros, mas não tiveram que devolvê-los estes lucros transfomaram-se em perdas ainda maiores.
E a questão do dinheiro dos contribuintes não estar em risco? Não importa. Ao longo do último ano o Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) e o Tesouro dos Estados Unidos utilizaram centenas de bilhões de dólares dos contribuintes para ajudar instituições financeiras consideradas grandes demais ou estratégicas demais para fracassarem. (Eu não os culpo - acredito que não havia mesmo outra alternativa.)
Enquanto isso, os bancos tradicionais e regulados tiveram um papel menor no furor dos empréstimos, exceto no setor onde não havia regulamentação, leia-se, as subsidiárias "fora do balanço". O caso da IndyMac - que faliu uma vez que especializou-se em empréstimos de alto risco (do tipo Alt-A) ao mesmo tempo em que os reguladores fingiram não ver nada de errado - é a exceção que comprova a regra.
A moral desta história parece clara - e trata-se do que Barney Frank, chairman do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara de Deputados, vêm afirmando já há algum tempo: a regulamentação financeira precisa ser expandida para cobrir um leque maior de instituições. Basicamente, a estrutura financeira criada na década de 30, que trouxe uma estabilidade relativa para diversas gerações, precisa ser atualizada para as circunstâncias do século XXI.
Os esforços desesperados de socorro do ano passado deixam a regulamentação mais expandida muito mais urgente. Se o governo for ficar por trás das instituições financeiras, seria melhor que essas instituições fossem cuidadosamente reguladas – porque, do contrário, o jogo de, cara, eu ganho, e, coroa, você perde, vai ser jogado com mais fúria do que nunca, às custas dos contribuintes.
Claro que os defensores da regulamentação expandida, não importa o quão convincentes sejam seus argumentos, vão ter de brigar com a oposição muito bem financiada advinda da indústria financeira. Como Upton Sinclair apontou, é difícil fazer que um homem entenda algo quando seu salário – ou, poderíamos acrescentar, seu dinheiro de campanha guardado para eventuais contratempos – depende de ele não entender esse algo.
Mas esperemos que a escala total desta crise financeira tenha conseguido concentrar cérebros suficientes para tornar a reforma possível. Caso contrário, a próxima crise será ainda maior.
Paul Krugman - The New York Times
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*12/24/24 - Albert Einstein famously observed that "We cannot solve our
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