BENJAMIN STEINBRUCH
UM DOS DEBATES mais candentes de hoje envolve a inflação. Vivemos um período de aumento de preços em escala mundial, que começou com a disparada do petróleo e de outras commodities, principalmente agrícolas, e ameaça se espalhar por toda a economia.
A inflação é um bicho feio, que destrói riquezas e, mais importante, corrói os orçamentos das camadas mais desprovidas da população -não por acaso, tem sido simbolizada pela figura do dragão, que cospe fogo. Quanto a isso não há controvérsias. O debate se dá sobre a forma de combate a esse animal intruso. A corrente mais conservadora defende um ataque fulminante, a pauladas cirúrgicas. E o principal instrumento para isso é a elevação implacável dos juros. Ao distribuir pauladas de juros, porém, acaba-se sempre atingindo não apenas o dragão mas tudo o que está em volta. Provoca-se recessão, e isso traz desemprego, fome e sofrimento para as pessoas mais pobres.
Desde que eclodiu a crise imobiliária nos EUA, a turma da paulada defende a elevação dos juros no mercado americano. Mas o banco central (Fed) tem feito o contrário.
A taxa básica situava-se acima de 5% em meados do ano passado e foi gradativamente reduzida até os 2% atuais. A preocupação do Fed é evitar que a crise atinja em cheio a economia e traga a recessão. Até agora, a estratégia deu resultados, e o PIB americano ainda cresce 1% em 12 meses. Na semana passada, pela primeira vez desde setembro, o Fed deixou de baixar a taxa e indicou que diminuíram os riscos de recessão e aumentaram os de inflação.
O Fed, portanto, alinhou-se até agora na turma da homeopatia, que acredita no combate gradual, na expectativa de que a inflação retorne a seu leito normal tão logo seja reduzido o impulso das commodities. A inflação não é um problema grave quando se situa em setores específicos. Ela assume sua cara de dragão ao entrar no que os economistas chamam de "espiral preços-salários". É quando os trabalhadores, percebendo a perda de poder aquisitivo, passam a exigir aumentos de salários superiores ao crescimento de produtividade das empresas.
Quando ocorrem aumentos fortes de salários, imediatamente se dá uma realimentação de preços, que, por sua vez, provoca mais elevação de salários e assim por diante, em espiral. Foi o que ocorreu nos anos 1970 nos EUA e, de certa forma, no Brasil desorganizado e politicamente conflituoso dos anos 1980.
Segundo a turma da homeopatia, porém, o risco da espiral preços-salários é atenuado hoje nos EUA por uma razão simples: os trabalhadores não estão mais tão organizados como nos anos 1970. Apenas 12% da força de trabalho americana pertence a algum sindicato, em comparação com 30% nos anos 1970. Isso significa que, ainda que os reajustes salariais abusivos sejam conquistados à força por alguns setores, isoladamente, esse efeito não se espalharia para toda a economia.
Com algum cuidado, é possível fazer o mesmo raciocínio para a economia brasileira. Não porque tenha diminuído por aqui a força dos sindicatos, mas porque as lideranças trabalhistas são levadas a atuar com maior responsabilidade, por uma razão também elementar: nos anos 1980, estavam na oposição. Hoje, estão explicitamente representadas no governo.
Antes de cerrar fileiras na turma da paulada ou na da homeopatia, é preciso pesar tudo isso. Muitas vezes o aperto monetário é exagerado, como foi no Brasil nos últimos anos. Outras vezes, vagaroso demais, como sustentam os críticos do Fed.
BENJAMIN STEINBRUCH , 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp.
bvictoria@psi.com.br
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