Marcus Walker, The Wall Street Journal, de Berlim
A Alemanha, um país que não teve uma bolha imobiliária e cujos consumidores não exageraram nos gastos a crédito, está se transformando numa das maiores vítimas da desaceleração mundial.
A economia alemã, a quarta maior do mundo, teve uma contração maior do que a esperada, de 0,5%, no terceiro trimestre, segundo dados oficiais divulgados ontem, depois de uma queda de 0,4% no segundo. As encomendas industriais estão em queda livre, e pesquisas com as empresas mostram que o problema mal começou: o país está diante do que pode ser sua mais longa recessão desde a fundação da República Federal da Alemanha, em 1949.
A retração em curso na Alemanha é bastante diferente dos declínios nos Estados Unidos e no Reino Unido, economias que estão desalavancando depois de um boom alimentado por crédito de mais de dez anos, dizem economistas. Em vez disso, os problemas da Alemanha mostram a armadilha de depender demais das exportações e de se consumir muito pouco internamente.
"A Alemanha lucrou muito com o aumento mundial na demanda por bens de capital, mas esta não é uma economia que desenvolveu um motor interno de crescimento", afirmou Jacques Cailloux, economista de Europa do Royal Bank of Scotland, em Londres.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) previu na semana passada que a economia alemã vai encolher 0,8% no ano que vem, mais do que projeta para toda a área que utiliza o euro. Entre as grandes economias européias, apenas o Reino Unido enfrenta uma recessão mais profunda que a Alemanha, afirmou o FMI.
Alguns meses atrás, os alemães estavam convencidos de que sua economia - forte na indústria e relativamente fraca em inovação financeira - lhes dava uma chance maior de passar pela desaceleração global em melhores condições do que outros países. Os alemães não tinham grandes dívidas nos cartões de crédito. O aumento médio no preço dos imóveis residenciais ficou perto de zero nos últimos dez anos, segundo o banco suíço UBS.
Há alguns meses, quando a bolha imobiliária dos EUA estourou e o crescimento no país caiu, mercados emergentes como a China continuavam a comprar bens de capital alemães, mantendo saudável a economia do país. Agora essa dependência das exportações se transformou numa maldição para a Alemanha.
"Estou surpreso com a velocidade da deterioração", diz Jürgen Ricking, um membro da diretoria da Felix Böttcher, fabricante de equipamentos de impressão com sede em Colônia. Depois de anos de crescimento movido a exportação, todo o seu setor enfrenta uma queda nas vendas mundiais este ano de cerca de 20%, por causa da desaceleração, diz ele.
A Böttcher é típica da maneira como muitas fabricantes alemãs se encaixam na cadeia de fornecimento mundial. Ela fornece grandes quantidades de rotativas para máquinas usadas em gráficas na China e outros países onde livros, revistas e outros materiais impressos são produzidos para venda nos EUA.
A retração nos EUA, que inclui uma recessão publicitária, está reduzindo a demanda por materiais impressos, enquanto as gráficas chinesas enfrentam custos crescentes de salários mais altos e novas leis trabalhistas, diz Ricking. "Nossos clientes chineses estão parando suas prensas ou pedindo concordata", diz. Cerca de três quartos de todas as máquinas de impressão são fabricadas na Alemanha, estima Ricking.
Ainda não está clara a dimensão do desaquecimento econômico da China, mas um indicador recente não é bom: o país acaba de divulgar seu primeiro declínio em produção mensal de eletricidade em muitos anos.
O Japão, a segunda maior economia do mundo, depois dos EUA, enfrenta um problema parecido - ainda que menos severo - ao da Alemanha. O Japão depende de exportações para o crescimento, enquanto o consumo interno permaneceu frágil. Parte do motivo é que, como na Alemanha, as empresas japonesas tentaram manter os salários baixos para manter a competitividade em relação a rivais da China e de outras economias emergentes. Quando as exportações engasgam, a economia sofre.
As exportações têm um papel ainda maior na economia alemã do que na japonesa. As exportações de bens correspondem a 41% do PIB alemão, o que ressalta uma dependência que cresceu rapidamente nos últimos 15 anos. É mais que o dobro da participação no Japão. Nos EUA, as exportações de bens representam menos de 10% do PIB. Mas em setembro as novas encomendas para exportações alemãs estavam em baixa de 18% em relação a seu recorde de novembro de 2007, o que prenuncia declínios acentuados no ano que vem.
Muitos bancos alemães investiram pesadamente em títulos hipotecários dos EUA e outros ativos de risco em outros países, e a crise bancária internacional forçou o governo alemão a lançar, no mês passado, um fundo de socorro do setor financeiro de até 500 bilhões de euros (US$ 624 bilhões).
Mas os problemas do setor financeiro não são o que está atrapalhando a economia alemã de modo geral, dizem economistas. Até agora, apenas 2% das empresas alemãs informaram ter algum pedido de crédito recusado recentemente, e apenas 23% relatam que seus bancos estão impondo condições mais rígidas para os empréstimos, segundo a Câmara Alemã de Indústria e Comércio. Em vez disso, a demanda por crédito está diminuindo porque as empresas têm cortado seus planos de investimento, mostram números do Bundesbank, o banco central alemão.
Embora o mercado de trabalho alemão mal tenha sentido o impacto da retração, ainda, economistas acreditam que um retorno ao desemprego crescente, a maior dor de cabeça da Alemanha no início da década, está no horizonte.
As montadoras BMW e Daimler anunciaram paralisações temporárias de produção em algumas fábricas, assim como a fabricante de autopeças Robert Bosch.
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