Raquel Landim
Apesar do expressivo volume de importações e do real valorizado, apenas três setores da economia brasileira estão efetivamente sofrendo um processo parcial de desindustrialização: material eletrônico e de comunicações, equipamentos médico-hospitalares, de automação industrial e de precisão, e químico.
Com a produção estagnada, o consumo doméstico desses três setores tem sido suprido pela importação. Segmentos importantes como veículos automotores e máquinas e equipamentos não enfrentam o mesmo problema. A produção física desses setores cresce com vigor, mesmo com a expansão das compras externas. Essas são as conclusões de um estudo detalhado de Fernando Ribeiro, economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), e Fernando Puga, chefe do Departamento de Análise Econômica do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Na avaliação de Ribeiro e Puga, as principais causas da desindustrialização em alguns setores específicos são a falta de tecnologia, inovação e escala, e não apenas uma conseqüência do real forte. "O efeito do câmbio não deve ser exagerado. A indústria brasileira está resistindo bem. A desindustrialização é conseqüência de problemas estruturais, que são magnificados pelo câmbio", avaliou Ribeiro.
Os economistas cruzaram os dados de quantidade importada, quantidade exportada, produção física e consumo doméstico. Em grande parte dos setores, as compras externas cresceram mais rapidamente que o consumo do país, o que significa ganho de participação do produto importado. Antes de conceder o diagnóstico de desindustrialização, no entanto, é preciso analisar com cuidado a produção.
Em material eletrônico e de comunicações, a quantidade importada cresceu 10,6% no ano passado em relação a 2006, acima dos 7,8% do consumo. A situação é parecida no setor de equipamentos médico-hospitalares, automação industrial e de precisão. Apesar do crescimento de 31% no consumo, o volume de compras externas saltou 48%. Além disso, a produção está estagnada em patamares inferiores aos de 1996 em ambos os casos, o que é um sinal de desindustrialização.
Puga disse que esses setores sofrem intensa concorrência de países do Sudeste Asiático, que possuem escala de produção e mão-de-obra barata. Ribeiro acrescentou que muitas empresas instaladas no Brasil são apenas montadoras de produtos eletrônicos, porque importam a maior parte dos insumos. Por conta da valorização do real, a situação piorou nos últimos anos com a troca de insumos nacionais por importados.
Em produtos químicos, o consumo cresceu 8,6% no ano passado em relação a 2006, suprido pela importação, que avançou 21,9%. Embora a produção física tenha subido 5% no ano passado, o patamar ainda é quase igual ao de 2000. De acordo com Puga, os investimentos previstos para os próximos anos podem ajudar a reduzir o déficit do setor, mas não devem resolver o problema. Hoje o Brasil é mais competitivo em petroquímica, mas sofre muito com a concorrência em outros segmentos, como o de plástico.
O cenário é diferente no setor de veículos. O consumo doméstico cresceu 23,5% no ano passado em relação a 2006. A quantidade importada avançou ainda mais: 39,5%. Mesmo assim, a produção física subiu 15% e ainda equivale a quase sete vezes o valor da importação. Para Puga, os veículos produzidos no Brasil avançaram tecnologicamente. Com o desenvolvimento do carro "flex fluel", as montadoras instaladas no país conseguiram uma vantagem competitiva importante em relação ao importado. "É a inovação funcionando como estímulo à produção", diz o economista.
Em máquinas e equipamentos, a quantidade importada aumentou 33% em 2007, percentual superior aos 24,9% do consumo doméstico - o que poderia ser um sinal de desindustrialização. Mas basta avaliar a produção para descartar a tese. Impulsionada pela demanda interna e pelo bom desempenho de empresas dos setores de petróleo e mineração, a produção física de bens de capital cresceu 17,7% no ano passado. Além disso, a produção local de máquinas e equipamentos ainda representa o triplo das importações.
Ribeiro alertou que as atividades intensivas em mão-de-obra são mais afetadas pela valorização cambial, por serem menos competitivas em relação aos asiáticos. A produção física de calçados caiu 2,2% em 2007 em relação a 2006. Nos setores de vestuário e produtos têxteis, a alta foi de 5,1% e 3,8% no período. Calçados e vestuário tiveram queda na quantidade exportada de 5,9% e 15,3%, respectivamente. Em compensação, o volume importado cresceu 27% em calçados, 38% em têxteis e 19% em vestuário. O economista ressaltou, no entanto, que a fatia das importações no consumo do país ainda é muito pequena nesses setores.
Na maioria dos setores, a participação das exportações na produção da indústria está estagnada. Uma análise mais detalhada da quantidade exportada e da evolução da produção aponta que os setores produzem mais, mas preferem vender no mercado interno. É o caso de veículos, cuja produção subiu 15% em 2007, mas a quantidade exportada caiu 4%. Em máquinas e equipamentos, o volume embarcado ao exterior cresceu 6,8%, menos que os 17,7% da produção.
"Com a economia crescendo velozmente e o câmbio valorizado, é natural a realocação de produtos para o mercado interno", disse Ribeiro. Ele afirmou também que poucos setores industriais estão realmente no limite da capacidade, como é o caso da siderurgia. Muitos segmentos, no entanto, operam com uma escala confortável e preferem não fazer esforços para elevar as exportações, porque a margem de lucro não compensa. As empresas apenas mantêm seus embarques, para não perder os clientes. Por conta dessa dinâmica, disse o o economista, o volume exportado pelo país não aumenta.
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