William Eid Junior
É hora de voltar nossos holofotes para a renda fixa. Não, não estou sugerindo mudanças na alocação dos recursos entre renda variável e renda fixa. Proponho que os investidores aproveitem o momento que estamos vivendo para reavaliar suas posições em renda fixa. Nós nos acostumamos a enormes discussões sobre as perspectivas da renda variável. Conversamos constantemente sobre o impacto deste ou daquele evento macroeconômico sobre a bolsa de valores. Conhecemos muito bem os volumes de entrada e saída de capitais estrangeiros nela, e sabemos de cor o resultado dos seus principais indicadores.
Mas, paradoxalmente, é na renda fixa que está a imensa maioria das aplicações dos investidores brasileiros. Se analisarmos a distribuição dos recursos nas diferentes categorias de fundos de investimentos abertos à captação, veremos que 75% deles estão em fundos de renda fixa. Como também temos um grande percentual do patrimônio dos fundos multimercados alocados em renda fixa, não será surpresa se encontrarmos 85% dos recursos dos brasileiros em fundos de renda fixa.
Podemos ainda extrapolar esses dados para o conjunto de investimentos financeiros existentes no Brasil e chegar à conclusão similar, incluindo caderneta de poupança e CDBs, por exemplo. E a explicação para essa importância é simples e uniforme para todas as economias: todos os investidores buscam manter um colchão de proteção contra emergências. E esse colchão no Brasil é representado por ativos como fundos de renda fixa, CDBs e títulos do governo.
Mas o esforço dedicado à análise de acompanhamento da renda fixa não é proporcional à sua importância no cenário dos investimentos. Seja porque as taxas de remuneração são muito menores que as apresentadas pela renda variável, seja porque a imprensa dedica muito mais espaço às ações que a títulos de renda fixa ou seja por hábito, raramente o investidor presta atenção às variações nos ganhos da renda fixa. Mas é fundamental que isso seja feito para atingir um bom desempenho da sua carteira de investimentos no longo prazo. E com microscópio.
Nas últimas semanas, as taxas de diversos instrumentos de renda fixa subiram, e muito. Temos hoje CDBs prefixados de instituições de primeira linha com vencimento em 18 meses pagando mais de 14% ao ano. As taxas dos títulos públicos também subiram. Idem com a expectativa de remuneração de alguns fundos. Aqui volto à frase inicial do artigo: é hora de voltar nossos holofotes para a renda fixa. É hora de analisar cuidadosamente os ativos que você tem na carteira e realocá-la buscando maiores ganhos.
Vamos pensar um pouco no CDB pré a 14%. Ele vence em janeiro de 2010. Vamos compará-lo com um título pós-fixado. Para isso precisamos fazer suposições sobre a taxa Selic. Será que ela vai a 14% ao ano nos próximos meses? As instituições consultadas pelo Banco Central indicam uma taxa de 13,50% no fim de 2008 e 12,50% no fim de 2009. Então há uma oportunidade interessante nesse CDB. Claro, há o risco de a Selic subir muito mais, mas convenhamos que é um risco moderado.
Mas mesmo que você considere esse risco maior, por que não montar uma estratégia de diversificação da sua carteira de renda fixa, pensando em alocar em diferentes riscos? Um pouco de prefixado, um pouco de pós-fixado e um pouco de risco de crédito. Diversificar na renda fixa buscando melhores resultados. Essa é a questão. E não é difícil com os diferentes instrumentos que temos à nossa disposição no mercado. Fundos de investimentos são um bom veículo, já que apresentam diferentes estratégias. Mas os CDBs, Tesouro Direto e, por que não, a caderneta de poupança, podem sim ser instrumentos dessa diversificação.
Por que não procurar outros títulos, como Letras Hipotecárias? Isentas de IR e com remuneração muitas vezes maior que os CDBs. Muito trabalho para um ganho pequeno? Lembre que, no longo prazo, essas pequenas diferenças vão se tornar grandes. Um por cento ao ano ao longo de 20 anos vai resultar num acréscimo de 20% no seu patrimônio! Pense nisso: se você acompanhar a sua carteira de renda fixa com atenção e constância, buscando as melhores alternativas, exatamente como procura fazer com a parcela de renda variável, certamente terá resultados muito bons. E sucesso no longo prazo!
William Eid Junior é coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV/EAESP
E-mail william.eid@fgv.br
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