Irá aumentar esta semana o fosso monetário que separa o Federal Reserve (Fed) dos demais bancos centrais do mundo. Para não quebrar instituições financeiras dos EUA, o Fed pratica uma política monetária irresponsável, por meio do oferecimento de um juro real negativo, cujas principais conseqüências são o enfraquecimento do dólar e a estimulação de bolhas especulativas, notadamente a do petróleo. O Banco Central Europeu (BCE) fará a parte que lhe compete depois de amanhã, e promete elevar a taxa da zona do euro em 0,25 ponto, para 4,25%. O BC brasileiro faz a sua parte deste abril, quando iniciou ciclo de aperto monetário para trazer a inflação de volta à meta. De lá para cá, já subiu a Selic em um ponto, de 11,25% para 12,25%. E tudo indica que o Copom não poderá em sua próxima reunião (dia 23) cumprir a sinalização emitida tanto pela última ata quanto pelo Relatório de Inflação de manutenção do ritmo de alta de 0,50 ponto. Poderá acelerar a alta.
Para o economista-chefe da CMA Análises, Luiz Rogê, a elevação dos juros pelo BCE poderá ter como conseqüência mais uma rodada de desvalorização do dólar, fazendo com que se amplie a alta do petróleo (e outras commodities denominadas em dólar). Nessa hipótese, se acentua a "inflação de commodities", "atrapalhando a eficácia do aumento de juros feito pelo BC brasileiro". O economista não descarta aumentos mais vigorosos na taxa Selic ou a "extensão do período de ajuste para além do início de 2009".
Cresce a ala de instituições que, assustada com a deterioração das expectativas e dos índices correntes, defende a aceleração para 0,75 ponto. Ela foi robustecida ontem pela adesão do Bradesco. O banco prevê que a Selic chegue a 14,75% no fim do ano. Não é a visão mais pessimista do mercado. Há gente prevendo 15,25% em dezembro ou no início de 2009. Esta taxa ameaça o crescimento brasileiro. O Focus, que prevê 14,25% para dezembro, ainda está otimista.
As três modalidades de projeção do IPCA do boletim Focus subiram ontem estimulando nova alta dos juros negociados no mercado futuro. O prognóstico para este ano da mediana das cem instituições avançou de 6,08% para 6,30%. As Top 5 já prevêem 6,44%, de 6,16% na semana passada. A estimativa da mediana para 2009 subiu de 4,78% para 4,80%. E para os próximos 12 meses a expectativa piorou de 5,18% para 5,28%. Nos três casos, as projeções já estão acima do centro da meta de 4,5% e, no primeiro, ameaçando furar o teto de 6,5%. As atuais decisões do Copom visam reduzir o prognóstico de 4,80% para 2009 em pelo menos 0,30 ponto. Para tanto, a dose total do aperto poderá atingir 4 pontos percentuais. A relação entre aumento da Selic e efeito sobre o IPCA é desproporcional. Sobre o PIB não é tanto assim. O DI previsto para a próxima virada do ano subiu de 13,36% para 13,38%. A taxa para janeiro de 2010 avançou de 15,06% para 15,14%. Para janeiro de 2011, o CDI passou de 15,26% para 15,41%.
A aceleração da alta da Selic visaria combater os efeitos do choque das commodities sobre o restante da economia. De acordo com o Bradesco, embora parte desse movimento de alta seja conseqüência de preços mais elevados de commodities, há deterioração também relevante dos núcleos de inflação, o que indica uma aceleração da inflação de demanda. "O problema de inflação é maior hoje do que no passado, e um ajuste maior, e mais veloz, dos juros será necessário", diz relatório da instituição. Para o Bradesco, a deterioração da inflação é tripla: os preços de commodities sobem acima das previsões, o repasse desses preços para o varejo está mais intenso do que o usual, por conta do aquecimento da demanda doméstica, e isto causa uma aceleração dos preços não ligados às commodities. A esses fatores se juntam outros já lembrados nos documentos oficiais do BC, como a assimetria crescente entre as expansões verificadas na demanda e na oferta agregadas, a maior facilidade encontrada pelo comércio para repassar os aumentos registrados no atacado, os reajustes salariais maiores que os ganhos de produtividade e as pressões em favor da volta da reindexação geral.
O BC não admite ter sido surpreendido pela dinâmica do processo inflacionário. Exceto o BC, a surpresa foi geral, como prova a arrancada dos juros futuros. No semestre encerrado ontem, o contrato para janeiro de 2010 saltou de 12,81% para 15,14%. A disparada do juro não foi contida pela pesada queda do dólar no período. A moeda, que fechou ontem a R$ 1,5970, caiu nos seis primeiros meses do ano 10,13%. Isso, mais a variação da Selic no período, de 5,4%, dá um rendimento ao capital externo de 16,08%.
Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças
luiz.guimaraes@valor.com.br
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