Cristiane Perini Lucchesi, de São Paulo
As empresas brasileiras já desmontaram a maior parte de suas posições vendidas em dólar no mercado futuro, mas o real não voltou a se apreciar como muitos analistas esperavam. "Isso mostra que os fatores externos, como a maior aversão ao risco, o desmonte de posições alavancadas de fundos de hedge e a falta de crédito em dólar são determinantes na formação da taxa de câmbio no Brasil hoje", diz Roberto Padovani, economista-chefe do WestLB no Brasil.
Ele está revisando seus números para o câmbio no final deste ano para R$ 2,10, na comparação com os R$ 2 antes esperados. O BNP Paribas, em relatório, fala que o real deve ficar nos níveis de R$ 2,10 a R$ 2,40 no curto prazo, por causa da repatriação de lucros e dividendos, desalavancagem e ajustes de balanço no mundo todo. Recomenda posições compradas em dólar. No dia 10, essas posições dos investidores estrangeiros chegaram a US$ 12,4 bilhões, próximo ao recorde de US$ 12,7 bilhões.
O Credit Suisse mudou sua projeção do câmbio para o final deste ano de R$ 1,65 para R$ 1,90 em meados de outubro e não descarta novas altas, para perto dos R$ 2. Para o final de 2009, mantém a estimativa de R$ 2, mas com vendas de um total de US$ 20 bilhões a serem realizadas pelo Banco Central e redução nas reservas internacionais para US$ 186 bilhões no final de 2009. No cenário de estresse do Credit Suisse, o dólar iria para R$ 2,50 no ano que vem e o Banco Central teria de vender um total de US$ 40 bilhões no mercado.
Ontem, o dólar subiu 1,5%, para R$ 2,2250, acumulando uma valorização de 3,01% no mês. O Banco Central vendeu apenas US$ 143,7 milhões no mercado futuro, por meio dos swaps cambiais, uma mostra que a demanda por dólar das empresas com posições em derivativos está fraca. O BC não atuou no mercado à vista, o que sinaliza a inexistência de fluxo de saída forte.
Para Padovani, assim que o mercado de crédito retomar no exterior os ativos de risco vão se tornar novamente atrativos e o real poderá se valorizar, pelo menos um pouco. Os investidores poderão então comprar ações no mercado brasileiro e tomar dinheiro emprestado em iene e investir em reais, ganhando com a diferença de juros e ficando com o risco cambial, como vinham fazendo antes de setembro. Ontem, essas posições em iene foram desmontadas e a moeda japonesa teve valorização de 2,5% em relação ao real. Outras moedas de emergentes perderam valor, principalmente da Rússia e da África do Sul. Para Padovani, é o fluxo na conta de capitais que mais determina a taxa de câmbio, a não ser em situações de estresse na conta corrente.
O time de economistas do Credit Suisse fez as contas e revisou sua projeção para os investimentos externos em títulos de renda fixa e ações de US$ 30 bilhões para US$ 10 bilhões em 2009. Passou a estimar ingressos de US$ 5 bilhões para ações, em relação ao total de US$ 17 bilhões anteriores, e de US$ 5 bilhões para renda fixa, na comparação com os US$ 13 bilhões previstos antes.
Com a crise externa, as previsões para o investimento externo direto dos economistas do Credit Suisse passaram de US$ 32 bilhões neste ano para US$ 20 bilhões em 2009. Os desembolsos de médio e longo prazos também vão cair, de US$ 29 bilhões em 2008 para US$ 20 bilhões no ano que vem.
Mas, com o Produto Interno Bruto crescendo menos no Brasil e a taxa de câmbio menos atrativa, a remessa de lucros e dividendos vai se reduzir, assim como os gastos com viagem no exterior. Com isso, o déficit em transações correntes de 2009 foi revisado pelo Credit Suisse para US$ 30 bilhões, na comparação com os US$ 29 bilhões de 2008.
A LCA Consultores, por enquanto, resolveu manter suas estimativas para o câmbio neste final de ano em R$ 1,95 na média de dezembro e também na média primeiro trimestre de 2009. Considera, no entanto, que se o câmbio não voltar aos níveis de R$ 2 nas próximas semanas, a tendência será de o Banco Central ter de retomar o ciclo de aperto monetário, "talvez já na reunião do Comitê de Política Monetária" de 10 de dezembro.
Padovani, como a maioria dos analistas, aposta que o BC vai manter a taxa Selic em 13,75% ao ano em dezembro.
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