Daniele Camba
O investidor que olhou ontem apenas o lucro líquido recorde de R$ 10,852 bilhões da Petrobras no terceiro trimestre e achou que as ações da companhia refletiriam esse número caiu do cavalo, para dizer o mínimo. Os papéis se desvalorizaram como se não houvesse amanhã. As preferenciais (PN, sem voto) da petrolífera tiveram queda de 13,75% e as ordinárias (ON, com voto), 13,25%. Algum sentido para um comportamento tão surpreendente, pelo menos num primeiro momento? Sem dúvida que sim. Numa análise um pouco mais detalhada, percebe-se que os números referentes à operação da companhia foram muito ruins, decepcionando até as previsões da maior parte dos analistas, que já eram negativas. O pior, no entanto, ainda pode estar por vir. Com a tendência de queda do petróleo, que já vem ocorrendo nos últimos meses, e mais o processo de desaceleração da economia, que também já está em curso, as perspectivas para a Petrobras para os próximos trimestres não são nada animadoras.
Esse cenário não é preocupante apenas para os muitos acionistas da estatal brasileira. Como suas ações ainda são as mais importantes dentro do Índice Bovespa, elas geralmente acabam ditando o rumo do pregão, para cima ou para baixo. Ontem, por exemplo, com a baixa dos papéis da estatal, o Ibovespa não resistiu e fechou em queda de 7,75%, aos 34.373 pontos.
A afirmação de um gestor de recursos ilustra bem o nível de decepção do mercado com essa notícia negativa dentro de um mar de acontecimentos ruins. "Tudo que o mercado não precisava neste momento era de estimativas preocupantes para o futuro de um dos eixos centrais da Bovespa, como é a Petrobras; depois disso, é difícil continuar tendo esperanças de que o mercado ainda tem condições de esboçar algum movimento de recuperação um pouco mais consistente", diz o executivo.
Obviamente que a bolsa não se resume só à Petrobras. Há outras companhias também bastante relevantes dentro do Ibovespa, como Vale e as siderúrgicas - Usiminas, Gerdau, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Pois é, essa é a segunda decepção. Resultado direto da retração econômica mundial, a demanda por commodities deve sofrer um baque importante, o que significa o fim do ciclo de intensa valorização dos preços das matérias-primas. O resumo da ópera é que as projeções parecem sombrias para quase todas as ações que acabam ditando o destino do pregão. Portanto, não há para onde correr.
O desempenho no ano de algumas dessas ações mostra como o quadro já não vem bem há algum tempo. As PN da Petrobras, por exemplo, registram queda acumulada no ano de 53,05%, enquanto as PNA da Vale se desvalorizam 51,19% e as ON da Usiminas outros 62,27%. Além da repercussão negativa do balanço da Petrobras, as commodities também contribuíram para a queda da bolsa. O contrato futuro do barril de petróleo do tipo WTI, negociado em Nova York, fechou em US$ 56,16, baixa de 5,34%. Essa é a menor cotação da commodity desde 29 de janeiro do ano passado, quando fechou em US$ 54,01.
Fragilidade operacional
O resultado operacional foi o grande calcanhar-de-aquiles do balanço da Petrobras. Segundo a estrategista da Ativa Corretora, Mônica Araújo, a margem operacional caiu mais do que se imaginava principalmente por causa do aumento do custo de importação de derivados do petróleo, além do ajuste a valor de mercado dos estoques, das multas em termelétricas e da redução das atividades internacionais. Pelas suas contas, a margem sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (margem sobre Ebitda) de apenas 28% no terceiro trimestre é o menor desde o terceiro trimestre de 2002. "Uma das principais dúvidas agora é saber como é que a Petrobras conseguirá colocar em prática os grandes investimentos previstos para os próximos anos, já que, com a queda dos preços do petróleo e a desaceleração econômica, a sua geração de caixa não será suficiente para bancar essa conta", diz.
Nesse momento, a saída mais sensata aos acionistas seria a companhia reduzir os investimentos, diz o analista da Link Investimentos Andres Kikuchi. Ele avalia, no entanto, que isso pode não acontecer em se tratando de uma empresa pública. Dificilmente o governo irá concordar em cortar os investimentos de uma companhia desse porte, exatamente no momento em que o crescimento da economia já dá os primeiros sinais de cansaço, lembra Kikuchi.
Não foram apenas as ações da Petrobras que apanharam depois de divulgar um excelente lucro. A Eletrobrás anunciou lucro de R$ 2,1 bilhões no terceiro trimestre, ante prejuízo de R$ 174 milhões no mesmo período de 2007, e as ON caíram 15% e as PNB, 12,55%. Um dos motivos é que o mercado percebeu que o bom resultado da elétrica veio da alta do dólar e não de melhoras operacionais.
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