13 de Novembro de 2008
O momento pelo qual o mundo está passando exige de todos nós uma profunda reflexão acerca dos impactos da crise financeira global sobre o nosso País. Estou entre os que acreditam que o Brasil tem plenas condições de atravessar a tormenta. Contudo, a instabilidade e a volatilidade dos mercados exigem uma nova atitude da autoridade brasileira. É imperativo aplicarmos nossas competências para tratar a crise a partir de uma nova visão.
Devemos reconhecer que a natureza da crise é inédita e seu impacto é grave, podendo evoluir para um estágio gravíssimo, em função de não sabermos o real prejuízo do sistema financeiro. O País tem encarado estes tempos de turbulência com medidas no geral corretas, embora concentradas em atender setores com alto poder de pressão sobre o aparato público. Falta-nos um plano capaz de abranger a economia como um todo, e mesmo uma estratégia para tentar aproveitar as oportunidades que poderão ser abertas pela nova configuração do sistema econômico mundial.
A nova atitude pedida pelo País passa pela adoção de uma política econômica que dê atenção à produção real. A questão focal é adotar um tratamento sistêmico para reduzir os impactos da crise e ajudar o Brasil a crescer. Isso implica ter coragem e vontade política para acelerar as reformas estruturantes de que tanto precisamos, nos campos fiscal, tributário, trabalhista, previdenciário, político, etc.
A visão estritamente financeira da economia está conduzindo a nação a arriscar seu grande patrimônio diferencial, o "animal spirits" do nosso povo, que há dois anos usa sua vivacidade para acelerar o crescimento econômico do País. Não há mais espaço para a miopia dos dirigentes financeiros públicos.
Uma redução de até dois pontos percentuais na taxa Selic seria uma concreta e clara manifestação para manter a confiança dos agentes produtivos, antes que a economia real seja atingida. Ao tardar demasiadamente esta medida corre-se o risco de, em caso de recessão, torná-la inútil. A inércia pode ser responsável pela retomada do "vôo de galinha" que caracterizou a economia brasileira no período recente.
Modificar a orientação da política monetária significa evitar a queda da atividade econômica e permite uma situação fiscal mais confortável para o Tesouro. Uma redução substantiva de 2% na taxa Selic, por exemplo, diminuiria as despesas governamentais em aproximadamente R$ 26 bilhões por ano. Esses recursos poderiam, então, ser utilizados para reforçar os investimentos produtivos.
Além do mais, o contexto de redução do crescimento reforça a tese de que é preciso melhorar ainda mais os fundamentos macroeconômicos. Isso passa necessariamente pela adoção de uma política anticíclica, focada na elevação dos investimentos públicos em infra-estrutura e modernização da estrutura produtiva do País para o aumento da competitividade das empresas brasileiras.
O novo cenário econômico impõe dificuldades de financiamento e redução dos preços das commodities. Isso deve retrair ainda mais o investimento. É fundamental, portanto, um esforço extra para que as inversões que vinham sendo analisadas se mantenham, com o necessário apoio das agências e bancos públicos para alavancar os projetos. É vital, ainda, aproveitar o contexto para aprimorar os marcos regulatórios, dando maior segurança ao investidor privado.
Também devemos ter em conta que a nossa capacidade de resistir a essa nova onda não depende apenas do crescimento do mercado doméstico, mas de sermos mais competitivos em escala global. Isso implica fortalecer a nossa capacidade de inovar. Assim, a agenda da inovação da política de desenvolvimento produtivo precisa ser mantida e reforçada. Ela é essencial para o futuro de nosso sistema produtivo, porque é o grande motor da produtividade no atual contexto internacional.
Estas ações são cruciais para invertermos a lógica da política econômica brasileira - hoje concentrada na órbita financeira - e consolidar os avanços recentes alcançados pelo Brasil. Não podemos retroceder. Neste momento de crise, são políticas públicas de impactos horizontais que irão assegurar o nosso desenvolvimento. É isso que vai garantir estabilidade e melhores condições de vida e de convivência social para a nossa população.
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