Tucumán (Argentina), 1 de Julho de 2008 - Os governos da Argentina e do Brasil acertaram ontem os últimos detalhes para adotar suas próprias moedas para o intercâmbio comercial e abandonar o uso do dólar, anúncio que deve ser feito na XXXV Cúpula presidencial do Mercosul hoje.
"Propiciamos a utilização de nossas próprias moedas e esperamos poder estender isso regionalmente", afirmou o chanceler argentino Jorge Taiana.
O acordo é considerado um marco para a moeda única, uma meta - até agora utópica - que tem sido mencionada no Mercosul (fundado em 1991) por mais de 10 anos.
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner (Argentina) já receberam os mecanismos propostos para que o fluxo comercial bilateral possa ser feito em pesos argentinos ou reais brasileiros, disseram fontes de ambos os governos.
A iniciativa foi lançada em julho de 2005 e demorou quase três anos para que se projetassem os sistemas de compensação monetária que serão aplicados pelos bancos centrais dos dois países.
"A arquitetura técnica está concluída. Só falta a aprovação política dos presidentes. Talvez por ocasião da Cúpula de Tucumán seja feito algum anúncio", disse uma fonte do ministério brasileiro da Fazenda à AFP, que pediu para não ser identificada.
O governo brasileiro implementou na sexta-feira um sistema de pagamentos em moedas locais do Mercosul, e a Argentina disse ter tudo pronto para colocar em prática este instrumento.
O Brasil acredita que os novos procedimentos comerciais com a Argentina poderão ser aplicados em agosto ou setembro.
A utilização da moeda nacional não será obrigatória, mas facultativa, de modo que as transações em dólares também serão mantidas, segundo a fonte brasileira. Inicialmente, o sistema seria aplicável só para comércios de bens.
Argentina e Brasil acreditam que será um "projeto-piloto’’ que pode ser utilizado por outros membros da do Mercosul, que reúne ainda Uruguai, Paraguai e Venezuela, que está em processo de incorporação.
"Tirando as diferenças, poderia ser um pequeno movimento rumo a uma unidade monetária, como a construída pela União Européia’’, acrescentou a fonte.
A Argentina e o Brasil concentram 80% do comércio do Mercosul. Em 2007, esse intercâmbio foi de cerca de US$ 25 bilhões e se espera que cresça para US$ 30 bilhões este ano, segundo estimativas de ambos os governos.
"A Argentina completou a adequação normativa para começar as transações comerciais com o Brasil usando moeda local, ou seja, pesos e reais, sem ter de converter ao dólar’’, disse Eduardo Sigal, secretário para a integração latino-americana da Chancelaria Argentina, em Buenos Aires.
"Se o Brasil avançou nessa questão, é provável que os presidentes Lula e Cristina Cristina Kirchner anunciem isso em Tucumán", acrescentou.
Brasília e Buenos Aires concordam que as exportações podem ser feitas com maior simplicidade e se eliminarão custos financeiros que envolvem a conversão de dólares para pesos ou reais.
Os ministérios da Fazenda dos dois países disseram ter levado em conta que os empregadores, especialmente pequenas e médias empresas, pagarão muito menos em corretagem de câmbio.
O mecanismo adotado elimina a conversão da moeda local para o dólar, pelo importador, e do dólar para a moeda do país de exportação. Os economistas calculam que em ambos os países os custos das operações bancárias e financeiras serão reduzidos em até 2,5%.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 12)(AFP)
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